19 Mai 2018
Em um documento entregue aos religiosos chilenos, o Pontífice fez um diagnóstico da instituição eclesiástica nacional pelos casos de abusos em seu interior.
A reportagem é de S. Rodríguez, publicada por La Tercera, 18-05-2018. A tradução é do Cepat.
“No último dia 8 de abril, domingo da Misericórdia, enviei uma carta os convocando a Roma para dialogar sobre as conclusões da visita realizada pela Missão especial, com a finalidade de ajudar a encontrar luz para tratar adequadamente de uma ferida aberta, dolorosa e complexa, que há muito tempo não para de sangrar na vida de tantas pessoas e, portanto, na vida do Povo de Deus”.
Assim começa o documento de 10 páginas que o Papa Francisco leu e entregou, na terça-feira passada, aos 34 bispos chilenos, no início do encontro que terminou ontem, no Vaticano. Este texto, que o Canal 13 teve acesso e divulgou, contém fortes críticas ao presente da Igreja chilena, em particular ao desempenho dos bispos, e foi o material que todo o Episcopado teve que ler e analisar, para depois refletir com o Pontífice.
O texto, redigido pelo próprio Francisco, tem sua gênese no relatório entregue pelo arcebispo de Malta, Charles Scicluna, a respeito dos abusos cometidos por alguns sacerdotes e os erros das autoridades da Igreja local no processo de investigação e punição.
O documento adverte que a Igreja chilena experimentou “uma transformação em seu centro”. E argumenta esse ponto destacando que esta instituição “se ensimesmou de tal forma que as consequências de todo este processo tiveram um preço muito alto: seu pecado se tornou o centro da atenção. A dolorosa e vergonhosa constatação de abusos sexuais contra menores, de abusos de poder e de consciência por parte de ministros da Igreja, assim como a forma em que estas situações foram abordadas, deixa em evidência esta mudança de centro”.
No texto, o Papa aponta que “nunca um indivíduo ou um grupo ilustrado pode pretender ser a totalidade do Povo de Deus e menos ainda se acreditar a voz autêntica de sua interpretação”. E alude, com o termo “psicologia de elite”, ao que vive a hierarquia da Igreja chilena: “Acaba gerando dinâmicas de divisão, separação, círculos fechados que desembocam em espiritualidades narcisistas e autoritárias, nas quais, no lugar de evangelizar, o importante é se sentir especial, diferente dos outros”.
O Pontífice pede para se gerar “dinâmicas eclesiais”, “promover a participação e missão compartilhada de todos os integrantes da comunidade”.
Também critica diretamente “a atitude” de alguns bispos diante dos “acontecimentos presentes e passados”, e aborda o tema de eventuais remoções apontando para o funcionamento da estrutura: “Os problemas que hoje são vividos dentro da comunidade eclesial não se solucionam somente abordando os casos concretos e os reduzindo a remoção de pessoas. Isto – digo claramente – é necessário fazer, mas não é suficiente, é preciso ir além”.
Um ponto relevante do documento está na nota de rodapé, onde o Papa se refere aos “males”.
Nesta parte, diz que seus enviados especiais (Scicluna e Bertomeu) confirmaram que a alguns religiosos, expulsos de sua ordem “por causa da imoralidade de sua conduta e após se ter minimizado a absoluta gravidade de seus fatos criminosos (...), teriam sido confiados cargos diocesanos ou paroquiais que implicam um contato cotidiano e direto com menores de idade”.
E se detém em três situações. A primeira são os defeitos no modo de receber as denúncias. A segunda é que lhe causa “perplexidade e vergonha” a existência de pressões, inclusive com queima de documentos, por parte daqueles que conduziam as investigações. E a terceira é constatar que, “no caso de muitos abusadores, já foram detectados graves problemas neles em sua etapa de formação no seminário ou noviciado. Constam nas atas da Missão especial graves acusações contra alguns bispos e superiores, que teriam confiado tais instituições educativas a sacerdotes suspeitos de homossexualidade ativa”.
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Papa confirma remoções e mudanças na Igreja chilena em dura carta aos bispos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU