• Início
  • Sobre o IHU
    • Gênese, missão e rotas
    • Sala Ignacio Ellacuría e Companheiros
    • Rede SJ-Cias
      • CCIAS
      • CEPAT
  • Programas
    • Observasinos
    • Teologia Pública
    • IHU Fronteiras
    • Repensando a Economia
    • Sociedade Sustentável
  • Notícias
    • Mais notícias
    • Entrevistas
    • Páginas especiais
    • Jornalismo Experimental
    • IHUCAST
  • Publicações
    • Mais publicações
    • Revista IHU On-Line
  • Eventos
  • Espiritualidade
    • Comentário do Evangelho
    • Ministério da palavra na voz das Mulheres
    • Orações Inter-Religiosas Ilustradas
    • Martirológio Latino-Americano
    • Sínodo Pan-Amazônico
    • Mulheres na Igreja
  • Contato
close
search
  • Início
  • Sobre o IHU
    • Gênese, missão e rotas
    • Sala Ignacio Ellacuría e Companheiros
    • Rede SJ-Cias
      • CCIAS
      • CEPAT
  • Programas
    • Observasinos
    • Teologia Pública
    • IHU Fronteiras
    • Repensando a Economia
    • Sociedade Sustentável
  • Notícias
    • Mais notícias
    • Entrevistas
    • Páginas especiais
    • Jornalismo Experimental
    • IHUCAST
  • Publicações
    • Mais publicações
    • Revista IHU On-Line
  • Eventos
  • Espiritualidade
    • Comentário do Evangelho
    • Ministério da palavra na voz das Mulheres
    • Orações Inter-Religiosas Ilustradas
    • Martirológio Latino-Americano
    • Sínodo Pan-Amazônico
    • Mulheres na Igreja
  • Contato
search

##TWEET

Tweet

“Cair na psicologia da sobrevivência é como "esperar o rabecão", o carro fúnebre”. Encontro do Papa com padres, religiosos, seminaristas e Diáconos Permanentes, em Bolonha

Mais Lidos

  • O desastre de uma megaoperação no Alemão e na Penha de um governo que terceiriza o seu comando. Artigo de Jacqueline Muniz

    LER MAIS
  • “É muita crueldade fazer uma operação como essa. Eles não estão nem aí. Querem mesmo destruir tudo. Se pudessem, largariam uma bomba, como fazem em Gaza, para destruir tudo de uma vez”, afirma o sociólogo

    Massacre no Rio de Janeiro: “Quanto tempo uma pessoa precisa viver na miséria para que em sua boca nasça a escória?”. Entrevista especial com José Cláudio Alves

    LER MAIS
  • Bolsonarismo pode eleger 44 senadores em 2026 e se tornar majoritário, diz Real Time Big Data

    LER MAIS

Vídeos IHU

  • play_circle_outline

    30º Domingo do Tempo Comum - Ano C - Deus tem misericórdia e ampara os humildes

close

FECHAR

Revista ihu on-line

Um caleidoscópio chamado Rio Grande do Sul

Edição: 556

Leia mais

Entre códigos e consciência: desafios da IA

Edição: 555

Leia mais

A extrema-direita e os novos autoritarismos: ameaças à democracia liberal

Edição: 554

Leia mais

COMPARTILHAR

  • FACEBOOK

  • Twitter

  • LINKEDIN

  • WHATSAPP

  • IMPRIMIR PDF

  • COMPARTILHAR

close CANCELAR

share

03 Outubro 2017

Às 14h40, no domingo passado, 01-10-2017, o Papa Francisco chegou à Catedral de São Pedro, em Bolonha para o encontro com sacerdotes, religiosos e seminaristas do Seminário Regional e diáconos permanentes.

Após o discurso de boas vindas de D. Matteo Maria Zuppi, Arcebispo de Bolonha, o Santo Padre respondeu de improviso a duas perguntas.

A íntegra das perguntas e respostas do Papa Francisco é publicada pela Sala de Imprensa do Vaticano, 02-10-2017. A tradução é de Luisa Rabolini.

