A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas 3,10-18, que corresponde ao 3° Domingo de Advento, ciclo C do Ano Litúrgico. O comentário é elaborado por Ana Maria Casarotti, Missionária de Cristo Ressuscitado.
Naquele tempo, as multidões perguntavam a João: “Que devemos fazer?” João respondia: “Quem tiver duas túnicas, dê uma a quem não tem; e quem tiver comida, faça o mesmo!” Foram também para o batismo cobradores de impostos, e perguntaram a João: “Mestre, que devemos fazer?” João respondeu: “Não cobreis mais do que foi estabelecido”. Havia também soldados que perguntavam: “E nós, que devemos fazer?” João respondia: “Não tomeis à força dinheiro de ninguém, nem façais falsas acusações; ficai satisfeitos com o vosso salário!” O povo estava na expectativa e todos se perguntavam no seu íntimo se João não seria o Messias. Por isso, João declarou a todos: “Eu vos batizo com água, mas virá aquele que é mais forte do que eu. Eu não sou digno de desamarrar a correia de suas sandálias. Ele vos batizará no Espírito Santo e no fogo. Ele virá com a pá na mão: vai limpar sua eira e recolher o trigo no celeiro; mas a palha ele a queimará no fogo que não se apaga”. E ainda de muitos outros modos, João anunciava ao povo a Boa-Nova.
Continuamos no tempo do Advento que nos prepara para a celebração da Presença de Deus em nosso meio, que nasce no portal de Belém: o Natal. Neste domingo, a liturgia nos convida a ouvir e meditar sobre um texto do Evangelho de Lucas. O capítulo 3 começa destacando o momento histórico em que a Palavra é dirigida a João e sua total obediência e disponibilidade a ela. João, considerado o último dos profetas, oferece a oportunidade de acolher a presença de Jesus, o Messias. É nesse contexto que se insere a leitura deste domingo. João passa pela região do rio Jordão pregando um batismo de conversão (Lc 3,3), ecoando as palavras do profeta Isaías: “Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas”. Diante das palavras de João, que convida a uma mudança de vida, sabe que a missão messiânica só pode ser assimilada se houver uma disposição interior, um caminho “aplainado” para acolher Jesus, o enviado de Deus, a multidão que o ouve pergunta: “Que devemos fazer?”
Que devemos fazer? É uma pergunta feita por um grupo que ouve as palavras do profeta e está pronto para mudar. Podemos pensar em um povo que se aproximou de João para receber seu batismo talvez por diferentes motivos: eles precisam de uma mudança, são um povo cansado da situação de opressão e injustiça que estão vivendo, querem sair da rotina de dor e sofrimento a que talvez estejam sujeitos e as promessas de mudança e transformação que receberam não foram cumpridas. Uma multidão segue a João porque ele é diferente, tem autoridade em suas palavras e promete renovação.
Ao longo da história, sempre apareceram figuras significativas que prometem mudanças, que geram expectativas naqueles que os ouvem, personalidades que marcaram uma transformação, que conquistaram os direitos de povos abandonados ou considerados inferiores. Mas eles não fizeram isso sozinhos; eles reuniram as expectativas de um povo e souberam ouvir o clamor surdo que habitava em suas entranhas. E, dessa forma, foram protagonistas de mudanças profundas. São muitos os nomes que povoam nossa memória quando pensamos nessa realidade.
Em nosso contexto atual, João Batista se apresenta a nós e nos convida a uma mudança, uma transformação, e ele precisa ouvir nossa pergunta para que realmente aceitemos sua mensagem: o que devemos fazer? É uma pergunta que implica ouvir suas palavras de antemão. Para que essa proposta que ele vem trazer, que ele está prometendo, se torne realidade, o que é necessário, para onde temos que ir, o que precisamos fazer?
O texto do evangelho sugere vários grupos de pessoas que perguntam a João: o que devemos fazer, e ele dá uma resposta a cada grupo, mostrando assim que não há uma resposta geral e uniforme. Primeiro, as multidões, depois os cobradores de impostos e, em seguida, os soldados fazem a mesma pergunta a Jesus. Três grupos se aproximaram de Jesus e três respostas diferentes, mas complementares. Vamos meditar em cada uma das respostas de Jesus:
“Quem tiver duas túnicas, dê uma a quem não tem; e quem tiver comida, faça o mesmo!”
A pergunta é formulada no plural e a resposta é pessoal para cada um. Aquele que tem algo deve compartilhar, dar ao outro que não tem. A cultura consumista na qual estamos imersos nos convida a acumular sem sentido, a manter indefinidamente aquilo que também nos foi dado, mesmo que acreditemos que o obtivemos com nosso próprio esforço. O que temos não é nosso, mesmo que o tenhamos “adquirido” e que tenha envolvido nosso trabalho. De maneira simples, mas muito direta, João responde: se você tem “dois”, dê aos que não têm, e se você tem comida, compartilhe.
“Os cobradores de impostos, e perguntaram a João: ‘Mestre, que devemos fazer?’ João respondeu: ‘Não cobreis mais do que foi estabelecido’”.
Diante da mesma pergunta, João adapta sua resposta ao grupo que o questiona: não cobrar a mais, ou seja, não pegar o dinheiro dos outros, respeitar o que está estipulado, isto é, não roubar. Palavras fortes, claras e diretas. Para esse imposto, há algo que já está estipulado e João simplesmente diz a eles que sigam esse slogan. Eles administram o dinheiro de outras pessoas, que é um determinado imposto ou tarifa a ser dado a outros. É algo que foi “imposto”, uma taxa que deve ser paga por aqueles que estão em uma situação de inferioridade em relação ao grupo dominante. João diz claramente a eles que não cobrem a mais, que sejam transparentes ao lidar com o dinheiro de outras pessoas.
Havia também soldados que perguntavam: “E nós, que devemos fazer?” E João responde: “Não tomeis à força dinheiro de ninguém, nem façais falsas acusações; ficai satisfeitos com o vosso salário!”
Os soldados têm um poder que é acompanhado pelo grupo que representam, são guardiões da segurança, têm autoridade. João coloca essa autoridade em seu devido lugar: não usem seu poder para roubar, nem para serem subornados, não mintam sobre outras pessoas, não acusem, favorecendo sentenças falsas, gerando condenações injustas. Ele os exorta a serem honestos e gratos pelo salário que recebem. Seu lugar é ser servo do povo e cuidar dele em sua vida diária.
Não acumular, mas compartilhar, ser honesto e transparente com o uso do dinheiro de outras pessoas e ser servo das pessoas, cuidando e protegendo seus interesses e suas vidas, são três chaves com as quais João nos convida a continuar nos preparando para a vinda do Messias. Seguindo o chamado de João, nós nos perguntamos: quais são essas “túnicas” e esses alimentos que estamos acumulando e que devemos compartilhar? Como administramos o dinheiro dos outros, o que fazemos com a confiança que os outros depositaram em nós? Aumentamos nosso capital, nosso ego, nossas possibilidades? E, por fim, também somos convidados a analisar o uso do poder que nos foi dado para cuidar e servir aos outros. A resposta de João é bem-vinda para nos ajudar a preparar o caminho e continuar a nos preparar para a vinda do Senhor.: