01 Dezembro 2017
Enquanto na Argentina Maurício Macri investe contra os mapuches, Jorge Bergoglio tratará no Chile de aproximar posições entre as comunidades indígenas e as autoridades. Ele fará isso durante a visita que realizará a esse país em meados de janeiro.
A reportagem é publicada por Página/12, 30-11-2017. A tradução é de André Langer.
Em meio à investida do governo de Maurício Macri contra as comunidades mapuches da Patagônia que reivindicam seus territórios, que nos últimos três meses provocaram duas mortes, o Papa irá intervir na questão mapuche no Chile. Isto foi confirmado pelas autoridades da Igreja católica desse país, que são responsáveis pela agenda da visita que Francisco fará a esse país entre os dias 16 e 18 de janeiro do próximo ano.
“O Papa procurará aproximar posições no conflito dos indígenas mapuches pela reivindicação de terras e o Estado chileno”, anunciou o diretor executivo da comissão nacional da visita do Papa Francisco ao Chile, Javier Peralta.
A aproximação que o Papa enseja promover entre as comunidades mapuches e o Estado chileno tem data: 17 de janeiro. Nesse dia, Francisco presidirá uma missa “pelo progresso dos povos” no aeródromo de Maquehue, nos arredores de Temuco. Nessa cidade, ocorre um dos pontos contínuos de conflito pela reivindicação de territórios por parte do povo mapuche por direito ancestral.
Embora a referência seja o conflito entre o Chile e o povo originário assentado no sul desse país, o eco ressoará na Argentina. Vale lembrar que em junho passado houve uma conversa entre Michele Bachelet e Mauricio Macri sobre a questão mapuche. De fato, a prisão do lonko Facundo Jones Huala ocorreu horas após o encontro entre os dois presidentes, no qual se falou sobre o caso.
O Estado chileno acusa Huala de vandalismos cometidos por organizações que reivindicam demandas territoriais, ao passo que na Argentina seu nome está vinculado à suposta Resistência Ancestral Mapuche (RAM), uma organização que o governo do Mudemos considera como “terrorista” e que acusa de promover a violência.
O caso de Huala ganhou notoriedade após o desaparecimento de Santiago Maldonado, jovem de 28 anos que desapareceu em meio à repressão da polícia a um protesto pela libertação do líder mapuche. Setenta e oito dias depois, o corpo de Maldonado apareceu no rio Chubut.
As reivindicações territoriais repetem-se na Argentina e no Chile. O marco em que as forças da segurança federais assassinaram o jovem mapuche Rafael Nahuel, de 21 anos, foi uma delas e aconteceu em Villa Mascardi, Bariloche.
O que a Igreja católica chilena espera com a mediação do Papa Francisco é que haja “uma contribuição para o diálogo, a paz e o respeito pela diversidade”, disse Peralta durante uma coletiva de imprensa, na qual esclareceu que a visita a Temuco deve-se ao fato de que "é a região mais pobre do país e também pelo conflito com os povos indígenas, que é uma questão muito presente na agenda do papa”.
Ele também indicou que, até agora, o Vaticano não requereu nenhuma segurança adicional para a visita do papa a esse lugar. Francisco “sempre irá àqueles lugares onde ele acredita que sua palavra e sua mensagem trarão paz”, disse ele.
O lema da viagem de Francisco, que estará em Santiago, Temuco e Iquique, é: “Dou-lhes a minha paz”. “Foi pensando nos mapuches, nos migrantes e em seus países vizinhos, a Bolívia e o Peru, que ele o escolheu. Francisco é um expoente da ‘cultura do encontro’”, que ele promove desde o início do seu pontificado, concluiu Peralta.
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Argentina e Chile. Os mapuches na agenda de Francisco - Instituto Humanitas Unisinos - IHU