Eis o texto.

Respostas do Santo Padre Francisco:

Boa tarde!

Eu agradeço a sua presença, para mim é um consolo estar com os consagrada, os sacerdotes, os diáconos, com aqueles que levam adiante - em parte, existem também os leigos, mas em maior parte - o apostolado da Igreja, e com os religiosos, porque são eles que procuram nos dar o testemunho de antimundanidade. Muito obrigado. Escolhi como método, para ser mais espontâneo, que vocês encaminhem as perguntas e eu respondo. Recebi muitos projetos de perguntas, mas são essas duas que serão respondidas.

Sacerdote:

Santo Padre, eu estou aqui para apresentar uma das perguntas, das tantas que vieram dos sacerdotes, diáconos, consagrados e consagradas. Jesus enviou seus apóstolos dois a dois à frente dele para cada cidade e lugar que ele pretendia visitar (cf. Lc 10,1). Como é possível expressar, como pode crescer essa exigência evangélica da fraternidade em nossas vidas como presbíteros? Obrigado.

Papa Francisco:

O centro da pergunta é a fraternidade na vida dos presbíteros. Essa fraternidade se expressa no presbitério. Mas vamos mais longe. Às vezes, brincando entre os religiosos e os sacerdotes diocesanos, os diocesanos dizem: "Eu sou da ordem fundada por São Pedro" – ou seja, da ordem verdadeira - "vocês, vocês foram fundados por tal santo, tal beato, e assim por diante" . É assim, não é? Mas qual é o centro, qual é precisamente o cerne da espiritualidade da vida do presbítero diocesano? A diocesaneidade. Não podemos julgar a vida de um padre diocesano sem nos perguntar como ele vive a diocesaneidade. E a diocesaneidade é uma experiência de pertencimento: você pertence a um corpo que é a diocese. Isso significa que você não é um "líbero" como no futebol, você não está livre (‘líbero’ em italiano) - no futebol amador existe o líbero. Não, você não é um "líbero". Você é um homem que pertence a um corpo, que é a diocese, à espiritualidade e à diocesaneidade daquele corpo; e assim é também o conselho presbiteral, o corpo presbiterial. Eu acho que nos esquecemos disso muitas vezes, porque sem cultivar esse espírito de diocesaneidade tornamo-nos demasiado "individuais", muitos sozinhos com o perigo de também nos tornarmos infecundos ou com algum ... - vamos dizer isso gentilmente - nervosismo, ficamos um pouco irritados para não dizer neuróticos, quase como ranzinzas ‘solteirões’. É o padre sozinho, o que não tem aquela relação com o corpo presbiteral. "Vae soli!" diziam os Padres do deserto (ver Eclesiastes 4:10 Vulg.), "Ai daqueles que estão sozinhos", porque vão acabar mal. E por isso é importante cultivar, fazer crescer a sensação de diocesaneidade, que também tem uma dimensão de sinodalidade com o bispo. Aquele corpo tem uma força especial e aquele corpo precisa sempre avançar com transparência. O compromisso com a transparência, mas também a virtude da transparência. A transparência cristã como a vive Paulo, ou seja, a coragem de falar, de dizer tudo. Paulo sempre ia em frente com essa coragem, usava a palavra "parrésia", ir em frente. A coragem de falar; e também a coragem da paciência, de suportar, de portar-sobre, sobre os ombros: a hypomenein, a hypomoné. As duas virtudes que Paulo usava para fazer a descrição do homem da Igreja. E essa coragem de falar e a coragem da paciência são necessárias, para viver a diocesaneidade. A coragem de falar. "Mas não, é melhor não falar ...".

