09 Mai 2019
A Pública analisou mais de 2.200 tuítes de 54 simpatizantes de Olavo de Carvalho para entender como buscam influenciar a agenda da educação no governo Bolsonaro
A reportagem é de Ethel Rudnitzki e Rafael Oliveira, publicada por Agência Pública, 07-05-2019. Os Infográficos são de Bruno Fonseca.
“Escola, no Brasil, tem servido somente para fornecer diariamente alimento e abrigo a crianças de famílias pobres ou miseráveis que, infelizmente, não podem dar a elas um sustento digno. Apenas isto. Melhor é que os próprios pais, grande parte deles analfabetos funcionais, eduquem, com amor, seus próprios filhos, do que deixar estes últimos, compulsoriamente, à mercê de um sistema educacional que já se provou totalmente imbecilizante”, tuitou o youtuber Bernardo P. Küster no dia 8 de abril deste ano, dia da nomeação do novo ministro da Educação, Abraham Weintraub.
A thread – fio de postagens no Twitter – de Küster é apenas uma das muitas publicações de simpatizantes das ideias de Olavo de Carvalho com pitacos sobre a condução da educação no Brasil. O Ministério da Educação (MEC), um dos mais cobiçados pelo grupo, é comandado por Weintraub, aluno de Olavo de Carvalho. Seu antecessor, Ricardo Vélez Rodríguez, foi indicado pelo escritor. Além dos dois ministros, pelo menos nove olavistas ocupam ou ocuparam cargos na pasta.
Ao lado de assessores do ministério, membros de sites pró-governo e influenciadores digitais simpáticos a Olavo de Carvalho se engajaram nas pautas de educação no Twitter. Além de defender a nomeação de Vélez ao cargo – e depois pedir sua cabeça –, o grupo influenciou na exoneração de nomes ligados ao Exército, defendeu a retirada de Paulo Freire como patrono da educação e articulou a “Lava Jato da Educação” – iniciativa que pretende “investigar medidas adotadas em gestões anteriores”, mas que ainda não apresentou resultados.
“O Ministro Vélez acabou se voltando contra o grupo que trabalhou nas redes sociais pela sua ida ao ministério, que intercedeu por ele junto ao governo, que o defendeu na Internet, que organizou a Lava Jato da Educação e tem o maior interesse na sua execução, que são os Olavetes”, publicou Pedro Medeiros em 11 de março.
Agindo de maneira coordenada, os olavistas têm entre suas bandeiras o combate ao que chamam de “marxismo cultural”, a mudança na política de alfabetização nacional, a defesa do ensino domiciliar e até o fim do ministério.
A Pública monitorou todas as postagens que mencionavam o MEC ou educação de 54 perfis que se declaram alunos de Olavo de Carvalho ou que demonstraram recorrente apoio às opiniões do escritor.
Foram 986 tuítes publicados nos últimos seis meses – da eleição de Bolsonaro, em 28 de outubro de 2018, até 30 de abril deste ano – e, a partir deles, a Pública mapeou quais são as maiores demandas do grupo sobre o tema.
Também foram quantificadas as postagens que mencionavam Olavo de Carvalho para estabelecer a relação do professor com seus alunos e admiradores. Os 54 perfis analisados publicaram 1.298 tuítes mencionando o autoproclamado filósofo no período.
Cerca de 40% das contas monitoradas fazem parte de sites alternativos de apoio ao governo Bolsonaro, como os portais Terça Livre, Senso Incomum, Conexão Política, Reaçonaria, Renova Mídia e Brasil Paralelo. Outros são representantes de movimentos civis, como os fundadores do Movimento Brasil Conservador (MBC), Anderson Sandes, Henrique Olliveira, Maurício Costa e Rodrigo Moller; Bene Barbosa, do Movimento Viva Brasil; e Dom Lancellotti, do Gays Com Bolsonaro. Outros 21 perfis são apenas influenciadores no Twitter. Somados – desconsiderando seguidores em comum –, esses perfis são seguidos por 4,5 milhões de contas.
As contas que mais mencionaram temáticas relacionadas ao MEC no período foram também aquelas que mais citaram o autoproclamado filósofo Olavo de Carvalho. Foram ao menos 986 tuítes sobre o MEC e 1.298 sobre Olavo.
Temáticas comentadas por Olavistas no Twiter (Infográfico: Bruno Fonseca)
O perfil recordista de menções em ambos os casos foi o “Pepe Templário” – nome que faz referência ao personagem “Pepe, the frog”, recorrentemente utilizado pela extrema direita. Antes conhecida como “Cavaleiro Templário”, em alusão aos soldados das Cruzadas, a conta tem 10,6 mil seguidores e citou Olavo de Carvalho em 255 tuítes – 19% do total, ou uma em cada cinco postagens. Além disso, somou 154 tuítes sobre o MEC, 15% de todos os posts analisados sobre o assunto. Os primeiros tuítes, em defesa do ex-ministro Ricardo Vélez, datam de 25 de março.
Em 7 de abril, um dia antes da exoneração de Vélez, “Pepe Templário” se antecipou à demissão do colombiano e foi o primeiro a defender Abraham Weintraub para o MEC, afirmando que ele seria “um ministro moedor de comunista". A nomeação, que não era esperada pela imprensa – eram ventilados nomes como o do ex-secretário adjunto da Secretaria Executiva do MEC Eduardo Melo e do ex-ministro Mendonça Filho – foi anunciada no dia seguinte.
O segundo perfil com mais publicações – tanto sobre o MEC quanto sobre o escritor – é o de Pedro Medeiros, que tem 10,4 mil seguidores na rede social e é aluno do Curso On-line de Filosofia ministrado por Olavo. Em pouco mais de 3 mil tuítes, Medeiros mencionou assuntos relacionados ao Ministério da Educação 136 vezes e citou Olavo de Carvalho em 120 oportunidades (9,2% do total). Ele admite que seu perfil é dedicado a dar pitacos no MEC. “Nos últimos dias, fiz cerca de 100 posts sobre o MEC. […] No total, deve ter uns 500”, publicou em 6 de abril. Em suas publicações Medeiros defendia Eduardo Melo para o cargo de ministro.
Outros três perfis ficaram entre os dez que mais mencionaram tanto Olavo quanto assuntos relacionados ao MEC. Dois deles, Allan dos Santos, editor-chefe do portal Terça Livre, e o perfil do portal Renova Mídia, são de sites pró-governo. O perfil de Allan foi o terceiro que mais mencionou o professor e o quarto que mais citou assuntos relacionados ao MEC no período monitorado. Já o Renova Mídia ficou em décimo lugar e terceiro lugar, respectivamente. O youtuber Bernardo P. Küster foi o outro perfil que ficou no top 10 em ambas as menções analisadas. Mencionou Olavo 40 vezes e o MEC, 34.
Além do interesse comum pela pauta da educação, os olavistas também se seguem mutuamente e interagem entre si, com retuítes e menções. O mais seguido pelo grupo é Bene Barbosa, líder armamentista do movimento “Viva Brasil” e autor do livro Mentiram para mim sobre o desarmamento. Ele é seguido por 50 dos 54 perfis monitorados (92%). Oitenta por cento dos perfis seguem Allan dos Santos, Filipe Martins – assessor especial da Presidência da República e aluno de Olavo –, Flávio Morgenstern – autor do podcast Guten Morgen – e o perfil oficial de Olavo de Carvalho, que estreou em março.
Perfis mais seguidos por Olavistas no Twitter (Infográfico: Bruno Fonseca)
Os quatro perfis dos olavistas mais seguidos pelos perfis monitorados receberam centenas de menções das contas analisadas. Desde a eleição de Bolsonaro, Allan dos Santos foi mencionado pelo menos 593 vezes e Flavio Morgenstern outras 227 vezes pelos 54 monitorados. As menções a Bene Barbosa foram ao menos 292 e a Filipe Martins, 260.
Os dois perfis mais ativos, Pepe Templário e Pedro Medeiros, se seguem mutuamente e costumam se retuitar. Ambos também são seguidos por olavistas mais populares, como Bene Barbosa e Dom Lancellotti, do movimento Gays com Bolsonaro.
“Há algum tipo de coordenação”, explica Márcio Moretto, pesquisador do Monitor do Debate Público nas Redes Sociais, do Gpopai, da USP. “Mas não é possível distinguir se é uma coordenação de um grupo que se organizou para fazer uma hashtag ou uma coordenação orgânica, por assim dizer, de um grupo de usuários que se conheceu na rede e tem os mesmo interesses daqueles sobre o que estão postando.”
Inicialmente festejado e depois criticado, o ex-ministro da Educação Ricardo Vélez foi mencionado 386 vezes pelos perfis monitorados. Pouco depois da eleição de Bolsonaro, em 1º de novembro de 2018, Bernardo P. Küster tuitou “o único nome que indico (e confio) para ministro da Educação é o prof. Ricardo Vélez Rodríguez”. Logo após a nomeação, em 22 de novembro, a escolha de Vélez foi comemorada pelo editor do portal Terça Livre, Allan dos Santos. “Meu senhor, que alívio ver a nomeação do Dr. Vélez para MEC […]”, tuitou Allan dos Santos.
Menos de cinco meses depois, o então ministro já era alvo de ataques nas redes.
O principal entrave para a administração de Vélez foi a disputa entre militares e técnicos ligados ao Centro Paula Souza — autarquia do governo estadual de São Paulo que administra escolas técnicas no estado —, contra os olavistas. Os militares, apontados como “positivistas”, foram mencionados 53 vezes em assuntos relacionados ao MEC por 13 dos perfis monitorados.
O coronel Ricardo Wagner Roquetti, assessor do ministro e membro da ala militar, foi apontado como responsável pelo “expurgo” de olavistas, quando Vélez demitiu quatro assessores olavistas entre 7 e 11 de abril. Outro apontado como responsável foi o ex-diretor do Centro Paula Souza, Luiz Antonio Tozi, então secretário executivo da pasta.
“O embate existente no governo não é, ao nosso ver, entre conservadores e militares. Mas entre os que têm compromisso com a pauta conservadora que elegeu Jair Bolsonaro e aqueles que não têm esse compromisso”, tuitou o portal Crítica Nacional em 10 de março.
Em resposta às demissões de olavistas, foram alavancadas campanhas no Twitter para exoneração desses outros nomes. A #ForaRoquetti foi criada em 9 de março e alavancada por Pedro Medeiros através de uma thread – fio de postagens no Twitter. Para Medeiros, Roquetti trabalhava para afastar o ministro Vélez dos assessores olavistas da pasta. A tag chegou aos assuntos mais comentados do Twitter no Brasil.
A postagem de Medeiros foi a segunda com maior número de republicações (1.105) com a tag. Também ficou entre as mais retuitadas (nono lugar, com 423 retuítes) uma publicação de Raphaella Avena, em que a youtuber recomendava aos seguidores que escutassem Olavo de Carvalho.
O coronel Roquetti foi mencionado 81 vezes, por 16 dos perfis monitorados. No dia seguinte ao início da hashtag, em 10 de março, o militar foi exonerado. Dois dias depois foi a vez de Luiz Antonio Tozi, que fora mencionado 26 vezes pelos olavistas monitorados.
Em 6 de abril, dois dias antes da exoneração de Vélez, o influenciador digital Smith Hays pediu que Bolsonaro “jogasse na rede” possíveis nomes para o cargo para que o Twitter escolhesse. “Bolsonaro, se for trocar mesmo o Vélez, jogue o nome na rede antes. Faremos uma investigação profunda de postagens antigas para saber exatamente quem é, e, se for FDP, será exposto a tempo, antes de fazer c*gada no MEC rsrs”, publicou.
O nome de Weintraub foi ventilado como possível substituto para Vélez, às vésperas da nomeação. O perfil Pepe Templário criou uma thread de tuítes no qual defendia a nomeação acompanhada pela #AbrahamnoMEC. Weintraub foi aluno de Olavo e, segundo o jornal Folha de S.Paulo, teve seu nome sugerido pelo ex-astrólogo.
Com a confirmação da nomeação, no dia 8 de abril, olavistas comemoraram no Twitter. “Abraham Weintraub chegou defendendo o ‘combate ao marxismo cultural’. Levando em conta que o MEC é um antro de marxistas, ele é perfeito para o cargo”, publicou Henrique Olliveira, do Movimento Brasil Conservador (MBC).
Para o pesquisador Márcio Moretto, as respostas que o governo deu a essas manifestações nas redes mostra que ele é sensível à sua base. “Isso não significa que ele é sensível à sua base popular, mas a uma parte da base que é aquela que o elegeu”, diz. Atender às demandas das redes, analisa ele, faz parte de uma estratégia populista. “É a sensação de que o governo está de alguma forma subordinado ao povo, e essa sensação de controle está associada com as redes sociais.”
O interesse de Olavo de Carvalho pela educação brasileira está relacionado à teoria conspiratória defendida pelo professor e seus seguidores de que há um movimento global pela destruição da “cultura ocidental”. Para ele, os “globalistas” tentam conquistar a hegemonia através da cultura, ocupando os espaços intelectuais, como as escolas e as universidades. É o que Olavo chama de “marxismo cultural”.
