30 Setembro 2021
O Papa Francisco confirmou o cardeal Rainer Maria Woelki no cargo de cardeal arcebispo de Colônia, e lhe deu alguns meses para refletir sobre os eventos que o levaram a oferecer sua renúncia ao Papa. O cardeal foi acusado de proteger padres acusados de abusos sexuais.
A reportagem é de Christa Pongratz-Lipitt, publicada por The Tablet, 28-09-2021. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
A reação do presidente da Conferência Episcopal Alemã, dom Georg Bätzing, de Limburg, nos jornais foi cautelosa. “Eu aceito a decisão do Santo Padre e espero que o processo de reconciliação na Arquidiocese de Colônia comece agora. Eu não posso julgar se isso pode levar a uma situação fundamentalmente diferente”, declarou Bätzing, em 24 de setembro. Roma estava obviamente tentando “mexer as coisas tendo em vista reconquistar a confiança na liderança episcopal, a qual tem sido seriamente atingida para além de Colônia, e está atingindo toda a Igreja”, pontuou.
A decisão do Papa de dar a Woelki um período de retiro lembrou, disse Bätzing, de uma decisão similar de Francisco no caso do seu predecessor na Diocese de Limburg, dom Franz-Peter Tebartz-van Elst, apelidado de “Bispo da Ostentação” por sua extravagância, a quem o Papa também deu um tempo de retiro em 2013.
Woelki estava otimista depois do anúncio. “Eu tive uma longa conversa com o Santo Padre e ele deixou muito claro o quanto ele conta comigo. Ele particularmente destacou as decisões e determinações com as quais nós em Colônia tentamos esclarecer os abusos sexuais do clero em nossa arquidiocese”, falou Woelki aos jornalistas quando retornou de uma viagem de uma semana a Roma. Ele admitiu que cometeu erros – “especialmente de comunicação” – e mais uma vez se desculpou profundamente com as vítimas.
Ele estava profundamente grato ao Papa Francisco por lhe dar o retiro de alguns meses, começando em meados de outubro. “Eu voltarei ao cargo na primavera (do hemisfério norte) e nós então poderemos trabalhar juntos com toda força para o futuro da Igreja em Colônia”, destacou.
A reação à decisão do Papa na Igreja em geral foi hostil. “Não consigo entender a decisão do Vaticano”, disse Thomas Sternberg, presidente do Comitê Central dos Católicos – ZdK, a maior organização de leigos do país. Deve haver uma garantia de que as conversas serão mantidas com os fiéis e as vítimas durante o “tempo de retiro” de Woelki. “Uma licença não é suficiente e não vai resolver a crise, pois não vai recuperar a perda de confiança”, enfatizou.
A decisão do papa de deixar Woelki no cargo foi uma “declaração de falência moral”, disse Thomas Schüller, da Universidade de Münster, um dos principais teólogos da Alemanha, à emissora alemã WDR. Francisco continuou insistindo que haveria tolerância zero para os perpetradores e aqueles que encobriram o abuso sexual clerical, mas quando as coisas ficaram sérias “essa rigidez é suavizada e os bispos permanecem no cargo e ficam de castigo, o que é uma bofetada no rosto pelas vítimas”.
O conhecido jornalista alemão Daniel Deckers comentando no Frankfurter Allgemeine Zeitung foi mais longe, criticando diretamente o Papa.
“Parece que a confiança na liderança episcopal foi irremediavelmente perdida – muito além de Hamburgo e Colônia e agora inclui a confiança na integridade do bispo de Roma”, disse Deckers.
O vice-presidente da Conferência, dom Franz-Josef Bode, disse que o aumento no número de católicos deixando a Igreja na Alemanha é “extremamente preocupante”. Católicos comprometidos “na melhor faixa etária” estavam indo embora e ele temia que isso tivesse um “efeito de sucção” e eles levassem outros com eles. “Ninguém quer estar em um navio que está afundando”, destacou. As muitas conversas que ele manteve com vítimas de abuso sexual clerical nos últimos anos quase o fizeram perder a fé, ele admitiu.
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Alemanha. Católicos estão confusos com a decisão do Papa sobre o cardeal Rainer Maria Woelki - Instituto Humanitas Unisinos - IHU