15 Janeiro 2018
Assediado pelo clima de tensão que existe no Chile, há poucos dias da chegada do Papa Francisco, o cardeal-arcebispo de Santiago do Chile, Ricardo Ezzati, vem a público para defender, com indignação, sua atuação contra os casos de pederastia. Também reconhece que a carta do Papa, na qual o núncio Scapolo aparece bloqueando a renúncia de dom Barros, é autêntica.
A reportagem é de José Manuel Vidal, publicada por Religión Digital, 13-01-2018. A tradução é de André Langer.
“A carta é autêntica”, reconheceu na sexta-feira passada o arcebispo de Santiago, cardeal Ricardo Ezzati, sobre a carta cujo conteúdo foi veiculado na quinta-feira pela Agência Associated Press, na qual o Papa informa sobre a renúncia do bispo de Osorno, Juan Barros, e o “bloqueio” a essa ação por parte do Núncio Apostólico, Ivo Scapolo.
A carta data de 31 de janeiro de 2015 e é dirigida à Comissão Permanente, que nessa data era presidida pelo cardeal Ezzati.
“O que diz a carta é o que diz o Santo Padre. O conteúdo da (carta) não é da minha responsabilidade. Não sei o que pode ter havido por trás”, disse o cardeal.
Na mensagem, o Papa informou os bispos da Comissão Permanente que o Núncio pediu a renúncia de dom Juan Barros Madrid no final de 2014 e que o exorta a tirar um período sabático.
Sobre este assunto, o arcebispo Ezzati disse que “com respeito às intenções que tinha dom Barros na sua conversa com o Núncio ou com o Papa, não me perguntem, porque não é da minha competência”.
O bispo Juan Barros foi acusado pelas vítimas de abuso do punido padre Fernando Karadima de estar a par destes fatos. A este respeito, o cardeal Ezzati disse:
“Os abusos são sempre muito graves e eu sempre disse que, mesmo que houvesse apenas um caso, esse caso seria extremamente grave. Diante de todos os abusos, eu posso dizer pessoalmente que tive clareza e sempre agi com muita verdade e com muito consciência, apesar do que dizem algumas mentes transtornadas nos Estados Unidos”.
Na manhã da sexta-feira, o Núncio Apostólico, Ivo Scapolo, foi consultado sobre esta questão, enquanto participava de uma entrevista coletiva sobre a visita do Papa, no Palácio de La Moneda.
Ao ser abordado pela imprensa, disse: “Sobre essas questões eu não vou falar”.
Apenas o bispo de Punta Arenas, dom Bernardo Bastres – que não faz parte da Comissão Permanente –, reconheceu ter conhecimento da carta: “é uma carta que estava em um contexto e, portanto, deve ser tomada no momento histórico e é preciso vê-la nesse contexto. Mas nada mais”.
Também foram consultados os bispos de Talca, Horacio Valenzuela, e de Linares, Tomislav Koljatic, que foram mencionados na carta, mas indicaram não saber de nada.
O cardeal Ricardo Ezzati visitou a Paróquia de Santa Isabel da Hungria da Estação Central, uma das três igrejas que foram atacadas na capital na madrugada da sexta-feira.
“Desde as 15 horas eu estava passando por todas as comunidades onde houve algum destes problemas. Graças a Deus, os danos materiais são aqueles que se pode ver; este seja talvez o maior e não são muito graves”, disse.
Ezzati também observou que “a gravidade está na intolerância daqueles que, tendo o direito de discordar, discordam com formas que não são apropriadas. Nunca a violência pode ser algo valioso, pelo contrário. Sempre se tem o direito de discordar dos outros, mas, naturalmente, com o respeito que é devido a todas as pessoas e instituições”.
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Chile. “Agi na verdade, apesar do que dizem algumas mentes transtornadas nos Estados Unidos”, diz cardeal de Santiago - Instituto Humanitas Unisinos - IHU