12 Agosto 2021
"A sustentabilidade realmente orientará nossos passos quando aprendermos a fazer o exercício de manter unido o que, ao contrário, a nossa organização social está continuamente desagregando", escreve Mauro Magatti, sociólogo e economista italiano, em artigo publicado por Avvenire, 11-08-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
Como sempre acontece, a aproximação das eleições administrativas agita o mundo da política. Muitas das tensões que têm abalado a maioria do governo nas últimas semanas (a justiça, o green pass, o projeto de lei Zan) nada mais são do que a tentativa de vários líderes partidários de plantar bandeiras em vista da votação de outubro.
Uma dinâmica que não surpreende e que faz parte da ordem das coisas: com realismo, os políticos profissionais sabem que a sua sobrevivência está ligada a esses momentos de encontro menores e às tensões internas que se seguem.
Infelizmente, porém, essa forma de raciocinar constitui um dos problemas básicos que devemos tentar superar. De nada adianta encher a boca com a palavra 'sustentabilidade' se, depois, tudo permanecer como antes.
Vivemos num tempo em que é cada vez mais evidente que os problemas de hoje não podem ser enfrentados com a lógica especialista que dominou as últimas décadas. Porque, como reza um aforismo de Marshall McLuhan, "o especialista é aquele que nunca comete pequenos erros enquanto avança para um grande erro". Quando se fala em sustentabilidade - um termo sintético que indica a mudança de paradigma de que precisamos para olhar para o futuro com esperança - basicamente queremos dizer duas coisas: a primeira é a superação do horizonte de curto prazo para almejar objetivos mais ambiciosos que exigem tempo e paciência ("o tempo é superior ao espaço"). A segunda é que em um mundo onde tantos planos estão inter-relacionados entre si - isto é, onde "tudo está conectado" – é necessário um olhar integral capaz de ligar os especialismos e os localismos em uma visão unitária (onde "o todo é superior à parte").
O grande sociólogo alemão Niklas Luhmann já havia explicado isso há muitos anos. O mundo contemporâneo é um sistema complexo organizado em subsistemas especializados que operam de acordo com uma lógica interna precisa: se você for uma empresa de mercado, tem que ter lucro; se você for um político, você tem que ganhar a eleição; se você for um pesquisador, deve publicar em revistas científicas, etc.
Cada subsistema define assim as suas próprias prioridades que, além de parciais (isto é, determinadas pela lógica do seu funcionamento interno), são ordenadas segundo o critério da urgência.
Não se faz o que é mais importante, mas o que é mais urgente: o trimestral para as empresas, o concurso universitário para o pesquisador, as eleições administrativas para a política.
Com a consequência de negligenciar os objetivos mais exigentes, que servem para realmente mudar as coisas e dar sentido ao que se faz.
Se na situação cada vez mais delicada em que nos encontramos nos mantivermos encerrados nesta lógica 'subsistêmica', será impossível encaminhar-se realmente na direção da sustentabilidade.
Portanto, é necessária uma mudança de mentalidade: se você for empresário é, sim, importante ter lucro, mas com a condição de não destruir o planeta em que a sua empresa atua e de não explorar as pessoas que trabalham com você. É o que, felizmente, entenderam os empresários que buscam o lucro respeitando os vínculos ambientais e sociais. E que, ao investindo na qualidade e não na quantidade, transformam um vínculo em uma oportunidade. O mesmo vale também para o político que tem, sim, o problema de ganhar as eleições, mas com a condição de saber enfrentar e resolver realmente os complexos problemas da vida comum, sem se sujeitar aos ditames dos lobbies e sem se limitar a atender as demandas dos eleitores com o único objetivo de ver seu consenso crescer. Vimos isso nas últimas semanas a respeito do governo.
Enquanto Draghi e seu executivo tentam pressionar a classe política a ir além dos interesses da simples troca, ver os líderes engajados em fincar bandeiras levanta algumas dúvidas: mas a classe política é capaz daquele senso de responsabilidade tão essencial para enfrentar com sucesso o que está acontecendo com a pandemia?
Uma última observação: essa capacidade de manter unidos os diferentes aspectos da realidade e de ir além da lógica especialista e localista é própria do ser humano. Jamais haverá algum aparato institucional, nem instrumento técnico capaz de recompor criativamente o que acontece na realidade. De fato, é típico da razão do ser humano conseguir realizar aquele salto para além do que parece impossível, para encontrar novas possibilidades de vida. Mesmo quando parece não haver saída. Na vida social, econômica e política, é precisamente essa faculdade que permite encontrar soluções 'inteligentes'.
Sim, vão dizer que é difícil. E que os tantos vínculos da organização da nossa sociedade são demasiado rígidos: mas se nos deixarmos tomar pela resignação (o empresário só deve ter lucro, o político só deve ganhar as eleições, o pesquisador só deve publicar artigos científicos) diante do mundo que construímos, estamos realmente perdidos. Para além da retórica, a sustentabilidade realmente orientará nossos passos quando aprendermos a fazer o exercício de manter unido o que, ao contrário, a nossa organização social está continuamente desagregando.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Para além das pequenas lógicas. Artigo de Mauro Magatti - Instituto Humanitas Unisinos - IHU