15 Outubro 2021
O arcebispo de Viena explica ao Vatican News em que a Igreja - como desejado pelo Papa ao iniciar o processo sinodal - deveria ser diferente. O purpurado salienta que "participar do sofrimento dos outros é a coisa humana mais elementar do homem". E sobre o pedido de alguns países europeus para erguer muros para deter os migrantes, adverte: nunca funcionaram.
O cardeal e arcebispo de Viena Christoph Schönborn participou de numerosos Sínodos elogiando, nas últimas convocações, o método cada vez mais favorável a uma dimensão profunda e prolongada de escuta das vozes na Igreja. É o que ele também manifesta no início do percurso inaugurado no domingo passado com a Santa Missa na Basílica de São Pedro, presidida pelo Papa.
A entrevista com Christoph Schönborn é de Antonella Palermo, publicada por Vatican News, 13-10-2021.
Abrindo o caminho sinodal, o Papa Francisco, citando o padre Yves Congar, disse que não é preciso fazer outra Igreja, mas uma "Igreja diferente". Em que, Eminência, a Igreja deveria ser diferente?
Mais escuta, não para calar, mas para ouvir mais do que o povo de Deus, sobretudo as pessoas que estão no sofrimento, vivem. Escutar o que Deus nos diz pela situação de tantas pessoas. Um apelo ao que está no coração da Igreja: a compaixão. Aqui em Roma vocês têm belos testemunhos deste espírito de compaixão, de presença, de proximidade. Estas são as coisas que, penso eu, o Papa quer dizer quando diz "não outra Igreja, mas uma Igreja diferente".
A que experiências, em particular, o senhor se refere?
Por exemplo, a Comunidade de Sant'Egidio é um belo exemplo já há tantos anos, e depois há Chiara Amirante... maravilhoso este grupo ao redor dela! São sinais de uma Igreja diferente, que vive a proximidade. É o que vemos em Jesus quando ele encontra a viúva que perdeu seu único filho: o Evangelho diz que "ficou comovido de compaixão". Participar do sofrimento dos outros é a coisa humana mais elementar do homem. Esta capacidade, Jesus quis que fosse o selo da Igreja.
Que valor agregado a fase de consulta do povo de Deus dá a este Sínodo?
Em todos os Sínodos houve uma consulta. O Santo Padre quer que esta escuta, vamos chamá-la assim, seja estendida para além de nossas comunidades, às vezes bastante fechadas. Ou, digamos, fosse vivida a escuta daqueles que não compartilham nossa fé, mas que muitas vezes vivem as virtudes do Evangelho, os valores do Evangelho. Muitos se perguntam: o que fazer depois com esta escuta? Penso que o Papa não quer programas de ação. Temos tantos, são uma coisa boa... a Caritas que opera em todo o mundo. Isso é ótimo. Mas há uma outra dimensão que faz comunidade, que faz comunhão, participação, escuta. Comunhão significa compartilhar: disto nasce um conceito de missão que não é proselitismo, mas atração, como dizia o Papa Bento XVI. A Igreja não cresce com o proselitismo, mas com a atração. Aquela atração da qual, como diz o profeta: quando os pagãos virem, dirão: Deus está entre vós.
Cardeal Schonborn entrevistado por Antonella Palermo no Estúdio 9 (Foto: Vatican Media)
Na sua opinião, podemos considerar este Sínodo como uma oportunidade para realizar plenamente o que ainda falta para a plena implementação do Concílio Vaticano II?
Absolutamente. A acolhida de um Concílio ecumênico é sempre um longo processo. Considere o primeiro grande Concílio ecumênico de Nicéia. Celebraremos o Jubileu em 2025: durante três, quatro séculos, a Igreja teve que digerir, assimilar esta grande abertura de uma janela sobre o infinito, sobre o mistério de Deus. O Concílio de Trento: foram necessários trezentos anos em algumas dioceses, 250 anos em Viena para colocá-lo em prática. E todo grande Concílio é um 'furacão' do Espírito Santo, mas precisa de tempo, e o Papa Francisco, como Bento XVI e João Paulo II, sempre teve esta intuição do 'povo de Deus'. Todos somos povo de Deus e a presença de Deus no mundo. E é por isso a importância da oração - o Papa Francisco reiterou isto ao Conselho sinodal - a escuta interior do que o Espírito Santo nos diz.
Eminência, falamos substancialmente de uma Igreja "sem muros". Para concluir, gostaria de abordar com o senhor um assunto que tem a ver com outros muros. Doze países europeus pediram à presidência da UE para erigir novos instrumentos para proteger suas fronteiras externas diante dos fluxos migratórios, incluindo o financiamento da construção de muros. Como o senhor vê este pedido? Traz-lhe preocupação?
Eu tenho uma visão histórica muito realista: nunca funcionaram! Muros – veja os limites do Império Romano, veja as Muralhas Aurelianas de Roma - não impediram a chegada dos chamados "bárbaros". Assim também para a Grande Muralha da China. Todos esses esforços são compreendidos, há medo, há perigo, perigo real, sim, não devemos esquecer isso, mas há outros caminhos. A Europa é rica, a Europa pode fazer muito mais para ajudar os países pobres, para que as pessoas não tenham mais que sair de seu país. O Papa já o disse muitas vezes... O mercado de armas europeu, americano, russo e chinês produz "rios" de migração. Não nos surpreendamos que venham, se nós vendermos as armas, se praticamos a política de exploração dos países pobres, se não lutarmos contra a corrupção nesses países para ajudar as pessoas a viver. Eu estive na Síria recentemente. Vi antes de tudo os cristãos, ouvi muitos jovens dizerem: "Queremos partir porque aqui não há futuro". Mas por que não há futuro? Porque as grandes potências não estão fazendo a paz. Armaram as milícias, estão ali com suas armas, em vez de fazer a paz e permitir que as pessoas vivam e talvez até retornem ao seu país. Então como podemos nos surpreender com a vinda de refugiados e qual é nosso papel na "produção" de refugiados?
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Schönborn: mais compaixão e senso de comunidade na Igreja - Instituto Humanitas Unisinos - IHU