05 Abril 2018
Talvez pela primeira vez uma dona de casa tenha galgado o palco do mundo midiático. Foi o que aconteceu na sexta Páscoa do Papa Francisco. Durante a homilia da Missa da Ressurreição de Jesus, na Praça de São Pedro, Bergoglio realizou uma meditação de improviso: "Aquela pessoa, corre, larga o que está fazendo, a própria dona de casa deixa as batatas na panela, e vai encontrá-las queimadas, mas o importante é ir, é correr para ver aquela surpresa, aquela anunciação. Hoje também acontece assim. Em nossos bairros, nas pequenas cidades quando algo extraordinário acontece, as pessoas correm para ver".
A reportagem é de Francesco Antonio Grana, publicada por Il Fatto Quotidiano, 03-04-2018. A tradução é de Luisa Rabolini.
Uma imagem que ilustra perfeitamente a simplicidade de Francisco, o seu ser um "pastor das ruas", como ele pediu aos sacerdotes de Roma na quinta-feira Santa, durante a missa crismal na Basílica de São Pedro. Um papa objeto também de muitas críticas, mais internas que externas, dentro da estreita geografia católica. Mas também existe o risco da absolutização desse pontificado, como, aliás, acabou acontecendo com São João Paulo II, naquele caso pelo longo reinado que durou 27 anos.
Um risco ao qual escapam Gerolamo Fazzini e Stefano Femminis em seu livro Francesco: Il Papa delle prime volte (Francisco: O Papa das primeiras vezes, San Paolo). "Domesticar - escrevem os dois autores - o alcance da sacudida que Bergoglio, o Papa das primeiras vezes, está tentando aplicar à Igreja Católica (e não só) é um perigo a ser evitado. Para alguns, que não digeriram a sua eleição, 'o novo que avança' assinado Francisco seria algo acidental, ligado à sua figura, ao seu passado (alguns diriam até mesmo as suas manias) e não, ao contrário, a escolhas proféticas e de longo alcance. O risco, então, é reduzir a quase um dado folclórico o volume das reformas e saudáveis provocações lançadas, em seus primeiros cinco anos como Papa, pelo jesuíta argentino que quis se chamar Francisco".
É evidente para todos que mais do que provocação, os convites de Bergoglio - sempre acompanhados, senão mesmo precedidos por gestos concretos - estão literalmente colocando de cabeça para baixo a Igreja católica. Um exemplo muito revelador é o dos corredores humanitários implementados de forma eficaz e constante pela Comunidade de Santo Egidio fundada há 50 anos por Andrea Riccardi e presidida por Marco Impagliazzo. Um compromisso que Francisco defende com o coração.
Ele mesmo, em seu retorno da viagem no campo de refugiados na ilha de Lesbos, levou em seu avião 12 pessoas que estavam alojados naquele lugar, todos muçulmanos. Refugiados confiados aos cuidados da Comunidade de Santo Egídio. "Os frutos da paz que temos na Europa - ressaltou recentemente Impagliazzo – são o acolhimento e a hospitalidade que vivemos hoje. Na cultura deles, a hospitalidade é fundamental. Hoje é para nós também e deve tornar-se cada vez mais em toda a cultura europeia".
Nesta sexta Páscoa em Roma, o olhar de Francisco se dirigiu aos jovens a quem será dedicado o Sínodo dos Bispos, que se realizará em outubro próximo, no Vaticano. É nessa perspectiva que a fundadora da Comunidade novos horizontes, Chiara Amirante, escreveu o livro Il grido inascoltato. SOS giovani (O grito não ouvido. SOS juventude, Orizzonti di Luce), de cujas páginas emerge uma fotografia dos atuais dramas existenciais dos adolescentes de hoje. Histórias de jovens que tiveram em primeira mão que experimentar o inferno da dependência de drogas, da dependência do sexo descartável, da dependência dos jogos, da anorexia, da dependência da internet ou das mídias sociais, dos abortos vividos ou das violências sofridas que marcaram suas vidas.
No final da Via Crucis na Sexta-Feira Santa no Coliseu - este ano animada justamente pelas meditações escritas por 15 jovens de Roma - o Papa quis ressaltar a sua esperança "para a Igreja, santa e feita de pecadores, contínua, ainda hoje, apesar de todas as tentativas de desacreditá-la, para ser uma luz que ilumina, incentiva, alivia e testemunha o amor infinito de Jesus para a humanidade, um modelo de altruísmo, uma arca de salvação e uma fonte de certeza e de verdade". Palavras que chegam em um momento em que o governo central da Igreja, e com ele as reformas projetadas por Francisco, estão sob intenso ataque.
Sem dúvida, para o Papa a página que se abre depois da Páscoa é muito delicada e importante. A partir das nomeações para a secretaria da Economia e secretaria para a Comunicação a ser renovada, até as demais reformas a serem postas em prática. O repúdio à pedofilia do clero e ao dinheiro sujo ainda estão na agenda. "Frutos de vida nova - desejou Francisco na mensagem de Páscoa Urbi et Orbi - Cristo Ressuscitado traga para as crianças que, por causa da guerra e da fome, crescem sem esperança, sem educação e cuidados de saúde; e também para os idosos descartados pela cultura egoísta que coloca de lado aqueles que não são 'produtivos''. Um ensinamento que o Papa está encarnando há cinco anos na cadeira de Pedro.
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Papa Francisco, o único Papa que fala de donas de casa na homilia de Páscoa - Instituto Humanitas Unisinos - IHU