João Batista era a voz. Jesus, a Palavra

João Batista. | Imagem: Divulgação/Wikimedia Commons

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04 Dezembro 2020

Publicamos aqui o comentário de Enzo Bianchi, monge italiano fundador da Comunidade de Bose, sobre o Evangelho deste 2º Domingo do Advento, 6 de dezembro de 2020 (Marcos 1,1-8). A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis o comentário.

Também neste domingo, a Palavra proclamada na liturgia nos convida a nos prepararmos para a vinda do Senhor. Mas se no Primeiro Domingo do Advento pedia-se a vigilância, hoje solicita-se dos cristãos a conversão, o retorno a Deus, uma mudança de mentalidade e de vida capaz de mostrar a diferença do cristão em relação a quem não tem o dom da fé.

É preciso preparar uma estrada para o novo êxodo que o próprio Senhor abrirá (cf. Is 40,1-5); é preciso se converter nos dias de vida que o Senhor concede a cada um de nós, de modo a esperar em céus novos e terra nova; é preciso pôr-se à escuta da pregação de João Batista que, como autêntico profeta, proclama uma palavra que vem de Deus e fere o coração de quem o escuta, abrindo-o ao grande dom da conversão que liberta (cf. Mc 1,4).

No tempo do Advento, duas figuras, com a sua vida e a sua história, aparecem aos nossos olhos como as testemunhas que tudo predispõem para a vinda do Senhor: João, chamado “o precursor”, aquele que caminha na frente do Messias, e Maria, a mãe do Messias, aquela que o carregou em seu ventre.

João se manifesta como enviado de Deus segundo a profecia de Isaías (cf. Is 40,3): no deserto, ele não organiza reuniões multitudinárias ao seu redor, pelo contrário, desencoraja e adverte quem o busca apenas para fugir mais uma vez das exigências postas pelo encontro com o Senhor: “Quem vos ensinou a fugir da ira que está para chegar? Produzi fruto dignos de conversão” (Mt 3,7-8). Tendo-se feito “voz”, ele grita e pede resolutamente o compromisso pessoal perante o Senhor, anuncia Aquele que vem, o Senhor que imergirá os fiéis não só na água – como ele faz – mas também no Espírito Santo (cf. Mc 1,8).

Para o Evangelho segundo Marcos, o aparecimento de João no deserto marca, sim, o início da boa notícia a respeito de Jesus Cristo, mas também é a figura sumária de todo o Antigo Testamento. João aparece e inicia a sua pregação para cumprir toda a profecia: ele está vestido, vive e prega como um profeta, é o novo Elias (cf. Mc 1,6)! Aquela profecia que, há cinco séculos, estava calada em Israel reemerge novamente em João, reencontra nele a sua voz.

E eis o grande consolo para o povo do Senhor: a salvação, o êxodo, a saída da opressão é anunciada e está prestes a ser cumprida pelo Senhor que vem.

Mesmo após a vinda do Senhor na carne em Jesus de Nazaré, os cristãos devem permanecer à espera daquela Vinda que acontecerá na glória, não no segredo da fé, e que se manifestará a toda a criação. Por isso, aqui e hoje, todo cristão é chamado a preparar uma estrada nas areias do seu coração para endireitar o caminho e retornar à via que conduz ao Senhor: trata-se de preencher as lacunas do próprio comportamento, de rebaixar as colinas do orgulho e da autossuficiência arrogante (cf. Lc 3,5; Is 40,4). É um agir concreto, que deve encontrar visibilidade na vida do cristão: só assim a estrada percorrida pelo Senhor e por nós em vista do encontro será sem obstáculos!

A voz de João, ontem como hoje, é a voz dos profetas, homens e mulheres que Deus nunca permite que faltem à sua Igreja. Muitas vezes, lamentamo-nos da ausência de profetas ao nosso redor, mas deveríamos nos perguntar se isso não depende da nossa incapacidade de ouvir a sua voz que pede conversão. É muito mais fácil dar ouvidos às vozes sedutoras de quem diz: “Vai tudo bem na Igreja! Vai tudo bem na sociedade!”, do que escutar quem nos incomoda, nos convence do pecado e nos chama à conversão.

Sim, João dirige a sua mensagem também a nós, hoje, porque Cristo ainda é Aquele que vem; João é o Elias que precede o retorno do Senhor no fim dos tempos: e nós estamos no fim dos tempos.

 

 

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