Não à toa, a principal demanda dos perfis analisados é a eliminação de “ideais de esquerda” nas escolas e universidades. Essa foi a temática mais presente nas postagens relacionadas ao MEC no período: cerca de 9% dos tuítes que tratavam de educação mencionaram o “marxismo cultural” ou a presença de uma doutrinação de esquerda nas escolas e universidades. Dos 54 perfis monitorados, quase metade mencionou a temática.
Em palestra na Cúpula Conservadora, em dezembro de 2018, o atual ministro da Educação, Abraham Weintraub, e seu irmão, Arthur, defenderam o “expurgo do marxismo cultural” das universidades do Brasil. Para eles, os conservadores devem adaptar as ideias de Carvalho para fazer frente aos militantes de esquerda.
Mas Olavo de Carvalho vai além. Para ele, o “Brasil tem a pior educação do mundo”. Ele defende a desregulamentação da educação e diz que o “erro essencial” é a ideia de que “o Governo Federal tem que educar a nação”. Para ele, o Brasil “precisa ter a chance de educar a si mesmo”.
Seguindo o mestre, muitos olavistas defendem na rede a própria dissolução do MEC.
A ideia foi mencionada por pelo menos quatro dos perfis monitorados: Allan dos Santos, Italo Lorenzon, Anderson Sandes e Winston Ling. Juntos, esses perfis somam cerca de 279 mil seguidores. “Quem criou o MEC foi um fascista. Por isso você não verá nenhum socialista criticando a existência deste ministério. Sonho, antes de morrer, em ver o fim do MEC”, tuitou Allan em 5 de novembro.
Logo após o segundo turno da eleição, em 31 de outubro, Anderson Sandes, cofundador do Movimento Brasil Conservador, comentou: “Tem que acabar com o MEC. A ideia de governo mandando em educação não me agrada”.
Apesar de alguns defenderem o fim da pasta, olavistas entraram no MEC para influenciar na condução da educação. Desde o começo do ano, pelo menos nove entusiastas de Olavo de Carvalho – além dos dois ministros – passaram pelo ministério.
Em quatro meses, pelo menos sete olavistas foram exonerados do MEC. São eles os ex-assessores Bruna Luiza Becker, Bruno Garschagen, Daniel Emer, Osmar Bernardes Junior, e Silvio Grimaldo, além de Eduardo Miranda Freire de Melo, ex-secretário adjunto da Secretaria Executiva do MEC, e Tiago Tondinelli, ex-chefe de gabinete. Permanecem no ministério os alunos de Olavo Carlos Nadalim, no cargo de secretário de Alfabetização, e Murilo Ferreira Resende, como assessor.
Os olavistas ocupam também outras pastas, como é o caso de Filipe Garcia Martins, assessor especial para assuntos internacionais da Presidência da República, e Ernesto Araújo, ministro das Relações Exteriores. No Congresso, Olavo também tem admiradores como deputados federais. É o caso de Bia Kicis (PSL-DF), Joice Hasselmann (PSL-SP), Paulo Eduardo Martins (PSC-SP) e Caroline de Toni (PSL-SC).
Até o final de março, somente com salários e bonificações, o governo federal gastou mais de meio milhão de reais (R$ 598.118,37) com funcionários ligados a Olavo de Carvalho no Executivo, segundo levantamento da Pública.
Os salários mais altos são os dos dois ministros (R$ 33.763,00 mensais em valores brutos, abatido o teto constitucional), seguidos por Filipe Martins, como assessor-chefe da Presidência, e Eduardo Melo e Carlos Nadalim, como secretários no MEC – o valor mensal é de R$ 16.944,90, mais as verbas indenizatórias e bonificações. Os quatro assessores especiais do MEC recebiam R$ 13.623,39 em salário bruto e os dois assessores comuns, R$ 10.373,30, mais as remunerações eventuais.
Alguns desses funcionários e ex-funcionários possuem especial influência no Twitter e, ao mesmo tempo, costumam levar os temas do ministério para as redes. É o caso de Filipe Martins, que tem 128.000 seguidores e usa as redes para fomentar polêmicas internas no governo. Martins citou o MEC quatro vezes desde a eleição de Bolsonaro. Ainda em novembro de 2018, ele refutava ideias “do tucanato” na educação do novo governo – entre as propostas consideradas “tucanas” estão a implementação da BNCC e a admiração às ideias de Paulo Freire. Em abril, defendeu a discussão da revogação do acordo ortográfico como maneira de proteger a língua pátria brasileira.