Lembro-me de quando eu era um estudante de filosofia, um velho jesuíta, bem astuto, bom, mas um pouco astucioso demais, aconselhou-me: "Se você quiser sobreviver na vida religiosa, pensa de forma clara, sempre; mas fala sempre de forma obscura". É uma forma de hipocrisia clerical, vamos colocar assim. "Não, eu penso assim, mas tem o bispo, ou tem o vigário, ou aquele outro... melhor ficar calado... e depois me acerto com os meus amigos". Isso é falta de liberdade. Se um sacerdote não tem a liberdade da pan-rein, da parrésia, não vive bem a diocesaneidade; não é livre, e para viver a diocesaneidade é preciso liberdade. E, depois, a outra virtude é a de suportar. Suportar o bispo sempre. Todos nós bispos temos as nossas [deficiências], todos; cada um de nós tem seus próprios defeitos. Suportar o bispo. Suportar os irmãos: eu não gosto desse... não gosto do que aquele diz... olhe para isso...olhe para aquilo. É interessante, aquele que não tem a liberdade de falar, a coragem de falar na frente de todos, tem um comportamento 'baixo,' de falar mal às escondidas. Ele não tem paciência de suportar em silêncio, ele não tem paciência de "portar-sobre" em silêncio. E devemos fazer de tudo para ter a virtude de dizer as coisas cara a cara, com cautela, mas dizê-las. É verdade, se eu não concordo com um irmão em uma reunião, eu não digo 'você é um desgraçado’, não, mas 'eu não concordo, porque eu penso assim e assim' sem insultar.

Mas dizer o que penso, livremente. E depois, se tem alguém que me incomoda e sempre volta com as mesmas histórias e talvez estraga uma reunião, a paciência, a paciência para suportar. Nisso nos ajuda muito a pensar em Deus, que por Jesus Cristo, teve paciência, ou seja, suportou tudo por nós.

Diocesaneidade que tem aquela virtude do falar claro que nos torna livres, e também a outra virtude da paciência.

Mas também existe o povo de Deus, que não entra no colégio presbiterial, mas entra na Igreja diocesana. E viver a diocesaneidade é também viver com o povo de Deus O sacerdote precisa se perguntar: como é a minha relação com o povo santo de Deus? E ali reside um defeito bem ruim, um mau defeito que deve ser combatido: o clericalismo. Caros sacerdotes, nós somos pastores, pastores de povo, e não clérigos do Estado. Penso naquele tempo, na França, na época das cortes, com o "Monsieur l'Abbé", clérigo de Estado; mas sem ser um "Monsieur l'Abbé," há tantos clérigos de Estado, que são funcionários do sagrado, mas o relacionamento com as pessoas é - esse é um "papelão" - quase como aquele entre o patrão e o operário: eu sou o clérigo e você é ignorante. Mas, pensem nisso, o nosso clericalismo é muito forte, muito forte; e é preciso uma conversão grande, continua, para sermos pastores. Nós acabamos de ler - eu não sei se também na Liturgia italiana, porque eu continuo com o Breviário argentino – o De pastoribus [de Santo Agostinho] no Ofício das Leituras, e ali se vê claramente que Agostinho nos mostra como é um pastor, mas não um clerical, um pastor do povo, que não significa um populista, não, pastor do povo, que está perto das pessoas, porque foi enviado para lá para fazer crescer o povo, para ensinar o povo, para santificar o povo, e ajudar as pessoas a encontrar Jesus Cristo. Em vez disso, o pastor que é demasiadamente clerical assemelha-se muito com os fariseus, aqueles doutores da lei, aqueles saduceus do tempo de Jesus: só a minha teologia, o meu pensamento, o que deve ser feito, o que não se deve fazer, fechados ali, e o povo está lá; nunca entra em contato com a realidade de um povo.

Hoje gostei muito do almoço, nem tanto porque a lasanha estava muito boa, mas gostei porque estava lá o povo de Deus, até mesmo os mais pobres, ali, e os pastores estavam ali, entre o povo de Deus. O pastor deve ter uma relação - e esta é a sinodalidade - uma tríplice relação com o povo de Deus, estar na frente, para mostrar o caminho, vamos chamar de pastor catequista, o pastor que ensina o caminho; no meio, para conhecer seu povo: proximidade, o pastor está próximo, no meio do povo de Deus; e também atrás, para ajudar aqueles que se atrasam e até mesmo para deixar que às vezes o povo veja - porque sabe "farejar" bem o povo - veja qual o caminho a escolher: as ovelhas têm o faro para saber onde há pastagens boas. Mas não só atrás, não. Deve mover-se nas três [posições]: na frente, no meio e atrás. Um bom pastor deve fazer esse movimento.

Resumo, para não esquecer. A relação da diocesaneidade, a relação entre nós, sacerdotes, a relação com o bispo, com a coragem de falar sobre tudo, a coragem de suportar tudo. A relação com o povo de Deus, sem ao qual se cai no clericalismo, um dos pecados mais fortes - Agostinho, em De pastoribus, descreve tão bem o clericalismo, tão bem - e no povo de Deus nessas três posições: na frente do povo de Deus, como figura, como catequista, para mostrar onde está o caminho; no meio, para conhecer, para compreender como são as pessoas; e atrás, para ajudar aqueles que ficam [no fundo] e também para deixar alguma liberdade e ver como vai o 'faro' do povo de Deus na escolha da boa grama.

Além disso, é triste quando um pastor não tem como horizonte o povo, o povo de Deus; quando não sabe o que fazer. É muito triste quando as igrejas permanecem fechadas - algumas devem permanecer fechadas - ou quando se vê uma placa na porta 'de tal hora a tal hora', então não tem ninguém. Confissões apenas em tal dia, de tal hora a outra. Mas, não é um escritório do sindicato! É o lugar aonde se vai para adorar o Senhor. Mas se um fiel quiser adorar o Senhor e encontra a porta fechada, aonde ele pode ir? Pastores com horizonte nas pessoas: isso significa [questionar-se]: como faço para estar perto de meu povo? Às vezes penso nas igrejas que estão em ruas muito movimentadas, fechadas; e alguns párocos fizeram a experiência de abri-las, e garantir que sempre estivesse disponível um confessor, com a luz acesa sobre o confessionário. E aquele confessor não terminava nunca de confessar. As pessoas veem a porta aberta, entram, veem a luz acesa e vão. Sempre a porta aberta, sempre com aquele serviço para o povo de Deus.

Tudo isso é a diocesaneidade.

Agora, eu gostaria de falar de dois vícios, vícios que estão em toda parte - eu não sei, talvez em Bolonha não existam, graças a Deus, mas em todos os lugares podem ser vistos, não todos, alguns.

Um é pensar no serviço presbiteral como carreira eclesiástica. Na vida dos santos - aqueles antigos – dizia-se: "E naquela idade sentiu o chamado para a carreira eclesiástica". É uma forma de falar de outros tempos. Mas eu não quero dizer isso, eu refiro-me a uma verdadeira atitude de "alpinista". Isso é uma "praga" em um presbitério. Existem duas "pragas" fortes: esta é uma. Os alpinistas, que procuram galgar seu caminho e sempre têm as unhas sujas, porque sempre querem subir. Um alpinista é capaz de criar muitas discórdias no seio de um corpo presbiteral. Pensa na carreira: "Agora eu termino nessa paróquia e vão me dar outra maior”. É interessante o alpinista, quando ele termina em uma e o bispo dá-lhe outra não tão 'alta', mas 'inferior', ele se ofende. Ele se ofende! "Não, agora me cabe aquela outra!" Não te cabe nada, a ti cabe apenas o serviço. Precisamos falar as coisas assim, claramente. Os alpinistas fazem um grande mal para a união comunitária do presbitério, tanto mal, porque estão na comunidade, mas só fazem isso para avançar.

O outro vício frequente é a fofoca. "Mas aquele ...Você viu isso ...Fala-se isso ...Diz-se aquilo...". E a reputação do irmão padre fica manchada, acaba ficando suja, a reputação está arruinada. Destruir a reputação dos outros. A fofoca é um vício, um vício “de clausura”, como costumamos dizer. Quando há um presbitério, onde há muitos homens com a alma fechada, acabam surgindo fofocas, se fala mal dos outros. "Deus, eu te agradeço porque não sou como os outros, e nem como este publicano" (cf. Lc 18,11), "Graças a Deus que não sou como aquele!". Este é o refrão da fofoca, inclusive da fofoca clerical. O alpinismo e as fofocas são dois vícios próprios do clericalismo.

