E depois de Lula? Depois dele, que venham também os outros

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06 Abril 2018

A quem aplaude hoje a queda de Lula, alegando que ela revela que ao menos uma vez a Justiça brasileira demonstrou ser igual para todos, seria preciso perguntar: e os demais?

O comentário é de Juan Arias, jornalista, publicado por El País, 05-04-2018.

Eis o texto.

A política brasileira terá de se acostumar a viver oficialmente sem Lula, algo que até ontem parecia impossível. O líder carismático a ocupava quase por completo. Em sua luta contra a corrupção a Lava Jato o apanhou em suas redes e, além de o condenar à prisão, o impossibilita de disputar eleições que, com muita probabilidade, ganharia.

A quem aplaude hoje a queda de Lula, alegando que ela revela que ao menos uma vez a Justiça brasileira demonstrou ser igual para todos, seria preciso perguntar: E os outros? A Justiça, para atuar sem distinção de pessoas nem de credos políticos, não pode limitar-se a querer ver Lula na cadeia. Seria dar razão a quem acredita que se tratou de convertê-lo em bode expiatório no qual descarregar todos os males do país e, ao mesmo tempo, encurralar a esquerda para dar passagem à direita que pressiona para ocupar o centro da política.

A pergunta que se deve fazer para que a Justiça que julgou Lula não pareça sectária é: E os outros? Que depois de Lula venham os Temer, os Collor, os Aécio, os Renan, os Jucá e todos os políticos acusados de crimes iguais ou maiores que os de Lula, e que poderiam até acabar absolvidos nas urnas. Só então ficará claro que a Justiça não é seletiva e que pretende limpar a política de todas as suas escórias, sem distinção.

Há quem culpe os juízes de primeira instância por ter como alvo de suas condenações somente os políticos de esquerda, esquecendo que a responsabilidade reside, porém, no Supremo Tribunal Federal, já que se tratando de políticos com foro privilegiado somente essa corte pode julgá-los e condená-los. E é verdade que até agora, enquanto os tribunais de primeira instância se mostraram solícitos em condenar os sem foro, o Supremo, com sua parcimônia, para não chamar a isso de outro modo, ainda não condenou nem sequer um dos mais de cem políticos acusados também de corrupção.

A sociedade, com seu apoio à luta contra a corrupção política, contribuiu para que os poderosos comecem pela primeira vez a pagar suas culpas, algo a que o país não estava acostumado e que contribui para purificar a democracia e propiciar a confiança na Justiça. E até no exterior o Brasil é visto hoje como exemplo de um país em luta para purificar a velha política de seus pecados.

Tudo isso se esfacelaria, no entanto, se se tivesse a impressão de que com Lula na cadeia e o PT exangue o Brasil recupera sua virgindade perdida. A mesma sociedade que não sai à rua em protesto contra a condenação de Lula é a que deve exigir que a Justiça, do mesmo modo que não se deteve nos tribunais de primeira instância, não pode fechar os olhos nas cortes superiores onde os privilegiados com foro parecem contar com amizades e conivências que lhes permitem seguir em liberdade. Só então estaremos seguros de que é verdade que no Brasil a Justiça começou a atuar sem tirar a venda dos olhos, sendo igual para todos. Sem isso, Lula na prisão ou fora dela continuará sendo visto como um perseguido político ou um mártir de uma Justiça seletiva, e não como um condenado por ter usado a política com fins pouco republicanos para se enriquecer ou se perpetuar no poder.

É esta a hora de demonstrar à sociedade descrente na política que a Justiça está a seu lado para ajudá-la a purificar seus desvios sem olhar, na hora de julgar e condenar, nem para a esquerda nem para a direita. É essa a fé de que a sociedade necessita para recuperar a confiança perdida nos valores de uma democracia sem privilegiados, em vez de ser empurrada para a perda das poucas esperanças que ainda lhe podem restar em quem a governa.

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