Por outro lado, Bruna Luiza Becker, Bruno Garschagen e Osmar Bernardes Junior tinham perfis ativos nas redes sociais até entrarem no MEC. Conhecida pelo usuário @brubas, Becker chegou a ter milhares de seguidores, mas excluiu seu perfil, reabrindo a conta em 8 de abril, mesmo dia em que Vélez foi substituído por Weintraub. A possibilidade de readmissão de olavistas pelo novo ministro foi comemorada por ela em publicação que foi apagada posteriormente. Osmar Bernardes também comemorou, com imagem de Olavo de Carvalho.
O ex-assessor do MEC, Silvio Grimaldo continua ativo nas redes sociais. No Twitter, sua rede menos ativa, ele anunciou o lançamento da Lava Jato da Educação. No Facebook, foi ele o responsável por denunciar pela primeira vez o “expurgo de olavetes” do MEC. Suas postagens no Facebook repercutiram também no Twitter: ele foi citado pelos perfis Terça Livre, Pepe Templário e Pedro Medeiros ao menos 23 vezes.
Bruna Luiza, Filipe Martins, Silvio Grimaldo e Osmar Bernardes Jr. foram incluídos no monitoramento da Pública. Entre janeiro e março, os salários e bonificações desses servidores e ex-servidores influentes nas redes somaram R$ 114.973,51 em gastos para o governo.
Segundo levantamento da Folha de S.Paulo, os servidores demitidos do MEC receberam auxílio moradia para a mudança para Brasília e ainda deverão receber auxílio para as mudanças de volta, um gasto de R$ 171 mil para os cofres públicos.
O educador Paulo Freire, formulador de método de alfabetização que leva seu nome, é um dos principais alvos de Olavo e de seus apoiadores. Em 29 de abril, Bolsonaro prometeu tirar de Freire o título de patrono da educação brasileira. No mesmo dia, a deputada federal Caroline de Toni, também aluna de Olavo, protocolou um projeto de lei para concretizar a promessa do presidente. Em vídeo, apresenta o projeto como homenagem ao mestre no dia de seu aniversário.
Dos perfis analisados pela Pública, 17 (31%) fizeram críticas ao educador. Entre as postagens, Henrique Olliveira chama Paulo Freire de “o maior câncer da educação neste país”. O educador foi mencionado em 32 tuítes e é frequentemente acusado de ser um “ideólogo marxista”.
Em oposição ao método de Freire, o MEC de Bolsonaro – e de Olavo – publicou em 11 de abril decreto que institui nova Política Nacional de Alfabetização (PNA), encabeçada pelo secretário de alfabetização Carlos Nadalim. Aluno do autoproclamado filósofo e indicado por ele para o cargo, Nadalim é defensor do ensino domiciliar e do método fônico de alfabetização, além de crítico ferrenho das ideias de Paulo Freire.
Nas redes, Nadalim e sua política de alfabetização foram exaltados por olavistas. Dos 54 perfis monitorados, 14 fizeram menções elogiosas ao secretário ou a seu método ao falar de educação. Foram 35 publicações mencionando Nadalim e alfabetização, entre aquelas que mencionavam o MEC.
Também em 11 de abril, ao completar cem dias de governo, Bolsonaro e o novo ministro da Educação, Abraham Weintraub, assinaram projeto de lei que regulamenta o ensino domiciliar, ou “homeschooling”. A proposta ainda precisa passar pelo Congresso.
O youtuber Bernardo P. Küster fez um apelo pela aprovação do projeto: “Libere-se o HomeSchooling e permita-se que as famílias se virem sozinhas. A política educacional desse Governo, diferente das anteriores também, tem de livrar nossas crianças de nossas escolas”, publicou em 8 de abril. Outros cinco perfis comemoraram e defenderam a proposta, totalizando 13% dos monitorados: Caroline de Toni, deputada federal, Pedro Medeiros, Paulo Henrique Araújo e os portais Politz e Estudos Nacionais.
Paulo Henrique Araújo, do portal Terça Livre, elogia o ensino domiciliar (Reprodução Twitter)
Também é preocupação dos olavistas o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Weintraub anunciou no dia 26 de abril alterações no conteúdo da prova para retirar “direcionamento ideológico”. A afirmação foi aplaudida por olavistas na rede – 13 dos 54 perfis monitorados falaram do tema (24%), em 17 postagens.
Mas nem todos os anúncios do MEC foram bem recebidos. No dia 4 de abril, o ministério anunciou o Programa de Apoio à Implementação da Base Comum Curricular (BNCC), dedicando R$ 105 milhões do orçamento para esse fim. O programa foi mal visto pelos olavistas. Cinco perfis monitorados a associaram ao marxismo e a doutrinação, em 17 postagens.
“A implementação da BNCC vai contra tudo que Bolsonaro prometeu no que tange à educação. E também contra a carta de intenções publicada pelo Vélez antes de assumir o cargo. Só posso acreditar, sendo benevolente, que o Vélez – tão conhecedor de marxismo – está completamente senil. Fora”, tuitou Pepe Templário em 5 de abril. O incentivo à implementação da BNCC impulsionou a demissão de Ricardo Vélez quatro dias depois.
Se Vélez decepcionou os olavistas, Abraham Weintraub está cumprindo as expectativas do grupo. Apesar de não ter readmitido os exonerados, como foi inicialmente ventilado pela imprensa, o novo ministro exonerou em 18 de abril o tenente-brigadeiro Ricardo Machado Vieira, então secretário executivo do MEC. Vieira travou batalha sobre a Política Nacional de Alfabetização com o olavista Carlos Nadalim.
Até a sua ação mais polêmica, o corte de 30% no orçamento das universidades federais, foi elogiado por Bernardo P. Küster em vídeo publicado em 3 de maio no seu canal de YouTube. Para o tuiteiro, a medida tem como objetivo “priorizar investimentos no ensino básico”. Na contramão da justificativa de Küster, o governo congelou R$ 2,4 bilhões da educação básica.
Entre os perfis de apoiadores de Olavo analisados pela Pública, 40% estão por trás de canais alternativos aliados ao governo (22 dos 54), como os portais Terça Livre, Senso Incomum, Conexão Política, Reaçonaria, Renova Mídia e Brasil Paralelo. Os sites repercutem os ideais dos grupos sobre educação em textos hipereditorializados e análises tendenciosas. Em comemoração à nomeação de Weintraub, o portal Conexão Política publicou uma análise intitulada “A Folha não gostou do novo ministro da Educação… que alívio!”. O Reaçonaria é ainda mais explícito ao falar do MEC, publicando tuítes que alimentam as polêmicas.
“Lembram da guerra de versões no MEC? Era um papo de ala dos técnicos vs a ala dos olavistas. Técnicos? Técnicos de que? Formados em que? Especialistas em que? É cada lambeção de coturno de vagabundo que eu vou te contar…”, publicou o portal em 22 de abril.
Membros desses veículos foram credenciados para a cobertura da posse presidencial em 1o de janeiro sob a categoria de “mídia alternativa”, como mostra documento fornecido pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom) via Lei de Acesso à Informação.
Enquanto os outros membros da imprensa ficavam confinados em espaços restritos, o jornalista do Correio Braziliense Vicente Nunes denunciou que os credenciados como “mídia alternativa” receberam acesso liberado às diferentes áreas do evento. Outros jornalistas informaram sobre condições degradantes na cobertura, como acesso restrito a água e banheiro. “Um dia de cão: confinados no Congresso por quase seis horas, jornalistas têm até maçãs confiscadas sob suspeita de poder jogá-las na cabeça de Bolsonaro”, descreveu Mônica Bergamo. As denúncias foram ridicularizadas por Allan dos Santos e colegas em vídeo no qual eles afirmam que a imprensa estaria mentindo e mostram que tinham “até café” disponível.
Estavam cadastrados como “mídia alternativa” e fazem parte do grupo de olavistas Allan dos Santos e Italo Lorenzon, do portal Terça Livre; os colaboradores do Senso Incomum, Bruna Luiza Becker, nomeada dias depois ao cargo de assessora no MEC e exonerada em 16 de abril; Filipe Garcia Martins, atualmente assessor especial da Presidência da República; Flávio Azambuja Martins, conhecido como Flávio Morgenstern, âncora do Guten Morgen; Marcos Paulo da Rocha Azevedo, editor-chefe do portal Conexão Política; Osmar Bernardes Junior, então do portal Reaçonaria e um dos olavistas exonerados do MEC; e os influenciadores digitais Paulo Roberto de Almeida Prado Junior (@PauloAP) e Thiago Cortês Silva dos Santos (@SouDescortes). Um representante do portal Renova Mídia disse que também estava entre os credenciados para a posse presidencial, mas não pode comparecer.
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O que os olavistas querem do Ministério da Educação - Instituto Humanitas Unisinos - IHU