A alta burocracia diplomática russa tenta turvar as águas com uma suposta mediação do Vaticano apresentada como “possível assistência para alcançar a paz e interromper as hostilidades na Ucrânia”

Foto: Valerian Guillot | Flickr CC

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14 Junho 2022

 

Alexei Paramonov, diretor do primeiro departamento europeu do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, já conhecido pelas declarações que faz periodicamente, em especial contra a Europa e a Itália, país do qual recebeu uma honraria a pedido do ministro Luigi Di Maio (que, dizem, foi posteriormente tirada), hoje assegurou: "A liderança do Vaticano declarou repetidamente sua disposição de fornecer qualquer assistência possível para alcançar a paz e colocar um fim das hostilidades na Ucrânia. Essas alegações são confirmadas na prática. Mantemos um diálogo aberto e confiante sobre várias questões, principalmente relacionadas à situação humanitária na Ucrânia. Todas as iniciativas da Santa Sé e do Papa Francisco que podem levar à paz na Europa são percebidas com grande respeito e, naturalmente, podem ser solicitadas caso se apresentem as condições apropriadas”.

 

A reportagem é publicada por Il Sismógrafo, 13-06-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.

 

Nesse tipo de bobagem enganosa e malévola, Alexei Paramonov é um especialista já conhecido por suas declarações desajeitadas neste período de guerra.

 

É bastante claro que esta manobra midiática russa é mais um passo para favorecer a estratégia em curso: ganhar tempo até que seja confirmado o sucesso militar avassalador de Moscou na área de Donbass e seus arredores. Em termos concretos, com essa declaração Lavrov, através de Paramonov, tenta burlar a diplomacia vaticana, confundir as águas da política internacional já turvas há tempo e criar condições para fazer perder tempo, para fazer acreditar que há mudanças em curso em Moscou e que, portanto, é prudente não pressionar com sanções e fornecimento de armas à Ucrânia.

 

Pelo que pudemos apreender dos círculos diplomáticos do Vaticano, as relações bilaterais com a Rússia existem, lentas e intrincadas, mas funcionam sobretudo no que diz respeito às questões humanitárias e assistenciais. Não há menção de eventuais assuntos político-diplomáticos do Kremlin e será assim até que Putin dê o telefonema ao Papa que muitos ao redor do mundo esperam.

 

Neste contexto de alto nível, deve-se lembrar que o Papa Francisco nunca falou com Putin, o que foi dito e reiterado. O Pontífice pediu três vezes esse encontro por telefone com o chefe do Kremlin e declarou que estava disposto a ir pessoalmente a Moscou. Com o presidente ucraniano, D. Zelensky, ele falou três vezes desde o início do conflito e a primeira foi no sábado, 26 de fevereiro, por volta das 20 horas. O registro desse primeiro telefonema do Papa, colocado no primeiro dia da guerra (24 de fevereiro), é impreciso.

 

Há uma consideração final a repetir: alguém pode imaginar que os Chefes de Estado e de Governo dos Estados Unidos ao Japão, passando pela Austrália e União Europeia, aceitariam dialogar com Vladimir Putin por meio da Santa Sé e do Papa? E, além disso, que lugar teria a China em uma hipotética mediação do Vaticano assim como apresentada pelo alto funcionário russo?

 

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