25 Julho 2025
"Aqueles que desejam um diálogo honesto não precisam inventar rótulos como 'israelismo', nem brandir analogias inapropriadas com o Holocausto. Bastaria reconhecer que, na Torá, como na democracia, a crítica vive sob o mesmo toldo que a fidelidade. É nesse campo poeirento que, dia após dia, continuamos a lutar — sem santificar a força, mas sem renunciar ao direito de existir".
O artigo é do rabino Roberto Della Rocca, publicado por La Stampa, 17-07-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Li com profunda consternação o artigo de Vito Mancuso publicado no La Stampa de 13 de julho, no qual o autor introduz o neologismo "israelismo" para separar a dimensão política do judaísmo de sua "chama espiritual" ideal. O resultado é uma caricatura: de um lado, o judeu "bom, brilhante e perseguido"; do outro, o Estado judeu moderno descrito como uma projeção de um sentimento étnico-religioso degenerado. Vale a pena alinhar os fatos — históricos, bíblicos e atuais — antes que a discussão descambe. "Israelismo", o rótulo cunhado por Vito Mancuso, promete distinguir a política da espiritualidade judaica. Na prática, apaga a primeira para salvar — em palavras — a segunda. É um truque conhecido: transformar os judeus em um povo de filósofos inofensivos e o Estado de Israel em um desvio malsão. A história, no entanto, é mais teimosa do que as abstrações.
Mancuso chega a comparar o conceito bíblico de "herem" (cujo campo semântico é "proibido" mais que "extermínio") à "endlösung" nazista, a Solução Final, apresentando a guerra de Israel em Gaza como o resultado inevitável de um suposto racismo estrutural dentro do próprio judaísmo. Mas o "herem" não é um manual de genocídio: é mais uma proibição contra aqueles cultos que envolviam sacrifícios humanos, praticados extensivamente pelos povos idólatras que habitavam Canaã.
Também hoje, combater aqueles cultos, inspirados em uma pulsão de morte, pelos quais as crianças devem ser sacrificadas à "causa", não é um protocolo de dominação étnica, muito menos um precedente do Holocausto. Compará-lo a Auschwitz não é uma interpretação criativa: é uma amputação do contexto, uma operação com a qual os judeus estão bem familiarizados, tendo-a sofrido por séculos.
O autor baseia grande parte de sua acusação no sétimo capítulo do Deuteronômio, isolando suas frases mais duras para argumentar que o judaísmo inclui um código de eliminação do outro. Comparar o herem a Auschwitz é descontextualizar um preceito antigo e, paradoxalmente, fazer o que tem sido feito contra os judeus por séculos: usar um versículo para condená-los.
Mancuso, no entanto, ignora que o próprio Deuteronômio, no capítulo 17, limita os poderes do rei, proíbe a multiplicação dos cavalos (o equivalente antigo dos tanques) e exige que ele escreva, sob supervisão sacerdotal, uma cópia pessoal da Torá. A guerra, segundo o Talmude, requer o consentimento do Sinédrio. Uma antecipação de uma verdadeira monarquia constitucional, onde a conquista jamais pode se tornar uma empreitada privada do monarca.
O filósofo Micah Goodman, em seu livro "L'ultimo discorso di Mosè", descreve magistralmente como a Torá se opõe e busca prevenir o soberanismo.
O nome "Israel" não surge em uma câmara parlamentar, mas em uma batalha noturna. No capítulo 32 do Gênesis, Jacó luta até o amanhecer com um adversário misterioso que levanta uma nuvem de poeira, tentando remover o chão sob seus pés, tornando-o instável e etéreo. A história não transcorre sem feridas. Jacó emerge mancando, mas não pulverizado. Num paradoxo admirável, o anjo misterioso o atinge no nervo ciático, deslocando-lhe o quadril. Ele então detém seu avanço, tentando de todas as maneiras desconectar a parte superior da pessoa da parte inferior: ou seja, a mente e a espiritualidade do que está abaixo, o corpo e a materialidade.
Precisamente nesse contexto, na tentativa de separar matéria e espírito (que o sonho da escada, em vez disso, tentou conjugar para sempre), Jacó se torna Israel, como se lutar com o anjo significasse também defender o lado terreno e concreto do judaísmo, onde esse anjo hipotético representa, em vez disso, a tentativa de sua pulverização. Uma luta, poder-se-ia dizer, contra uma certa maneira "angelical" e celestial de conceber o judaísmo. Uma luta interna e cotidiana que marca a cadência de uma jornada que persegue uma missão, apesar do andar manquejando e das dificuldades do percurso. Aqueles que reduzem Israel a um "símbolo moral" esquecem essa matriz terrena e cotidiana.
A identidade de Israel, portanto, nasce de uma dialética permanente entre o céu e a terra, entre a exigência ética do Espírito e a urgência concreta da história. Reduzir o judaísmo a um "lugar de idealidade" significa amputar dois terços dele: povo e terra. Desde a aliança abraâmica, a Torá é entregue a uma coletividade histórica chamada a habitar um espaço concreto.
É isso que torna o judaísmo e a história indissociáveis: pode-se criticar a política do Estado de Israel, mas negar a legitimidade daquela união equivale a pretender um cristianismo sem o Evangelho ou um islamismo sem o Alcorão. Qualquer diálogo que censure um desses três fios se transforma em monólogo.
O Israel real — não aquele dos nossos sonhos, nem aquele demonizado por seus detratores — é um laboratório de irmandades difíceis (não é esse justamente o fio condutor do livro do Gênesis?), um experimento democrático jovem, barulhento e multiétnico.
Seus governos mudam com frequência, as ruas protestam, os tribunais intervêm: sinais de vitalidade, não de suprematismo. Quem visita Tel Aviv ou Berseba sente, ao lado dos conflitos, a força centrípeta de uma sociedade que mantém unidos judaísmos no plural e uma grande minoria árabe com assento no parlamento. Só se pode "odiar", para usar a expressão de Albert Memmi, o que funciona: a aversão imoderada muitas vezes nasce da inveja de uma resiliência inesperada.
O judaísmo dispõe de um corretivo estrutural ao poder: o Talmude, diálogo ininterrupto entre gerações que impede que um versículo se transforme em slogan e um conceito em ideologia. Mancuso pede uma "reestruturação" da consciência bíblica; talvez ele não saiba que esse processo está em curso há 26 séculos e é o próprio âmago da cultura judaica. A tarefa dos professores não é santificar todas as decisões de um governo, mas também não é deslegitimar, por razões supostamente morais, o direito à existência coletiva do povo judeu.
Na época que exalta a identidade líquida, a persistência de Israel parece escandalosa. Mas uma identidade que se recusa a se dissolver não é necessariamente violenta; é simplesmente responsável. Como Jacó após a batalha, Israel avança mancando, ferido, mas vivo, e justamente por isso encarna o desafio de uma ética que não se contenta em permanecer ideal. Ao contrário do que teme Mancuso, a "chama" não se apaga porque está enraizada em uma ética concreta e cotidiana: ela continua a arder graças à tensão entre Espírito e História.
Aqueles que desejam um diálogo honesto não precisam inventar rótulos como "israelismo", nem brandir analogias inapropriadas com o Holocausto. Bastaria reconhecer que, na Torá, como na democracia, a crítica vive sob o mesmo toldo que a fidelidade. É nesse campo poeirento que, dia após dia, continuamos a lutar — sem santificar a força, mas sem renunciar ao direito de existir.