Como pode expressar-se e crescer essa exigência evangélica de fraternidade na vida dos presbíteros? Vivendo a diocesaneidade, com a coragem de falar claro sempre e suportar os outros; com uma boa relação com o povo de Deus, tanto na frente, para mostrar o caminho, como no meio, nas proximidades das obras de caridade, como atrás, para ver como vai o povo e ajudar aqueles que estão atrasados; e fugindo de toda forma de clericalismo, porque os dois piores vícios que o clericalismo possui são o alpinismo e as fofocas.

Eu não sei se eu respondi a pergunta. Diocesaneidade, este é o carisma próprio de um sacerdote diocesano e diocesaneidade significa isso que acabei de dizer. Obrigado.

Segunda pergunta [de um religioso]:

Santo Padre, uma pergunta para a vida religiosa, mas acredito que não seja apenas para a vida religiosa. O senhor ensina-nos a sermos testemunhas de alegria e esperança como consagrados, que é preciso fugir da psicologia da sobrevivência e colocar-se com Jesus no meio de seu povo, tocando as feridas de Jesus nas feridas do mundo. O senhor nos deu muitos estímulos nestes últimos anos. Mas - diga-nos - quais são os passos mais importantes a realizar para colocar-se definitivamente nessa perspectiva? Obrigado.

Papa Francisco:

Cair na psicologia da sobrevivência é como "esperar o rabecão", o carro fúnebre. Esperamos que chegue o rabecão e leve embora a nossa instituição. É um pessimismo 'polvilhado' de esperança, não é digno de homens e mulheres de fé, isso. Na vida religiosa, "esperar o rabecão" não é uma atitude evangélica: é uma atitude de derrota. E, enquanto esperamos o carro fúnebre, nós arranjamos como podemos e, por segurança, pegamos algum dinheiro para ter segurança. Esta psicologia da sobrevivência leva à falta de pobreza. A procurar a segurança no dinheiro. Às vezes se escuta: "Na nossa instituição já somos idosas - ouvi de algumas irmãs, isso – somos idosas e não existem vocações, mas temos alguns bens, para nos garantir até o fim". E esta é a forma mais certeira de nos levar à morte. A segurança na vida consagrada, não é dada pelas vocações, nem pela abundância de dinheiro; a segurança vem de outra parte. Eu não quero dizer coisas que todo mundo sabe por ofício, mas apenas falo as coisas que se veem.

Algumas congregações que encolhem, encolhem e os bens aumentam. Você vê aqueles religiosos ou religiosas, apegados ao dinheiro como segurança. Este é o cerne da psicologia da sobrevivência, isto é, eu sobrevivo, estou em segurança, porque tenho dinheiro. O problema não está tanto na castidade e na obediência, não. Está na pobreza.

O peixe começa a se estragar pela cabeça e à vida consagrada começa a ser corrompida pela falta de pobreza. E é realmente assim. Santo Inácio chamava a pobreza de "mãe e muro" da vida religiosa; "Mãe" porque gera a vida religiosa, e "muro" porque a defende de toda mundanidade. A psicologia da sobrevivência te leva a viver mundanamente, com esperanças mundanas, não te coloca no caminho da esperança divina, a esperança de Deus. O dinheiro é realmente uma ruína, para a vida consagrada. Mas Deus é tão bom, tão bom, porque quando uma instituição da vida consagrada começa a ganhar mais e mais dinheiro, o Senhor é tão bom que envia um ecônomo ou uma ecônoma tão ruim que acaba com tudo, e isso é uma graça! Quando acabam os bens de uma instituição religiosa, eu digo: "Obrigado, Senhor!" porque eles começarão a trilhar o caminho da pobreza e da verdadeira esperança nos bens que lhes dá o Senhor: a verdadeira esperança de fecundidade que te dá o caminho do Senhor. Por favor, eu lhes digo, sempre, sempre façam um exame de consciência sobre a pobreza: a pobreza pessoal, que não é apenas pedir a autorização do superior, da superiora para fazer alguma coisa, é mais profunda, é uma coisa mais profunda ainda; e também a pobreza da instituição, porque é ali que está a [verdadeira] sobrevivência da vida consagrada, no sentido positivo, isto é, ali está a verdadeira esperança que fará crescer a vida consagrada.

Depois, tem ainda outra coisa. O Senhor nos visita tantas vezes com a escassez de recursos: escassez de recursos, a escassez de vocações escassez de possibilidades... com uma verdadeira pobreza, não apenas a pobreza dos votos, mas também a pobreza real. E a falta de vocações é uma pobreza bem real! Nessas situações é importante falar com o Senhor: por que as coisas são assim? O que está acontecendo na minha instituição? Por que as coisas acabam assim? Por que falta a fecundidade? Por que os jovens não se sentem animado, eles sentem entusiasmos pelo meu carisma, o carisma da minha instituição? Por que a instituição perdeu a capacidade de convocar, de chamar? Fazer um verdadeiro exame de consciência sobre a realidade e dizer toda a verdade.

Isso vale também para os diocesanos, e também para os laicos, mas eu vou falar isso para os religiosos: eu lhes pergunto, me façam um favor, peço-lhes para refletir sobre os três últimos números da Evangelii nuntiandi, o documento pastoral pós-sinodal que ainda é atual, não está ultrapassado, não! Tem a sua força, quando o Beato Paulo VI fala do “retrato do evangelizador" como ele o quer, e ali fazer um exame de consciência: "Eu e minha instituição fazemos isso?". Ou, como afirma Paulo VI, é uma instituição triste, amargurada, que não sabe o que fazer? Meditem sobre esses números que os ajudarão a fazer um exame de consciência sobre essa psicologia da sobrevivência. Mas o ponto crucial do problema sempre deve ser procurado na pobreza: como viver a pobreza.

Depois, na pergunta está: "... e colocar-se com Jesus no meio de seu povo, tocando as feridas de Jesus nas feridas do mundo". Isso é um pouco como o caminho de Filipenses 2.7: o caminho de Jesus é aquele do rebaixamento – “abaixou-se” “anulou-se” - abaixar-se com o povo de Deus, com aqueles que sofrem, com aqueles que não podem te dar nada. Você só terá a força da oração. Lembro-me de uma vez, na diocese, a que eu tinha antes, no hospital as freiras eram bem idosas, austríacas, realmente não tinham vocações e com tanta dor precisaram voltar para sua pátria. E aquele hospital ficou sem freiras. Mas havia lá um sacerdote coreano, que se mexeu e trouxe freiras da Coréia. Ele trouxe quatro, e logo chegaram, todas bem jovens. Elas chegaram numa segunda-feira e na quarta-feira já estavam atendendo nas enfermarias. Quando eu fui no sábado para visitar o hospital, os doentes, todos, diziam: "Mas que maravilha as irmãs, que bem estão fazendo para mim!". Eu pensei: "Mas essas coreanas, de espanhol sabem o mesmo que eu sei de coreano; então, como os doentes podem dizer: que maravilha, as irmãs?". Mas elas, com um sorriso, pegavam as suas mãos, as acariciavam e com isso chegavam ao coração do povo de Deus, o povo sofredor, da chaga, da carne sofredora de Jesus.

Quando existe uma vida assim, não falar um idioma e viver em um país onde se fala tal idioma, é uma pobreza impressionante, é uma grande pobreza. E aquelas irmãs viviam nessa condição, mas com paz e estavam fazendo um grande bem. No rebaixamento, tocando a carne sofredora de Jesus e dos pobres: e esta é uma psicologia que afasta daquela da sobrevivência, é a psicologia da construção do Reino de Deus, porque justamente Mateus 25 nos indica esse caminho para o Reino de Deus. A psicologia da sobrevivência é sempre pessimista. Não abre horizontes, é fechada. E é orientada para o cemitério.

