23 Outubro 2020
“Certa vez o Santo Padre, sorrindo, me disse: veja, Marcello, você deveria aprofundar a reflexão sobre a importância do substantivo em relação ao adjetivo qualificativo. O substantivo é mais importante que os adjetivos”. O bispo Marcello Semeraro, recém-nomeado prefeito da Congregação para as Causas dos Santos (no lugar do cardeal Angelo Becciu, forçado a renunciar após a investigação do escândalo de Londres), considera as palavras proferidas por Francisco sobre as uniões civis e as "pessoas homossexuais" sem surpresa. Eles se conhecem há quase vinte anos, bem antes do Conclave.
Dom Semeraro acaba de escrever o prefácio do livro do padre Aristide Fumagalli “L'amore possibile. Persone onossessuali e morale cristiana”.
A entrevista é de Gian Guido Vecchi, publicada por Corriere della Sera, 22-10-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.
Eis a entrevista.
Excelência, o senhor mesmo disse uma vez ao Corriere: "Em princípio, não tenho objeções ao fato que sob o aspecto público seja dada consistência jurídica a essas uniões”.
Certo, é legítimo que uma sociedade encontre formas jurídicas de garantia. Mas a reflexão do Papa, mais do que do ponto de vista jurídico, deve ser lida em outro contexto.
E qual?
De tudo o que é necessário para proteger a pessoa. Aliás, melhor: cuidá-la. Todas as intervenções do Papa são em defesa da pessoa. É preciso saber olhar para cada pessoa, cada filho de Deus, antes de cada possível adjetivo, ‘homossexual’ ou outro. Sustentá-la e ajudá-la, principalmente no momento em que ela precisar.
E isso também significa tutela jurídica?
Sim, também: significa tudo o que pode proteger as pessoas, acompanhá-las no caminho que estão percorrendo. Diante de cada filho de Deus, você tem que olhar a substância antes dos adjetivos. Só assim cada pessoa pode dar um passo à frente. É um pouco como o ‘magis’ de Santo Inácio de Loyola.
O que é isso?
Não um idealismo abstrato do 'tudo ou nada', mas a razoabilidade do 'melhor possível'. A atitude do Santo Padre é pastoral. O oposto daqueles que, com seu comportamento rígido, fazem a pessoa cair em vez de sustentá-la. São Leão Magno, quando fala do cuidado pastoral, diz que essa atitude, sufocar uma pessoa e impedir-lhe de olhar além, não é cristã.
É um ponto de virada?
O Catecismo da Igreja Católica diz que as pessoas com tendências homossexuais ‘devem ser acolhidas com respeito, compaixão, delicadeza. A seu respeito, qualquer marca de discriminação injusta deve ser evitada’.
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“Chega de rigidez. É preciso sustentar e acompanhar cada pessoa”. Entrevista com Marcello Semeraro, prefeito da Congregação para as Causas dos Santos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU