Tudo está interligado, tanto na física quanto na teologia

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22 Mai 2020

Tudo está conectado. “Tudo está interligado” (LS 92; 120) é um refrão da encíclica Laudato si’ do Papa Francisco. De fato, está crescendo a percepção de que todas as coisas estão ligadas a todas as outras.

A reportagem é de John Chalny, em artigo publicado em L’Osservatore Romano, 21-05-2020. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Em 1962, Edward Lorenz observou que as equações diferenciais que descrevem dinâmicas complexas, como o clima, são tão sensíveis às condições iniciais que até mesmo o bater de asas de uma gaivota poderia mudar o tempo. Tudo está conectado, da borboleta ao furacão.

Ainda em 1962, Rachel Carson publicou "Primavera silenciosa" (Ed. Gaia), que levou ao conhecimento do grande público estadunidense os efeitos dos produtos fitossanitários na agricultura e em todo o ecossistema global.

Em 1997, a pesquisa de doutorado de Suzanne Simard deu início a uma nova compreensão das florestas. As suas afirmações pareciam vagos “sentimentos nova era”, mas depois Simard mostrou que as bétulas e os abetos em uma floresta do Canadá compartilham os nutrientes, através de uma rede de filamentos de fungos, chamada de rede micorrízica.

Desde então, centenas de estudos confirmaram e aprofundaram as consequências surpreendentes dessa primeira pesquisa. As plantas de espécies diferentes se ajudam a crescer juntas, comunicam-se.

E eis que, há um mês, no dia 14 de abril de 2020, um novo paradigma científico empurra ainda mais o olhar para a percepção do mundo como uma grande unidade em que tudo está interconectado.

O físico e matemático britânico Stephen Wolfram começou a publicação de uma pesquisa que ele acredita que poderia levar a uma “teoria de tudo”, há anos o santo graal da física. Não é a primeira vez que se ouve essa promessa; portanto, um pouco de ceticismo é natural entre os adeptos aos trabalhos.

A pesquisa de Wolfram tem ao seu lado um grande entusiasmo e a ajuda de dois jovens físicos, Max Piskunov e Jonathan Gorard, e é precisamente a eles que se deve o projeto, que Wolfram havia deixado na gaveta anos atrás e que retomou por causa da insistência desses dois estudantes da sua escola de verão.

Em vez de conceituar o mundo como uma grande caixa vazia com objetos que se deslocam no vácuo, ou como uma série de teorias precisas, mas incompatíveis entre si, o grupo de Wolfram parte de uma visão conceitual da teoria dos grafos, o estudo de redes de nós e as relações entre eles. Ela nasceu como um modo de organizar uma grande quantidade de dados, como um banco de dados relacional, mas com um programa também se pode modelar a evolução dos nós e das suas relações ao longo do tempo.

Assemelha-se ao Life, o mais famoso dos programas de autômatos celulares dos anos 1970-1980, revisados e aprimorados através das máquinas de cálculo e os instrumentos de visualização mais recentes (é preciso ver um gráfico para entender: aqui em existem muitos link para explorar).

Os nós e as suas relações são puramente abstratos inicialmente. Não simbolizam nada. Mas, na aplicação reiterada de regras simples, Wolfram notou que eles podem crescer até se assemelharem a muitas estruturas e dinâmicas da física. É possível descobrir a “regra de regras” que faz com que todas as estruturas da física se desenvolvam? Talvez.

Na apresentação no YouTube, o físico detalhou algumas dessas convergências. Com regras específicas, o gráfico chegou a descrever a dinâmica da relatividade geral de Einstein. Ele também consegue modelar a física quântica. E já aqui, se o modelo ainda hoje embrionário funcionasse definitivamente, seria uma descoberta extraordinária.

Durante 100 anos, os cientistas souberam que a relatividade geral de Einstein funciona de modo excepcional, e sabe-se que a física quântica é a mais precisa teoria do mundo já feita. Porém, elas se apoiam em duas visões fundamentalmente diferentes do mundo. Conseguir compreendê-las em um único olhar seria um grande passo.

Enquanto isso, Wolfram convidou pesquisadores de todo o mundo para contribuir com o projeto, para olhar os dados, fazer objeções e descobrir juntos. “Vamos lá, descubramos juntos a teoria fundamental da física! Será maravilhoso!”, escreve ele na página introdutória do projeto.

É precisamente a estrutura da teoria de Wolfram que oferece uma abertura interessante também para os teólogos. A não comunicação entre física e teologia se deve em parte à distância conceitual entre matéria e espírito. Mas e se o conceito fundamental de toda a realidade, matéria e espírito, árvores e florestas, borboletas e tempestades, fosse a relação, tanto na física quanto na teologia?

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