16 Mai 2020
O avanço do COVID-19 entre os povos indígenas da Pan-Amazônia é uma realidade cada vez mais preocupante. Todos os dias há mais pessoas infectadas e falecidas entre os povos indígenas, informações que na maioria dos casos só são divulgadas pelas organizações indígenas, uma vez que os números fornecidos pelos governos dos diferentes países são claramente subnotificados, sendo ignorados, na maioria dos casos, os povos indígenas.
A nota é de Luis Miguel Modino.
Nesta sexta-feira, 15 de maio, a Coordenação das Organizações Indígenas da Bacia Amazônica - COICA e a Rede Eclesial Pan-Amazônica - REPAM, apresentaram um documento em construção chamado Boletim: Impacto do Covid-19 sobre os Povos Indígenas da Pan-Amazônia. O documento, que será atualizado periodicamente, segue o mesmo esquema que a REPAM está usando para fazer o relatório que coleta diariamente o número oficial de casos e óbitos do COVID-19 na Pan-Amazônia, que nesta quinta-feira já atingiu 58.102 casos confirmados e 3.554 mortes, números que aumentam bastante nos últimos dias, a ponto de dobrarem em 10 dias.
(Fonte: COICA e Repam)
O material divulgado mostra que, até o momento, o número de infectados entre os povos originários é de 526, com 113 mortes, sendo aproximadamente 33 os povos afetados. Esses números mostram a alta letalidade que a pandemia está tendo entre os indígenas, com 21,48%, consequência das baixas defesas imunológicas desses povos, algo que já teve sérias conseqüências em outros momentos da história, o que é aumentado pela falta de um sistema de saúde adequado. Entre os povos indígenas, a situação mais preocupante é no Brasil, com 249 casos e 70 mortes, e na Bolívia, com 25 casos e 7 falecidos, já que a taxa de mortalidade de casos, em ambos os casos, é de 28%. No caso da Colômbia, o número de mortos é 26, com 17% de mortes entre os afetados.
(Fonte: COICA e Repam)
A pandemia se une, como declarado na carta conjunta de lançamento da COICA e a REPAM, à "pressão permanente do modelo extrativista em seus territórios e à exclusão histórica dos direitos a serviços básicos e infraestrutura de saúde, transformando os povos indígenas da Amazônia em um setor extremamente frágil e vulnerável”. As consequências, se os diferentes governos, não apenas locais, mas globalmente, não se conscientizarem, podem ser catastróficas para os povos, os ecossistemas e nossa casa comum.
Nessa situação, tornou-se urgente que os Estados possam agir efetivamente, algo que se pretende com o instrumento lançado, desejando que seja uma ajuda aos povos, à Igreja, às organizações indígenas e a todas as pessoas comprometidas com essas causas, na tentativa de "promover compromissos sérios e profundos" e, ao mesmo tempo, responder à crise, que está aumentando a cada dia.
Podemos dizer que este é um novo instrumento que ajuda a continuar avançando no processo sinodal, que nas circunstâncias atuais se torna mais importante, pois chegou a hora de construir alianças comuns diante das crescentes ameaças que pairam sobre a Pan-Amazônia, ignorando a sabedoria dos povos originários e seu cuidado especial com tudo o que é criado, como a carta de lançamento nos lembra bem, inspirada em Querida Amazônia.
(Fonte: COICA e Repam)
Hoje, uma força enorme está atingindo a Amazônia de três vias que se combinam de maneira trágica: a pandemia de Covid-19, a pressão permanente do modelo extrativista em seus territórios e a exclusão histórica dos direitos a serviços básicos e infraestrutura de saúde, tornando os povos indígenas da Amazônia um setor extremamente frágil e vulnerável.
Diante disso, e como resposta urgente à complicada realidade da Amazônia, no âmbito dos princípios de cooperação e colaboração, após anos de proximidade como aliados na defesa da vida, a Coordenação de Organizações Indígenas da Bacia Amazônica - COICA e a Rede Eclesial Pan-Amazônica - REPAM, apresentam um documento em construção chamado Boletim: Impacto da Covid-19 nos Povos Indígenas da Panamazônia, a fim de tornar periodicamente visível a situação particular dos povos e comunidades indígenas da Amazônia em face da pandemia de COVID-19.
Além de um chamado aos Estados, para uma ação urgente e eficaz, esperamos que este instrumento ajude os próprios povos, a Igreja, as organizações aliadas e todas as pessoas comprometidas com essa causa, para uma posição, a fim de promover compromissos sérios e profundos, e responder concretamente a essa crescente crise.
"A sabedoria dos povos nativos da Amazônia inspira o cuidado e respeito à criação, com uma clara consciência de seus limites, proibindo seus abusos. Abusar da natureza significa abusar de antepassados, irmãos e irmãs, da criação e do Criador, hipotecando o futuro" (Querida Amazônia do Papa Francisco, nº 42).
Quito - Equador, 15 de maio de 2020.
José Gregorio Díaz Mirabal, Coordenador Geral da COICA
Mauricio López O., Secretário Executivo da REPAM
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COICA e REPAM apelam aos Estados da Pan-Amazônia para ações urgentes e efetivas em favor dos povos indígenas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU