06 Julho 2020
Em meio à crise que atinge o mundo pela pandemia, em meio à obscuridade provocada pelos sucessivos focos dos ânimos bélicos e as guerras tecnológicas, quando os maiores economistas reconhecem a abismal desigualdade entre os habitantes produzida pela acromegalia capitalista e a ampliação da miséria, em meio a esse caos, um fogo que ilumina e uma ordem que como uma flecha se dirige ao coração da cultura.
A reportagem é de Hernán Bernasconi, publicada por Infobae, 28-06-2020. A tradução é do Cepat.
Frente à realidade das universidades que (de)formam os jovens velhos da cultura individualista, o Papa falou. Em uma reunião virtual com convidados de todo o mundo, Francisco pronunciou o discurso inaugural de uma nova universidade: a do sentido. E fez isso no marco da fundação criada também por iniciativa pontifícia chamada: Scholas Ocurrentes.
“A fundação Scholas – disse o Papa em seu discurso inaugural, no último dia 5 de junho passado – esteve acompanhada por três imagens que me guiaram: a cena do filme “La strada” de Fellini (1954) (nele o louco conversa com Gelsomina - angustiada pela falta de sentido de sua existência, diante da prisão de Zampano - e lhe diz que neste mundo tudo tem um sentido. Após pegar algo no chão, acrescenta “até esta pedra tem”); a imagem do “chamado” ou a Vocação de Mateus, pintura de Caravaggio (1599-1601) (nela Jesus entra em uma taberna onde estão reunidos cobradores de impostos e aponta e chama Mateus); e a imagem do romance “O idiota” de Dostoievski (nele o genial escritor russo narra a história do príncipe Lev Nikolayevich Mishkin, de extraordinária humildade, beleza e simplicidade). Destas imagens exemplares toma “três conceitos: o sentido, o chamado e a beleza” (como valor transcendental).
Para o Pontífice, a “crise significa ruptura, perigo, mas também oportunidade, abertura”. Em momentos de crises, invade-nos o medo, nós nos fechamos como indivíduos, esvaziamos de “sentido, cobrindo o próprio chamado, perdendo a beleza”, afirmou. Isto é o que acontece quando se atravessa uma crise sozinho, sem reservas.
“Scholas nasceu de uma crise, e saiu para escutar o coração dos jovens, cultivar a realidade nova. Buscando uma alternativa para responder à crise”, disse o Santo Padre.
“E isso é educar. A educação escuta, ou não educa. Se não escuta, não educa. A educação cria cultura, ou não educa. A educação nos ensina a celebrar, ou não educa”.
“Educar é ir escutando, criando e celebrando a vida, e é o que Scholas Occurrentes tem feito desde sua fundação”.
“Harmonizando a linguagem do pensamento com os sentimentos e as ações... É o que continuamente lhes disse em nossos encontros: linguagem da cabeça, do coração e das mãos, sincronizadas. Cabeça, coração e mãos crescendo harmonicamente”.
“Assim, pude ver nesta fundação professores e alunos japoneses dançando com colombianos. Jovens de Israel jogando com os da Palestina. Estudantes do Haiti pensando com os de Dubai. Crianças de Moçambique pintando com as de Portugal. Vi isto em encontros organizados por Scholas, vi – disse o Papa – entre Oriente e Ocidente, uma oliveira criando cultura do encontro”.
“A cultura do encontro – afirmou o Papa Francisco – reúne o sonho das crianças e os jovens com a experiência dos adultos e os velhos. Esse encontro precisa acontecer sempre, caso contrário, não há humanidade. Sem esse encontro não há raízes, não há história, não há promessa, não há crescimento, não há sonhos, não há profecia”.
E Francisco concluiu: “Sigam semeando e colhendo, com o sorriso, com o risco, mas todos juntos e sempre de mãos dadas para superar qualquer crise”.
Seria impertinente da parte de nossa crônica responder a essa pergunta, mas sem dúvidas deve surgir na cabeça do leitor, razão pela qual cabe se perguntar: será que não está dizendo algo às 1.865 universidades católicas que há em todo o mundo? Em outras palavras, assim como o Bispo de Roma fala em “uma igreja em saída”, da “igreja de fronteira”, é válido pensar o próprio das universidades? Talvez professores com cheiro de ovelha? Sua estrutura e sua missão não podem ser icônicas a sua verdade ontológica?
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O Papa Francisco e a universidade do sentido - Instituto Humanitas Unisinos - IHU