16 Janeiro 2025
À medida em que as notícias sobre a trégua começam a chegar, os rostos de Anna Foa, historiadora da era moderna, e Gabriele Segre, especialista em temas de identidade e convivência, se abrem em sorrisos. É um sorriso de esperança, cheio de tristeza e apreensão.
A entrevista é de Alberto Infelise, publicada por La Stampa, 15-01-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
O que vocês esperam que aconteça agora em Israel?
Anna Foa: Espero que Netanyahu permaneça no governo, que seus ministros não se demitam e que o governo permaneça como está. Eu me pergunto se a contrapartida oferecida não é uma forte cessão aos objetivos sobre a Cisjordânia, o que abriria outra situação de guerra.
Gabriele Segre: Espero que isso não seja o fim de nada. Esse é um dos grandes equívocos no Ocidente. É preciso lembrar que a trégua não é a paz. Mas pelo menos finalmente se interrompe a brutalidade. A questão é que não há acordo em relação aos palestinos e não há uma visão do dia seguinte para Gaza. Obviamente o cessar-fogo e o retorno dos reféns são bem-vindos, mas é preciso manter os olhos abertos porque tudo ainda deve ser feito.
Anna Foa: Concordo, mas não se pode deixar de saudar a trégua: agora a população de Gaza poderá ter o que beber, voltar aos hospitais.
Existe um desejo realista no curto prazo para as pessoas que vivem em Israel e Gaza?
Gabriele Segre: Para mim, há um desejo, digo isso com a consciência da dificuldade e do sofrimento: de acertar as contas consigo mesmos, que ambos os lados saiam com a urgente necessidade de acertar as contas consigo mesmos. Se a sociedade israelense não acertar as contas com o que é (assim como a palestina), as questões não resolvidas continuarão a existir e não será possível recomeçar.
Anna Foa: Excluindo os extremistas do Hamas de um lado e os colonos do outro, as pessoas devem lutar para sair do lamaçal que as mantém presas, gerado pelo medo. É preciso lutar pelo futuro, criar o espaço para um projeto para os palestinos, reconhecer a si mesmos e ao outro e iniciar um período em que o ódio possa diminuir. Será necessária uma trégua muito longa.
Esses quase 500 dias, entre 7 de outubro e a guerra em Gaza, mudaram suas convicções sobre a situação no Oriente Médio?
Anna Foa: Para mim, mudou um pouco. Até o momento, eu me mantive afastada do assunto, é claro que não é que eu não via o que estava acontecendo na década de 1990. Fiz alguns cursos na Universidade Hebraica e lembro com muito carinho dos estudantes palestinos e judeus. Agora, a primeira coisa que faço pela manhã é ler as notícias no Haaretz. Nunca pensei que teria que me envolver na minha idade, projetada no campo político, em um caminho estreito entre o Hamas e Netanyahu.
Gabriele Segre: A minha também mudou bastante, mas minha visão não chegou a uma única direção, há um bombardeio constante também no meu cérebro, um constante estar em devir. Aquelas certezas que Israel havia me dado, apesar dos graves problemas que tinha enfrentado, com uma complexidade que se baseava em equilíbrios precários, desmoronaram: os equilíbrios se deflagraram mostrando o rei nu e o peso dos extremismos de ambos os lados. Isso colocou em questão tantos pré-requisitos, até mesmo as verdades morais desmoronaram, e eu vivi esse período na contradição da dor. As lacerações internas ao projeto israelense certamente se acentuaram. Em minha dificuldade e desespero, posso dizer que não consigo ver uma saída para a dor. Essa falta de perspectiva continua sendo extremamente dolorosa.
Vocês perceberam um aumento no antissemitismo no último ano?
Anna Foa: Como judia italiana, certamente senti isso em relação ao mundo judaico. Tudo isso fez com que eu me sentisse muito isolada, mas o isolamento me levou a falar, a dizer coisas, e senti que elas faziam sentido, mesmo em relação às esperanças de abertura que eu tinha antes de 7 de outubro. É importante o que Jean Améry escreveu em Il nuovo antisemitismo. Améry sempre enfatizou a importância da relação com Israel. É preciso falar, intervir e apoiar os israelenses que querem sair do isolamento.
Gabriele Segre: O livro de Améry basicamente conta a história de uma pessoa que se descobriu judia contra vontade, porque o mundo lhe impôs isso. Isso obriga Améry a acertar as contas com sua entidade judaica, assim como nós hoje temos que ser judeus de uma maneira diferente, mesmo em nossas relações com Israel.
Muitas vezes, no ano passado, aqueles que criticaram as escolhas de Netanyahu foram acusados de antissemitismo. Ainda é possível criticar o governo sem sofrer essa acusação?
Anna Foa: Não devemos nos preocupar em falar, em ser mal interpretados, acusados de antissemitismo ou em ser advertidos para não oferecer espaço aos antissemitas. Acredito que se oferecem oportunidades aos antissemitas ao esconder as coisas, ao não dizer o que se pensa, ao não admitir o que está acontecendo. Não se deve ter medo de dizer o que se pensa.
Gabriele Segre: Eu concordo com Améry, que diz: "Ater-se aos princípios é uma brincadeira de criança". Eu vivo dentro da contradição da realidade, sabendo que não sairei vivo, com uma ideia definitiva. Estou firmemente convencido da necessidade da existência de Israel hoje, mas também estou convencido do direito de existir do povo palestino.
Como o ódio mútuo gerado pelo 7 de outubro e pelo massacre de Gaza pode ser superado?
Anna Foa: A memória desses dois anos pode ser tão impactante que pode questionar até mesmo a permanência da memória do Holocausto, e isso não pode acontecer.
Gabriele Segre: Será muito difícil, mas será necessário acertar as contas com a natureza trágica desse momento histórico, assumindo as responsabilidades, as razões que nos levaram a nos comportar dessa maneira. A guerra nos confronta com as nossas hipocrisias e deficiências. Devemos criar boas razões para combater o ódio, não para lhe propiciar novo alimento.