Diante da pregação de João Batista, “tenhamos a coragem de perguntar: Senhor, que devemos fazer para vivermos o Natal? O que é o essencial para celebrar o nascimento do Menino Deus? Provavelmente será uma resposta pessoal, adequada à vida de cada um de nós como fez João Batista. Não sabemos se as multidões, os publicanos e os soldados fizeram o que João disse, mas podemos ter certeza de que se fizermos o que o Senhor nos disser vamos experimentar a paz de Deus que guarda nossos corações e pensamentos, como diz São Paulo na segunda leitura. E assim viveremos um Natal, de fato, cristão”.
A reflexão é de Carolina Mureb Santos, da Companhia das Filhas da Caridade de São Vicente de Paulo. Ela é mestra em Teologia Moral pela PUC-SP, graduada em Teologia e Pedagogia, também pela PUC-SP e especialista em Ensino Religioso Escolar, pelo Centro Universitário Salesiano. Membro da Sociedade Brasileira de Teologia Moral (SBTM) e do Grupo de Pesquisa PHAES (Pessoa Humana, Antropologia, Ética e Sexualidade) da PUC-SP. Integra a diretoria nacional da Associação de Educação Católica (ANEC), sendo a diretora do setor de Pastoral. Atua na formação de leigos/as e consagrados/as e na orientação espiritual. Sua pesquisa se concentra em temáticas da Moral Fundamental e da Educação Católica.
Leituras do dia
Sf 3,14-18a
Is 12,2-3.4bcd.5-6 (R. 6)
Fl 4,4-7
Lc 3,10-18
Alegrai-vos! É o convite de São Paulo em sua carta aos filipenses. Alegrai-vos porque o Senhor está próximo! Neste 3º domingo do Advento, conhecido como o domingo da alegria, nossos corações redobram a vigilância e crescem na alegria porque, em breve, será Natal.
Diante do sofrimento no mundo, o convite a alegrar-se pode parecer um desrespeito e até uma ofensa para algumas pessoas. Como é possível alegrar-se quando há tantas pessoas com fome, tanta destruição do planeta, tantas guerras no mundo inteiro? Será que as razões para entristecer e desesperançar não são mais numerosas do que para alegrar-se e ter esperança? Ao invés de convidar à esperança e à alegria, alguns cristãos invocam o castigo divino, afirmam não ter mais solução e condenam o mundo. A Palavra de Deus sempre nos indica outra direção: ter esperança e agir, fazer algo para contribuir com a mudança porque o Senhor está em nosso meio.
A experiência do povo de Israel nos ensina que apesar dos nossos desvios, das más escolhas que fazemos; que ainda que Deus não aprove a vida que levamos, Ele não nos abandona. Seu amor é fiel, por isso, permanece pronto para nos acolher e acompanhar. Os versículos da profecia de Sofonias da liturgia de hoje são chamados de “salmo da alegria”. Depois de oráculos contra os dirigentes de Israel e outras nações, o profeta menciona o pequeno resto do povo de Israel que permaneceu fiel ao Senhor. E qual é a razão pela qual o povo deve exultar e se alegrar? Porque o Senhor está em seu meio. Essa presença não resolve os problemas, não remove as dificuldades, mas salva por seu amor. A experiência do amor de Deus faz encontrar a força necessária para seguir em frente, tal como diz o salmo responsorial, “o Senhor é minha força e salvação”. É a confiança que faz vencer o medo em meios às situações dolorosas e incompreensíveis da vida e seguir em frente na missão que Deus confia a cada pessoa.
Os profetas e profetisas tiveram, e ainda têm, esta missão: indicar ao povo suas infidelidades e sustentá-lo em sua fé a partir do anúncio do amor do Senhor. Assim foi João Batista, a grande figura desta 3ª semana do Advento. João, conhecido como o precursor, está batizando e convocando o povo à conversão. Avisa que o tempo está próximo. No Evangelho de hoje, vemos a reação de algumas pessoas à sua pregação. As multidões, os publicanos (pecadores públicos porque eram judeus que cobravam os impostos para Roma, considerados traidores do seu povo) e os soldados, provavelmente do império romano, perguntaram a João o que deveriam fazer.
A resposta de João é surpreendente e pode ser resumida assim: praticai a justiça. Partilhar a roupa e a comida, não lucrar em cima do pagamento do imposto, não extorquir, não denunciar falsamente e contentar-se com seu salário. João não indica coisas extraordinárias; o que deve ser feito está de acordo com a vida de cada um dos grupos que perguntaram. Agir com justiça para com os irmãos e irmãs. João não diz que se deve jejuar, fazer orações ou cumprir ritos, mas pede uma vida solidária e generosa para com as necessidades dos outros. A prática da justiça será o sinal do arrependimento, de que o batismo de conversão realizado por ele em preparação à vinda do messias está dando fruto.
Certamente, não devemos desconsiderar o valor e a necessidade da oração, de exercícios espirituais e, hoje, dos sacramentos. Não se trata disso, trata-se de reconhecer que preparar-se para celebrar o Natal exige de nós uma mudança nas relações. O Filho de Deus vem para revelar que todos somos filhos no Filho, e portanto, irmãos uns dos outros. Ser filhos e filhas do Pai é o fundamento da fraternidade. E a fraternidade realiza a justiça. E sem a justiça, a sociedade se torna barbárie.
É interessante observar que os três grupos que se dirigem a João perguntando o que deveriam fazer são grupos considerados pecadores a priori, isto é, são considerados impuros, ignorantes, pecadores públicos e pagãos. Mas foram eles que abriram o coração e se deixaram tocar pelo anúncio de João, dispondo-se a mudar de vida. De quem sentimos falta? Dos religiosos da época: os sacerdotes, fariseus e doutores da lei. Por outros evangelhos sabemos que eles costumavam observar e até questionar João. Se eles estavam lá não perguntaram o que deveriam fazer. Escutaram a pregação de João, viram seu testemunho, mas não se permitiram examinar sua própria vida. Permaneceram fechados em suas verdades e convicções. Não se dispuseram a iniciar um caminho de conversão para acolher aquele que João chamaria de Cordeiro de Deus.
Muitos de nós estamos no grupo dos religiosos, dos praticantes da religião. Peçamos a Deus a graça de escutarmos com atenção a João Batista neste domingo. E diante da sua pregação, tenhamos a coragem de perguntar: Senhor, que devemos fazer para vivermos o Natal? O que é o essencial para celebrar o nascimento do Menino Deus? Provavelmente será uma resposta pessoal, adequada à vida de cada um de nós como fez João Batista. Não sabemos se as multidões, os publicanos e os soldados fizeram o que João disse, mas podemos ter certeza de que se fizermos o que o Senhor nos disser vamos experimentar a paz de Deus que guarda nossos corações e pensamentos, como diz São Paulo na segunda leitura. E assim viveremos um Natal, de fato, cristão.