26 Julho 2022
O comentário é de Jose Antonio Pagola, teólogo espanhol, publicado por Religión Digital, 25-07-2022.
Uma das características mais marcantes da pregação de Jesus é a lucidez com que soube desmascarar o poder alienante e desumanizador contido nas riquezas.
A visão de Jesus não é a de um moralista que se preocupa com a forma como adquirimos nossos bens e como os usamos. O risco de quem vive desfrutando de suas riquezas é esquecer sua condição de filho de um Deus Pai e irmão de todos.
Daí o seu grito de advertência: « Não podeis servir a Deus e ao dinheiro ». Não podemos ser fiéis a um Deus Pai que busca justiça, solidariedade e fraternidade para todos e ao mesmo tempo viver dependentes de nossos bens e riquezas.
O dinheiro pode dar poder, fama, prestígio, segurança, bem-estar... solidariedade com os outros. Deus não pode reinar na vida de alguém que é dominado pelo dinheiro.
Foto: Vitaly Taranov | Unsplash
A raiz profunda é que as riquezas despertam em nós o desejo insaciável de ter sempre mais. E então cresce na pessoa a necessidade de acumular, capitalizar e possuir sempre cada vez mais. Jesus considera a vida daqueles proprietários de terras na Palestina, obcecados em armazenar suas colheitas em celeiros cada vez maiores, uma verdadeira loucura. É tolice dedicar as melhores energias e esforços para adquirir e acumular riqueza.
Quando, no final, Deus se aproxima do rico para recolher sua vida, fica claro que ele a desperdiçou. Sua vida carece de conteúdo e valor. "Tolice…". "Assim é aquele que acumula riquezas para si mesmo e não é rico diante de Deus".
Um dia, o pensamento cristão descobrirá com lucidez que hoje não temos a contradição profunda entre o espírito que anima o capitalismo e o espírito que anima o projeto de vida desejado por Jesus. Essa contradição não se resolve com a profissão de fé de quem vive com espírito capitalista ou com toda a caridade que pode fazer com seus lucros.
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“Um dia, o pensamento cristão descobrirá a profunda contradição entre o espírito que anima o capitalismo e o espírito que anima o projeto de vida desejado por Jesus” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU