10 Janeiro 2020
Jesus foi da Galileia para o rio Jordão, a fim de se encontrar com João e ser batizado por ele. Mas João procurava impedi-lo, dizendo: «Sou eu que devo ser batizado por ti, e tu vens a mim?» Jesus, porém, lhe respondeu: «Por enquanto deixe como está! Porque devemos cumprir toda a justiça.» E João concordou.
Depois de ser batizado, Jesus logo saiu da água. Então o céu se abriu, e Jesus viu o Espírito de Deus, descendo como pomba e pousando sobre ele. E do céu veio uma voz, dizendo: «Este é o meu Filho amado, que muito me agrada.»
Leitura do Evangelho de Mateus, capítulo 3,13-17 (Correspondente à celebração do Batismo de Jesus, ciclo A do Ano Litúrgico).
O comentário é de Ana Maria Casarotti, Missionária de Cristo Ressuscitado.
Há poucos dias celebramos o Natal, o nascimento de Jesus, sua presença no meio de nós, e neste domingo a liturgia convida-nos a celebrar o Batismo de Jesus. Com este relato inicia-se a vida pública de Jesus. Abandona sua cidade, seus conhecidos, sua terra e dirige-se ao Jordão, onde João está batizando: “Jesus foi da Galileia para o rio Jordão, a fim de se encontrar com João e ser batizado por ele”.
Jesus teve que percorrer quase cem quilômetros para ir ao encontro de João. Não temos muitos dados sobre esta viagem, mas cada um dos evangelistas descreve o batismo como um fato crucial no começo do evangelho. Jesus já tinha ouvido falar do Batista e possivelmente conhecia a importância da sua pregação no deserto da Judeia e seu chamado à conversão. “Convertam-se, porque o Reino do Céu está próximo.” Ele já tinha sido anunciado pelo profeta Isaías como a voz que grita no deserto: “Preparem o caminho do Senhor, endireitem suas estradas!”
A chegada do Messias era largamente esperada e desejada porque ele seria o Libertador do poder do inimigo e do adversário e os transformaria numa grande nação.
Jesus abandona sua terra, aquilo que é conhecido, para ir ao encontro do novo, para cumprir uma missão que irá descobrindo durante sua vida. Neste simples gesto de Jesus, cada um e cada uma de nós somos chamados a seguir seu exemplo: deixar aquilo que é conhecido e seguro para ir ao encontro do desconhecido, na busca da vontade do Pai, depositando nele nossa confiança e fidelidade. A atitude de Jesus converte-se assim no modelo a seguir!
“Jesus saiu da água” e “o céu se abriu”. O evangelista deixa claro que depois de ser batizado acontece uma realidade nova, surpreendente. Jesus sai da água e nesse momento o céu se abriu. Os céus abertos significam esperança no Antigo Testamento. Lembremos o texto de Isaías,“Quem dera rasgasses o céu para descer! Diante de ti as montanhas se derreteriam” (Is 63 19). Em Jesus os céus se rasgam e o céu desce! Ele é assim o depositário da voz do Pai para os homens e as mulheres, destruindo para sempre a separação entre Deus e os homens. Já não há mais distância.
Para escutar a voz do Pai sobre nossas vidas e sobre a vida de tantas pessoas que estão ao nosso redor, devemos fazer silêncio interior. Por isso, neste domingo, somos convidados a escutar essa voz silenciosa mas potente, que deposita em cada pessoa humana sua paternidade amorosa, confiando-lhe uma missão única e intransferível. Como Jesus, deixemo-nos conduzir pelo Espírito que nos faz nascer de novo e sinala o caminho que nos leva à vida plena.
Em teu Filho Jesus te ex-puseste,
saíste da eternidade à intempérie dos tempos,
e em uma herança corrompida,
divino e humano conosco,
aninhou teu amor um voo
de asas solidárias girando até a altura,
elevando sem fim o horizonte.
Em teu Filho Jesus te ex-puseste,
te encarnaste para dizer-te perto,
na inaudita pretensão de ser
todas as línguas e cores
em uma carne mortal e reduzida,
de ser uma parábola inesgotável
de matizes infinitos pelos séculos,
chegando viva e nova para todos
até o umbral dos sentidos.
Em teu Filho Jesus te ex-puseste
te arriscaste no lugar mais baixo
vigiado, excluído e fracassado,
para oferecer-nos a Vida
em encontros vulneráveis,
na face sem falsidade,
às vezes beijado como amigo
e no final triturado sem remédio
até a morte e o escárnio.
Em teu Filho Jesus te ex-puseste,
não te impuseste com teofanias
de fogos e espantos siderais,
nem com a sedução astuta,
nem com o poder armado,
porque somente em encontros
livres podem engendrar-se
auroras para ressurgir
desde a noite
mais divinamente amanhecidos.
Benjamin González Buelta
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“O céu se abriu” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU