13 Dezembro 2024
"É uma tomada de palavra feminina. E isso já conta. E é uma tomada da palavra feminina eclesial. E isso conta ainda mais. Mas, acima de tudo, é uma tomada de palavra feminina para a Igreja. As mulheres que têm algo a dizer não ficam caladas e nem todos aqueles que precisam de uma palavra que os nutra tapam seus ouvidos", escreve Simona Segoloni, leiga da Diocese de Perugia-Città della Pieve, casada e mãe de quatro filhos. É professora de Teologia Sistemática, Teologia Trinitária, Eclesiologia e Mariologia no Instituto Teológico de Assis. Obteve seu doutorado na Faculdade Teológica da Itália Central, com um estudo sobre a recepção do Concílio Vaticano II na teologia italiana, vice-presidente da Coordenação dos Teólogos Italianos, em artigo publicado por Il Regno delle donne, 09-12-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
As mulheres ainda hoje não têm permissão para presidir ou mesmo fazer homilias durante as celebrações eucarísticas. Entre pedido, necessidade e desejo, muitas coisas estão se movendo, no entanto: as mulheres fazem meditações bíblicas e escrevem roteiros para as homilias. Não seria o caso de aportar algumas mudanças, para o bem da Igreja?
Maria ensinando no templo. (Foto: Wikimédia Commons)
As mulheres não podem pregar. De fato. E isso apesar de a pregação eclesial na casa católica estar em grandes dificuldades. De fato, uma das queixas mais comuns sobre a vida cotidiana das igrejas é precisamente o sermão dominical: difícil de fazer e difícil de considerá-lo agradável. E, no entanto, apesar das dificuldades e da evidente necessidade de ajuda, as mulheres na Igreja Católica não podem pregar. Por quê? Por causa de uma disposição jurídica que vincula a pregação litúrgica ao ministério ordenado e, já sabemos, este ao sexo masculino. E por quê?
É difícil dar uma motivação teológica que se sustente, especialmente se olharmos para toda a tradição eclesial: não por acaso a imagem que abre esse post é antiga, vem do Claustro Verde (século XVI) do Monastério de Santa Ana em Foligno e retrata Maria ensinando no templo. Lá, uma comunidade de Terciárias franciscanas havia ativado uma forma de vida evangélica desde o século XIV, testemunhando o Evangelho nas ruas, ao lado dos necessitados, e ainda dois séculos após a fundação ainda resistiam, encomendando esses afrescos! Voltando ao presente, temos ministros ordenados com muita frequência tendo dificuldades com a pregação e mulheres que poderiam ter a capacidade de ajudar, mas, como são mulheres, decidimos que os dons do Espírito não são úteis no caso específico e precisamente por causa do sexo biológico das pessoas que receberam o dom.
Tudo isso é tão insensato que a própria igreja, por conta própria e para além de suas próprias regras, embora sem transgredi-las, encontra uma maneira de resolver e, assim, satisfazer sua própria necessidade de que a Palavra de Deus seja explicada de maneira eficaz por uma pluralidade de vozes. De fato, multiplicam-se os subsídios litúrgicos, os blogs e os podcasts, nos quais leigos e, sobretudo, leigas, que não teriam outra possibilidade, explicam a Palavra de Deus, oferecem-na àqueles que sentem uma grande necessidade de rezar, de meditar, de entrar na beleza de sua fé. Nesse dinamismo também se encontra o livro das homilias Senza indugio (Sem demora), editado pelo CTI, no qual mulheres teólogas, com diferentes sensibilidades e formações, mas todas com a competência adequada e com a experiência vivida de pregações ao povo cristão, compuseram roteiros de homilias para o ano litúrgico que se inicia. De acordo com as normas atuais, um sacerdote pode ler as homilias publicadas nesse livro respeitando o Código, mas nenhuma das autoras pode proferi-las na assembleia. Se nos olharmos por um momento, de fora, isso pareceria ridículo, mas o mais importante é ver como, onde sufocamos o Espírito, ele encontra uma maneira de soprar de qualquer forma, inesperadamente, por outros caminhos.
Portanto, acontece também que algumas mulheres escrevam um livro de homilias para todos aqueles que sentem a necessidade de aprofundar ainda mais a palavra ouvida no domingo ou para aqueles que precisam preparar sua própria homilia: para a igreja, seja qual for sua necessidade.
É uma tomada de palavra feminina. E isso já conta. E é uma tomada da palavra feminina eclesial. E isso conta ainda mais. Mas, acima de tudo, é uma tomada de palavra feminina para a Igreja. As mulheres que têm algo a dizer não ficam caladas e nem todos aqueles que precisam de uma palavra que os nutra tapam seus ouvidos.
Por que as mulheres? A palavra dos ministros ordenados não é suficiente? Não seria suficiente, se esse fosse o problema, fornecer a quem deve pregar a formação necessária? Qual o motivo para tomarem a palavra também as mulheres? A questão é que a Igreja transmite tudo o que vive e tudo o que ela é (DV 8), e o que transmite cresce com o estudo dos crentes e a compreensão das coisas espirituais, ou seja, com a sabedoria que vem da vivência da fé: em tudo isso as mulheres são decisivas, assim como todos. Sem a vivência e o sentimento das mulheres, não há tradição eclesial e, portanto, não há pregação. Olhamos para os apóstolos, doutores e pregadores e vemos apenas homens, porque queremos contar a história assim, mas os homens eram apenas alguns, não todos.
Talvez devêssemos reler a conclusão do Evangelho de Marcos, a primeira, aquela que termina no versículo 8 do capítulo 16.
Estamos no sepulcro, na manhã de Páscoa, as mulheres encontram o sepulcro vazio e encontram o jovem que lhes dá o anúncio da ressurreição. Marcos (genialmente) conclui dizendo que essas mulheres, por medo, não disseram nada a ninguém. A genialidade está na provocação ao leitor: ele o adverte de que, se esse anúncio não for contado, não poderá dar frutos. Mas, evidentemente, se o Evangelho foi escrito e o leitor o está lendo, essas mulheres falaram e sabemos disso pelos outros evangelistas. O que teria acontecido, porém, se elas tivessem se calado? O que teria acontecido se elas tivessem obedecido à norma que não lhes reconhece uma palavra de autoridade? De forma simples e muito dramática, a tradição eclesial não teria sequer começado porque, queiramos ou não, as discípulas são seu primeiro elo indispensável.
E é por isso que as mulheres buscam - e estão sendo cada vez mais solicitadas - a tomar a palavra na Igreja. Às vezes, elas têm medo. E também sabem que talvez muitos as criticarão. No entanto, não é possível fugir de sua responsabilidade: os talentos recebidos devem ser investidos, sem demora.
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“De que púlpito vem o sermão?!” Artigo de Simona Segoloni - Instituto Humanitas Unisinos - IHU