12 Janeiro 2018
A apenas uma semana da sua chegada ao Peru para uma visita apostólica, Francisco ordenou uma intervenção do Vaticano no movimento católico Sodalício de Vida Cristã desse país. A sociedade, questionada pelas denúncias de abuso sexual que pesam contra o seu fundador, o leigo Luis Fernando Figari, está presente no Chile desde a década de 2000.
A reportagem é de Juan Eduardo López, publicada por Emol, 11-01-2018. A tradução é de André Langer.
De acordo com o jornal chileno La Tercera, em 2013, antes da publicação do livro peruano Meio monges, meio soldados (2015) que revelou os casos de abusos contra menores e ex-membros do grupo, a chegada ao Chile dos sodalícios está ligada ao ex-arcebispo de Santiago, o cardeal Francisco Javier Errázuriz. Errázuriz foi secretário da Congregação para a Vida Religiosa quando, em 1997, Figari bateu às portas do organismo para realizar os trâmites legais para a configuração do Sodalício de Vida Cristã. Assim, dois anos depois, foi também o cardeal que autorizou a entrada do movimento no Chile, que já contava com algumas comunidades em Santiago.
Jaime Baertl, o assistente geral do grupo peruano, disse que o ex-arcebispo também foi um dos conselheiros do fundador dos sodalícios e que o ajudou a moldar estruturalmente a organização, que se caracteriza por ter leigos nos mais altos escalões. Figari e Errázuriz – que é acusado de acobertar os casos de abuso do padre Fernando Karadima – são “velhos amigos”, como o próprio cardeal comentou em 2016 ao jornal peruano El Comercio, que anunciou que o chileno foi uma das três visitas mais importantes que Figari recebeu em Roma naquele ano, enquanto se encontrava em regime de isolamento pelos casos de abuso.
Os sodálites, como são chamados os membros do movimento, vivem em duas comunidades no Chile: uma em Lo Barnechea, onde está localizada a Capela Mãe de Deus no setor de Los Trapenses, e uma em Maipú, que administra a Paróquia Mãe dos Apóstolos. Depois de estabelecer essas comunidades, em 2010 o Sodalício criou a Escola São José em Huechuraba, que, atualmente, conta com 472 alunos matriculados. Antes da fundação da instituição, eles já haviam trabalhado na área pastoral de escolas como Apoquindo, na Scuola Italiana, e no Santiago College. A sociedade também conta com um ramo feminino de religiosas no Chile, chamado de Servas do Plano de Deus, que estão desde 2002 a cargo da Fundação Las Rosas.
Em 2010, Figari conheceu Alicia Romo, fundadora e ex-proprietária da Universidade Gabriela Mistral (UGM), que em 2012 acabou transferindo a administração da casa de estudo privada para o movimento sodálite. Como o grupo católico disse na época, Romo nunca pediu uma quantia em dinheiro pela transferência, mas colocou como única exigência que o Sodalício injetasse recursos na instituição. Foi justamente Baertl, assistente geral do Sodalício de Vida Cristã e um dos altos comandos do movimento, o responsável pela transferência de controle da UGM, por seu bem conhecido talento para os negócios. Baertl, que é padre, passou a presidir o conselho da universidade.
Na página da UGM, ainda aparece com esse cargo. No entanto, em uma reportagem publicada no El Mostrador no ano passado, fontes da universidade asseguram que, no início de 2017, houve um almoço de despedida para o religioso, já que teria uma nova missão na Colômbia. Assim, a rede do Sodalício vem se expandindo nos últimos anos no país, até que em 2015 os casos de abuso perpetrados por seu fundador foram divulgados. Entretanto, ele não é o único sodálite acusado.
Germán Doig, vigário-geral do movimento peruano e figura exemplar do grupo, que morreu em 2001, teve uma causa de beatificação aberta quando também foi acusado por abusos sexuais. Tanto as vítimas de Figari como de Doig afirmam que Baertl, que fazia parte da cúpula de poder dentro do Sodalício de Vida Cristã, tinha conhecimento das denúncias.
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Chile. Os vínculos do cardeal Errázuriz com o movimento católico peruano que sofre uma intervenção do Vaticano - Instituto Humanitas Unisinos - IHU