Descer, como Jesus, na sua carne sofredora, para os mais fracos, os doentes, todos aqueles que menciona Mateus 25. Isso tem como horizonte não o cemitério, tem um horizonte fecundo. Isso é semear, e o crescimento da semente é dado pelo Senhor. Por isso eu digo essas duas coisas: a pobreza e a preocupação com a carne dolente de Cristo. Com sinceridade. Sem ideologias. Obrigado.

Estão me avisando que estamos atrasados e precisamos nos despedir. Agradeço pela sua presença. Agradeço pelo testemunho. E aos religiosos gostaria de dizer uma coisa, porque eu tenho falado menos aos religiosos que aos diocesanos: a vida consagrada é um tapa no mundanismo espiritual! Continuem em frente!

Leia mais

  • "Se uma congregação religiosa perde suas posses, eu digo: Obrigado Senhor"
  • Faltam sacerdotes, poder aos leigos
  • Os “novos” sacerdotes: sólidos, mas flexíveis. Será?
  • O Papa reabilita sacerdotes incômodos
  • Cuidem-se dos sacerdotes e congregações sem sabor!, adverte o Papa Francisco
  • O Papa: a rigidez e o mundanismo são um desastre para os sacerdotes
  • Francisco: “Que os padres tenham a coragem da pobreza”
  • Papa: "Cuidado com os sacerdotes rígidos (mordem!) e na admissão nos seminários”. E aos bispos: “Presentes na diocese, ou então, renunciem!”
  • Vida religiosa e consagrada na era digital
  • O saudosismo não deve criar obstáculos à vida religiosa, diz Papa Francisco
  • As sete tentações da Vida Religiosa, segundo o Papa Francisco
  • A Vida Religiosa no século 21. Perspectivas de refundação
  • Vida religiosa: não é tempo de "ars moriendi". Entrevista com João Braz de Aviz
  • “Não devemos ter medo de deixar os ‘odres velhos’”, diz Francisco à Vida Religiosa
  • "Missionários, não cedam ao clericalismo que afasta os jovens", alerta o papa Francisco
  • Francisco pede que as mulheres e os leigos não sejam reduzidos a “servos do nosso recalcitrante clericalismo”
  • "O clericalismo é uma peste na Igreja." Entrevista com o Papa Francisco no voo de volta de Fátima
  • “Um dos perigos mais graves, mais fortes na Igreja hoje, é o clericalismo”, constata Francisco

Notícias relacionadas

  • Papa abre a Porta Santa: “Bangui é a capital espiritual do mundo”

    LER MAIS
  • A luta de Bergoglio contra a economia que mata e suas tensões na Argentina. Entrevista especial com Eduardo de la Serna

    LER MAIS
  • "Esta economia mata. Precisamos e queremos uma mudança de estruturas", afirma o Papa Francisco

    LER MAIS
  • Padre Arrupe, herói em Hiroshima. O relato de García Márquez

    LER MAIS
  • Início
  • Sobre o IHU
    • Gênese, missão e rotas
    • Sala Ignacio Ellacuría e Companheiros
    • Rede SJ-Cias
      • CCIAS
      • CEPAT
  • Programas
    • Observasinos
    • Teologia Pública
    • IHU Fronteiras
    • Repensando a Economia
    • Sociedade Sustentável
  • Notícias
    • Mais notícias
    • Entrevistas
    • Páginas especiais
    • Jornalismo Experimental
    • IHUCAST
  • Publicações
    • Mais publicações
    • Revista IHU On-Line
  • Eventos
  • Espiritualidade
    • Comentário do Evangelho
    • Ministério da palavra na voz das Mulheres
    • Orações Inter-Religiosas Ilustradas
    • Martirológio Latino-Americano
    • Sínodo Pan-Amazônico
    • Mulheres na Igreja
  • Contato

Av. Unisinos, 950 - São Leopoldo - RS
CEP 93.022-750
Fone: +55 51 3590-8213
humanitas@unisinos.br
Copyright © 2016 - IHU - Todos direitos reservados