06 Setembro 2018
Lula vai mesmo transferir votos para Haddad?
A estratégia do PT para vencer as eleições é uma incógnita. Por mais que analistas e especialistas de diversos espectros políticos ousem arriscar o resultado, não há absolutamente ninguém, nem mesmo Lula, capaz de garantir sua eficiência.
O artigo é de Tico Santa Cruz, músico, publicado por CartaCapital, 06-09-2018.
Os tempos são outros. Vivemos uma nova revolução, não se pode ignorar o poder da internet. Todavia, é preciso ponderar sobre como os algoritmos nos jogam em bolhas e nos dão a falsa sensação de realidade.
Lula saiu com uma aprovação de seu governo superior a 80%, elegeu Dilma - quando o continuísmo do PT naturalmente seria conduzido por José Dirceu, que acabou impossibilitado de ser candidato.
Naquele momento, Lula tinha muitos pontos a seu favor, mesmo pesando contra o partido a denúncia do mensalão. Motivo? A economia ia bem, os brasileiros estavam empregados, viajando, consumindo e a política era muito pouco discutida.
Na reeleição de Dilma, o antipetismo fazia parte do novo cenário. Após as manifestações de 2013, que foram muito mal interpretadas por setores da esquerda, praticamente entregando uma mobilização que era retrato da falta de representatividade política para que a direita pudesse cooptar a seu favor os indignados “com tudo aquilo que estava ali”. O resultado foi apertadíssimo e o País fraturou no meio.
Sem o apoio no Congresso, Dilma foi boicotada e suas pautas impedidas de ser votadas na tentativa de reabilitar a economia. Com maestria de quem sabe dar golpes como ninguém, a direita manipulou a sociedade, insuflou o antipetismo e sistematicamente fez muita gente acreditar que somente o PT seria o problema do Brasil.
Os resultados foram catastróficos. Um golpe foi efetivado com sucesso e a militância, ainda que com apoio de cidadãos que entenderam que ferir a democracia não fosse o melhor caminho, não obteve forças para barrar o impeachment. A esquerda foi criminalizada.
Todas as pautas posteriores apresentadas pelos golpistas tiveram sucesso, com exceção da reforma da previdência. Contudo, o povo começou a sentir na pele os resultados do desastroso movimento que colocou Temer no poder. Bolsonaro havia capitalizado, porém, boa parte dos antigos eleitores de Aécio e tomou pra si a narrativa de que será a “nova política”.
Apoiado em pautas morais, Bolsonaro cresceu e se aproveitou do crescimento exacerbado da violência pelo País, mesmo nunca tendo apresentado sequer uma pauta para colaborar com o combate a esta mazela social.
Será que Lula, preso após um julgamento político, diante de todas as evidências de que a sua condição foi estabelecida para que não pudesse concorrer às eleições, tem de fato a dimensão de como os setores que aplicaram o golpe tentarão impedir que ele consiga realizar a transferência de votos para eleger Haddad?
Será que Lula conseguirá driblar todas as evidências de que não tiraram o PT do poder dois anos atrás para permitir ao partido voltar ao governo?
Será que Lula consegue, de onde se encontra, observar, para além dos 40% que aparecem nas pesquisas, que os indecisos, nulos e brancos podem migrar no caso de um segundo turno com a presença do PT e a forte campanha midiática e político-judicial que permanece implacável até o momento?
Pergunto sob o olhar de alguém que ousou deixar de lado um pouco as bolhas de páginas do Facebook, grupos de Whatsapp e outras alternativas digitais que nos colocam numa percepção alterada da realidade e foi ouvir aqueles que antes sequer passavam por perto de meus olhos ou ouvidos.
O PT considera a força do antipetismo no segundo turno, fenômeno que pode levar à eleição de Bolsonaro? Ou se escora apenas na força incontestável da maior liderança progressista, diria eu, do mundo?
Lula está entre ser o mais genial estrategista da história política contemporânea e comandar um fiasco que poderá entregar o Brasil ao fascismo.
Quando um líder toma pra si essa responsabilidade, deve estar ciente das consequências, para o bem e para o mal.
Vamos aguardar os próximos capítulos.
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