Subsídio elaborado pelo grupo de biblistas da Escola Superior de Teologia e Espiritualidade Franciscana - ESTEF: Dr. Bruno Glaab, Me. Carlos Rodrigo Dutra, Dr. Humberto Maiztegui e Me. Rita de Cácia Ló. Edição: Dr. Vanildo Luiz Zugno.
Primeira Leitura: Gn 12,1-4a
Segunda Leitura: 2 Tm 1,8b-10
Salmo: Sl 32,4-5.18-20.22
Evangelho: Mt 17,1-9
A tradição da transfiguração é comum a todos os Sinóticos (Mt, Mc, Lc), tendo um dia específico no calendário litúrgico que é o 6 de Agosto. Mas, como ler esta narrativa na perspectiva da Quaresma? Ou na perspectiva da Campanha da Fraternidade cujo objetivo geral é: “Sensibilizar a sociedade e a Igreja para enfrentarem o flagelo da fome, sofrido por uma multidão de irmãos e irmãs, por meio de compromissos que transformem esta realidade a partir do Evangelho de Jesus Cristo”.
As narrativas mais antigas da transfiguração, Marcos e Mateus, dizem que isto teria acontecido “seis dias depois” (Mt 17,1 e Mc 9,2). Lucas queria ser mais “exato” e diga “oito dias”. Mas, por que contabilizar este tempo? A transfiguração é precedida por falas muito duras de Jesus: “quem realmente ele era” (Mt 16,13-20; Mc 8,27-30), “o primeiro anúncio de sua morte” (Mt 16,21-23; Mc 8,31-33) e “cada pessoa carregar sua cruz e renunciar a si mesma” (Mt 16,24-28). Estas palavras de Jesus fizeram que o mesmo Pedro declarara que ele era o Cristo e fosse chamado da “pedra” sobre a qual “construirei minha igreja” (Mt 16,16-18), mas, logo depois, de “satanás” e “pedra de tropeço” (Mt 16,23b). Parecem ser seis dias de silêncio quaresmal com a pergunta: seremos capazes de vivenciar tamanho desafio?
Jesus chama as lideranças para irem ao monte (Mt 17,1b). Diante da incapacidade de entender a total dimensão do projeto de Deus em Jesus – como mostra Pedro no versículo 4 – Jesus quer fortalecer as lideranças para que elas, por sua vez, possam animar as outras pessoas a ouvir a voz do “Filho Amado” e vencer o medo (Mt 17,4-7). Mesmo que nesse momento não seja possível compartilhar o que vivenciaram, estarão prontas quando chegar o momento da ressurreição e fique evidente a vitória de Jesus sobre a morte (v.9).
Mt 17,.2; assim como Marcos, afirma: “e transfigurou-se diante deles”. A palavra grega é metamorphosis, ou seja, Jesus fez uma “metamorfose”. Não teria apenas mudado sua “figura” (“transfiguração”), mas sua “forma” (“transformação”). O sinal disto, para a comunidade de Mateus, foi o brilho extremo do rosto – como o sol – e das roupas, que ficaram “brancas como a luz”. Assim, a visão de Mateus, revela em Cristo a força transformadora capaz de vencer toda morte e escuridão, assim como fazem o sol a luz.
Moisés é um líder que transformou muitas vidas, a começar pela sua própria, chamado a liderar a caminhada rumo a terra onde não haverá fome, pois correrá leite e mel (cf. Êx 3,7-12). Elias enfrentou a fome partindo da ação solidária junto a viúva de Serepta – uma mulher estrangeira – e seu filho (cf. 1 Rs 17,8-16). Assim, Moisés e Elias são provas do poder transformador de Deus nas situações mais adversas, e seu diálogo com Jesus ilumina o caminho rumo a libertação total e definitiva.
A primeira leitura (Gn 12,1-4a) mostra que desde o começo a caminhada com Deus foi transformadora da realidade. Abraão e sua família recebem o desafio, o chamado, a levar a bênção transformadora de Deus a todas as famílias da terra! Quando Paulo escreve a Timóteo lhe lembra que é portador de “uma vocação santa” a qual busca, segundo o projeto divino que em “Cristo Jesus (...) destruiu a morte e fez brilhar a vida e a imortalidade por meio do evangelho” (2 Tm 1,10b), assim como antes o fez com Abraão e sua família; Moisés e o povo escravizado; Elias e as pessoas famintas em tempos de seca e opressão; e que hoje nos desafia a fazer na Campanha da Fraternidade.