14 Mai 2020
Gianni Mometti, padre missionário no estado brasileiro do Pará, explica que a Covid-19 está afetando principalmente cidades como Manaus e Belém e suas periferias superlotadas, mas também chegou às aldeias indígenas. Depois que for derrotado o vírus, uma solução para alimentar os pobres é o projeto de cultivo de arroz e criação integrada de peixes e porcos, que utiliza a abundância de água da Amazônia.
A entrevista é de Alessandro Di Bussolo, publicada por Vatican News, 13-05-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.
Nas periferias de Manaus e de Belém o boletim de contágio agora é dramático, "mas infelizmente a Covid-19 também alcançou as aldeias indígenas". Algumas comunidades ainda vivem no interior, mas os hospitais estão lotados e as pessoas morrem em casa, sem assistência.
Gianni Mometti, missionário de Brescia, 83 anos, no Brasil há mais de 60 anos, mostra um retrato dramático da pandemia na Amazônia brasileira, onde "os criminosos que destroem a floresta", o pulmão que fornece ao mundo um terço do oxigênio, podem agir sem serem incomodados. A polícia está envolvida nos controles dos contágios e, em dois meses, o corte de árvores mais do que triplicou. A economia de subsistência está parada, devido à quarentena imposta pelos governadores para conter a propagação do vírus.
Mas Padre Mometti também olha para o futuro: “Quando essa calamidade acabar - ele nos conta - uma solução para famílias sem trabalho e sem terra, pode ser nosso projeto ‘Novo Moisés’, que já sustenta 2500 famílias nas regiões de Bragantina e Salgado”, entregando a cada família 5 hectares sob concessão pelo Estado. Ao lado da lagoa para a criação de peixes, há uma área para o cultivo de arroz, e nas margens uma pocilga para porcos, que alimentam os peixes com o plâncton. As famílias envolvidas no projeto ainda não foram atingidas pela infecção, mas a situação em muitas áreas da Amazônia brasileira é desastrosa. "Estamos atrasados", repete Padre Gianni desconsolado.
"Este é um momento verdadeiramente sério e triste, que preocupa todos nós que moramos na Amazônia. Estamos atrasados porque se a assistência médica já era crítica antes dessa calamidade, imagine agora. As coisas realmente pioraram. Estamos fazendo todo o possível, por exemplo, aqui no Estado do Pará, temos um governador muito atento que conseguiu importar muitas máquinas da China e distribuí-las por todo o estado. Agora tentamos remediar, mas quando se parte já em atraso, é difícil resolver todos esses graves problemas".
As comunidades indígenas e famílias que você segue para sua missão têm atendimento médico suficiente? Os hospitais estão perto o suficiente?
Mesmo estando próximos, os hospitais estão lotados, não há mais leitos. Foram aumentados, mas ainda assim continuam insuficientes para as necessidades que existem.
A união na Igreja brasileira é grande, mas as possibilidades são mínimas: podemos ajudar com caridade, alimentação, mas nós também temos dificuldades em relação ao atendimento médico. A intervenção na Amazônia é muito urgente e, acima de tudo, para aumentar as chances de hospitalização daqueles que estão em situação grave, porque muitos estão em suas casas sem assistência e morrem em casa. Um garoto de 15 anos de idade entre os indígenas Yanomami, na fronteira com a Venezuela, morreu.
Na comunidade Xirixana, existem muitos casos, e essas tribos se uniram com aquelas de Roraima para pedir ajuda imediata de 5 milhões de reais para se preparar para combater a Covid-19. Podemos dizer que mesmo entre os índios esse maldito vírus conseguiu penetrar e ali as coisas serão muito difíceis, porque o transporte é difícil e as distâncias são muito grandes. Também oramos por eles que sejam os guardiões da nossa Amazônia.
Entre os portadores de hanseníase de Colônia do Prata, no município de Igarapé-Açu, onde prestei assistência por mais de 30 anos, não há nenhum caso, mas a assistência aos doentes foi mantida mesmo nessa dificuldade, eles vão para lá e são medicados. Devemos realmente agradecer a todos os agentes assistenciais da Fundação Marcelo Candia, nossos queridos voluntários, os médicos que também dão suas vidas para isso, tanto que o diretor do hospital da Divina Providência morreu outro dia justamente por esse vírus.
Qual é a situação entre as famílias envolvidas no projeto 'Novo Moisés'?
As famílias de criadores e agricultores que aderem ao nosso projeto vivem no interior, e não temos nenhum caso entre elas, porque estão longe dos focos da infecção. E assim ele ainda não chegou com tanta violência como nas capitais Belém e especialmente Manaus. Lá, o grave problema são as periferias, essas aglomerações de pessoas sem proteção, sem assistência médica. É um desastre, teremos que entrar em um acordo para salvar o salvável, mas acho que chegamos tarde demais. Se somarmos os 10 países da América do Sul, não chegam ao número de mortos de Manaus, portanto a situação é muito grave. Em Belém também estamos com 4000 infectados e 400 mortos. Ainda é uma situação que pode ser controlada.
Que impacto tem sobre a economia e a subsistência das famílias o bloqueio das atividades imposto para conter o contágio?
O impacto na economia é tremendo porque tudo parou; aliás, ontem o governador teve que intervir novamente para bloquear ainda mais porque em 10 cidades há um aumento desproporcional de contágios com percentuais gravíssimos. Parar tudo em uma economia como a nossa significa entrar em uma crise em todos os sentidos, alimentar e de assistência. É verdade que o governo concedeu às famílias uma ajuda de 600 reais, ou seja, 150 euros mais ou menos. Não se pode fazer muito com isso, mas já ajuda. E há as Caritas, com os outros movimentos paroquiais, que fazem todo o possível para nossas famílias pobres.
Como relançar, também para incentivar a retomada econômica no final da pandemia, o projeto 'Novo Moisés', que você também apresentou ao Sínodo para a Amazônia?
Justamente nos últimos dias, terminamos de preparar nosso site sobre o nosso projeto, porque, após essa calamidade, será essencial reorganizar todo o nosso pessoal pobre, especialmente aqueles que não têm terra, que não podem ter sustento. Será importante dar-lhes algo para viver e este nosso projeto 'Novo Moisés' pode ser uma solução, após esta terrível crise, para os pobres e para os agricultores. Porque a água continua a mesma na Amazônia.
Mas o ar não: infelizmente, aproveitando essa pandemia, os criminosos que destroem a floresta amazônica intervieram com toda a força, já que a floresta não é mais controlada, porque nossas forças policiais têm que controlar as cidades. Eles entraram na Amazônia e desmataram muita floresta. Nos meses de março e abril, destruíram 290% a mais do que o que foi destruído nos mesmos meses de 2019. Quando nossos governadores fizeram suas declarações de 14 pontos, deixaram claro o objetivo de reduzir a zero as intervenções criminosas que destroem a Amazônia. Mas agora eles estão empenhados com essa calamidade da Covid-19, com o objetivo principal de defender a vida de seus cidadãos. Mas seu compromisso de defender a Amazônia, acreditamos que será retomado após essa calamidade. Confiamos tudo a Nossa Senhora, Nossa Senhora de Nazaré, que é a rainha da Amazônia, e a Nossa Senhora de Guadalupe, que é a imperatriz de toda a América Latina. Pedimos à nossa Mãe celestial que intervenha e acabe com esse vírus que está ceifando tantas vítimas.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Amazônia: o vírus entre os indígenas. A esperança para o futuro está na água - Instituto Humanitas Unisinos - IHU