19 Mai 2018
Estourou a bomba. Imediata, determinante. Toda a Igreja chilena em bloco apresentou ao Papa Francisco sua renúncia, após a reunião mantida com ele em Roma por conta do escândalo de abusos sexuais e acobertamento na Igreja chilena. Uma decisão que não tem precedentes na história da Igreja.
A reportagem é de Jesús Bastante, publicada por Religión Digital, 18-05-2018. A tradução é do Cepat.
Em um comunicado, que a Conferência Episcopal chilena acaba de tornar público, dizem os bispos: “queremos pedir perdão pela dor causada às vítimas, ao Papa, ao povo de Deus e ao país por nossos graves erros e omissões”.
A nota agradece “as vítimas por sua perseverança e sua coragem, apesar das enormes dificuldades pessoais, espirituais, sociais e familiares que precisaram enfrentar, tantas vezes em meio à incompreensão e os ataques da própria comunidade eclesial”.
“Queremos anunciar que todos os bispos presentes em Roma, por escrito, colocamos nossos cargos nas mãos do Santo Padre, para que livremente decida a respeito de cada um de nós”, conclui o comunicado.
Agora, é Francisco que deverá decidir se aceita ou não a renúncia, e em que condições. Mas, o que ninguém duvida é que a revolução começou. A renúncia acontece depois que foi publicada a carta que o Papa lhes entregou, na terça-feira passada, e na qual demonstra sua “vergonha” pelo acobertamento sistemático dos abusos, assim como lhes acusa de destruir evidências de crimes sexuais, de pressionar os advogados da Igreja para reduzir as acusações e de “grave negligência” na proteção dos menores, diante dos sacerdotes pedófilos.
Uma das vítimas de Karadima, o jornalista Juan Carlos Cruz, nesta manhã, já afirmava: “espero que todos renunciem e se comece a reconstruir a Igreja do Chile com pastores de verdade e não com estes bispos corruptos, que cometem e acobertam crimes, conforme diz o documento”, que Religión Digital apresenta.
Eis a declaração.
Após três dias de encontros com o Santo Padre, e de muitas horas dedicadas à meditação e à oração, seguindo suas indicações, nós, Bispos do Chile, desejamos comunicar o seguinte:
Em primeiro lugar, agradecemos ao Papa Francisco por sua escuta de pai e sua correção fraterna. Mas, especialmente, queremos pedir perdão pela dor causada às vítimas, ao Papa, ao Povo de Deus e ao país por nossos graves erros e omissões.
Obrigado também a Dom Scicluna e ao Rev. Jordi Bertomeu por sua dedicação pastoral e pessoal, assim como pelo esforço investido nas últimas semanas para tentar curar as feridas da sociedade e da Igreja de nosso país.
Obrigado às vítimas, por sua perseverança e sua coragem, apesar das enormes dificuldades pessoais, espirituais, sociais e familiares que precisaram enfrentar, tantas vezes em meio à incompreensão e os ataques da própria comunidade eclesial. Mais uma vez, imploramos seu perdão e sua ajuda para continuar avançando no caminho da cura e cicatrização das feridas.
Em segundo lugar, queremos anunciar que todos nós, bispos presentes em Roma, por escrito, colocamos nossos cargos nas mãos do Santo Padre para que livremente decida a respeito de cada um de nós.
Colocamo-nos a caminho, sabendo que estes dias de honesto diálogo foram um marco dentro de um processo de mudança profunda, conduzida pelo Papa Francisco. Em comunhão com ele, queremos restabelecer a justiça e contribuir na reparação do dano causado, para voltar a impulsionar a missão profética da Igreja no Chile, cujo centro sempre deve estar em Cristo.
Queremos que o rosto do Senhor volte a resplandecer em nossa Igreja e nos comprometemos com isto. Com humildade e esperança, pedimos a todos que nos ajudem a percorrer este caminho.
Seguindo a recomendação do Santo Padre, imploramos a Deus que nestas difíceis e esperançosas horas, nossa Igreja seja protegida pelo Senhor e a Virgem do Carmo.
Bispos da Conferência Episcopal do Chile, em Roma
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Todos os bispos chilenos apresentam sua renúncia ao Papa após o encontro de Roma - Instituto Humanitas Unisinos - IHU