"No batismo, Jesus inicia oficialmente sua missão, ou seja, sua vida pública. Ele agora entrou na caminhada dos/as discípulos/as, recebendo o batismo como as demais pessoas, isto é, caminha lado a lado com elas. Jesus ora e é confirmado pelo Espírito Santo que desce sobre ele e pelo Pai que, rasgando o céu, envia sua voz sobre o Filho. Nele se realiza a plena vontade do Pai, como também se atesta na transfiguração (Lc 9,35). Ele é o pleno revelador de Deus (Lc 10,22). O povo pode confiar, pois ele tem o aval do Pai. Pode-se ver neste ato uma versão sinótica do dito de Jesus: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vai ao Pai, a não ser por mim” (Jo 14,6)."
O subsídio é elaborado pelo grupo de biblistas da Escola Superior de Teologia e Espiritualidade Franciscana – ESTEF:
- Dr. Bruno Glaab
- Me. Carlos Rodrigo Dutra
- Dr. Humberto Maiztegui
- Me. Rita de Cácia Ló
Edição: Prof. Dr. Vanildo Luiz Zugno
Primeira Leitura: Is 42,1-4.6-7
Segunda Leitura: At 10,34-38
Salmo: 28,1a.2.3ac-4.3b.9b-10
Evangelho: Lc 3,15-16.21-22
O Evangelho
No batismo, Jesus inicia oficialmente sua missão, ou seja, sua vida pública. Ele agora entrou na caminhada dos/as discípulos/as, recebendo o batismo como as demais pessoas, isto é, caminha lado a lado com elas. Jesus ora e é confirmado pelo Espírito Santo que desce sobre ele e pelo Pai que, rasgando o céu, envia sua voz sobre o Filho. Nele se realiza a plena vontade do Pai, como também se atesta na transfiguração (Lc 9,35). Ele é o pleno revelador de Deus (Lc 10,22). O povo pode confiar, pois ele tem o aval do Pai. Pode-se ver neste ato uma versão sinótica do dito de Jesus: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vai ao Pai, a não ser por mim” (Jo 14,6).
Em Lc 3,15-16, são confirmadas as expectativas messiânicas do povo que vai até João Batista. Lucas, valendo-se da promessa do AT, esclarece que João não é o Messias esperado, mas que ele aponta para o verdadeiro realizador da nova aliança: Jesus. Ele diz isto de forma simbólica pela figura das sandálias: Em Dt 25,5ss se narra a lei do levirato, ou lei do cunhado (ao homem que não quer assumir em casamento a viúva de seu irmão falecido, tira-se-lhe a sandália, cospe-se no rosto...). Jesus, o que está por vir, não renuncia ao direito de ser o esposo da Nova Aliança, por isso, João não precisa desamarrar a sandália dele (Dt 25,9) e deixar que outro assuma este papel. João batiza de forma precária (água), mas Jesus vai batizar com o Espírito Santo e com fogo (cf. Is 4,4; Jr 4,11-12 fogo purificador). Em outras palavras, o realizador das esperanças messiânicas, da Nova Aliança, é Jesus, não João. Ele é apenas amigo do esposo desta Nova Aliança (Jo 3,29-30). Por isto mesmo, as comunidades viram no batismo de João apenas uma preparação. O batismo de João, na realidade, ainda não é o batismo de verdade (água). O verdadeiro batismo é o de Jesus, que será complementado no Espírito e no Fogo (Pentecostes – At 2,1-13). Convém aqui lembrar que, em At 19,1ss, Paulo se confronta com uma comunidade batizada apenas no batismo de João. O Apóstolo diz claramente que este não era o verdadeiro batismo, mas uma preparação. Paulo batiza estas mesmas pessoas novamente.
O relato do batismo de Jesus, na versão de Lc 3,21-22, difere em alguns detalhes de Mt 3,13-17 e de Mc 1,9-11. Não se narra o diálogo de Jesus com João (cfr. Mt 3,13ss). Jesus está anônimo entre o povo. Ele se esvaziou para assumir a vida com o povo (Fl 2,6-11). O testemunho que recebe do Pai e do Espírito confirma sua missão. O Espírito em forma de pomba lembra a esperança de vida nova do fim do dilúvio (Gn 8,12) e o amor do casal apaixonado (Ct 2,10), ou seja, o Espírito e o fogo anunciado por João, em Jesus se tornou o Espírito manso, na forma de pomba.
A voz do Pai, lembra o Sl 2,7, mas também, Is 63,15.19, ou seja, em Jesus, o céu se abriu e Deus voltou a falar depois de longo silêncio, agora de forma plena, como nunca antes o fizera. Em Jesus, Deus está próximo dos/as discípulos/as para sempre. Nele, é Deus que fala.
Aqui convém apontar que Mc 1,11 e Mt 3,17 dizem: “Meu filho amado, em quem me comprazo”, o que se inspira em Is 42,1ss. Muitos manuscritos antigos de Lc 3,22 traduzem: “Tu és meu filho, eu hoje te gerei”, o que seria inspiração de Sl 2,7, em vez de Is 42,1ss. Porém, em boa parte das traduções bíblicas atuais, aparece a mesma tradução de Marcos e Mateus, pois alguns antigos manuscritos harmonizaram este versículo, mas provavelmente Lucas diferia de Mateus e de Marcos. Seria uma mudança de perspectiva: Mateus e Marcos pensam Jesus como o Servo, já Lucas o apresentaria como Rei e Messias.
Os teólogos do NT releram a pessoa de Jesus à luz de Is 42,1ss. Ele é o Servo, o escolhido, a plena realização dos desejos do Pai, aquele que leva o direito e a justiça às nações. Assim, o que o profeta disse por volta dos anos 550 a.C. se realiza agora na pessoa de Jesus de forma inconteste. Esta missão universal de Jesus, segundo Pedro (At 10,34-38), iniciou-se na Galiléia, depois do batismo de João e se estendeu por toda parte realizando as obras do Pai.