13 Outubro 2011
Na manifestação dessa segunda-feira, os povos originários pediram a libertação dos presos políticos e a devolução das terras que foram utilizadas para a construção de empreendimentos imobiliários. A reportagem é do Página/12, 11-10-2011. A tradução é do Cepat.
A marcha em defesa dos povos indígenas em Santiago do Chile começou pacífica e terminou com conflitos no qual sete pessoas foram presas. A comemoração, do inapropriado nome, "Dia da Raça" tem um significado especial para os Mapuches e outros povos originários que foram desalojados quando enormes terrenos foram utilizados para a construção de empreendimentos imobiliários ou para o avanço do cultivo da soja.
"Para os mapuches, o 12 de outubro significa a chegada dos usurpadores espanhóis e tudo o que isso significou, o colonialismo e o imperialismo", disse Manuel Díaz, porta-voz da organização Meli Witran Mapu (Dos quatro pontos da Terra). "É uma mobilização de repúdio à invasão de 500 anos, mas também uma mobilização que critica o papel do Estado e o modelo econômico", destacam no comunicado da convocatória. Díaz acrescentou que os indígenas reivindicam "a liberdade de todos os presos políticos mapuches e a devolução das terras ancestrais" em propriedade de empresas agrícolas e florestais.
Os mapuches – que são uns 600 mil – constituem o principal povo indígena do Chile, país com 17 milhões de habitantes.
Com dados díspares (as autoridades nacionais dizem que marcharam umas 10 mil pessoas, enquanto os organizadores falaram em 12 mil), a realização do protesto coincidiu com a celebração do "Dia da Raça", festividade que se comemora no dia 12 de Outubro para lembrar a chegada de Cristovão Colombo à América que nesse ano se tranferiu no calendário para segunda-feira tanto no Chile como na Argentina.
Em Santiago, os conflitos aconteceram ao final do protesto, que atravessou o centro da cidade de forma pacífica durante quatro horas.
Próximo da Biblioteca Nacional, um grupo de jovens encapuçados começou a destruir semáforos, sinais de trânsito e foram reprimidos pelo Corpo de Carabineros que utilizaram jatos d´água e gás lacrimogêneo. Os enfrentamentos entre os que protestavam e as forças de segurança continuaram até as 17h30min em frente da Universidade do Chile. Durante uma atividade pública, a prefeita de Santiago, Cecilia Pérez, disse que os conflitos se produziram em três pontos do centro e sete pessoas foram presas. Num breve discurso, Pérez responsabilizou a coordenação do ato dos mapuches.
Em junho passado, quatro mapuches chilenos presos iniciaram uma greve de fome que durou 85 dias, chegaram a perder mais de 20 quilos com consequências irreversíveis para sua saude. Os indígenas pediam a anulação de um julgamento em que lhes acusavam de roubo com intimidação e lesões menores. O médico que os examinou, disse que a falta de nutrientes deverá provocar dano cerebral e que para que fossem internados foi necessário uma ação do Estado aceita pela Corte de Apelações do Chile.
O especialita que atende os mapuches desde o começo da medida de força disse que os grevistas passavam por avançado estado de desnutrição, que sua hidratação se encontrava no limite e seu estado geral de saúde não era dos melhores. Os 20 quilos que Ramón Llanquileo, Jonathan Huillical, José Huenuche e Héctor Llaitul foram perdendo ao longo da greve também produziram uma diminuição do nível de concentração. Diante da emergência da saúde, as autoridades decidiram transladá-los aos centros de saúde Concepción, Los Angeles e Nuevo Imperial, no sul do país, decisão a que resistiram tanto os prisioneiros como os familiares que se inteiraram do translado enquanto aguardavam para visitar os presos.
Nessa oportunidade, Juana Raimón, mãe de José Huenuche, denunciou que os presos foram obrigados a comer por força. "Meu filho foi jogado na ambulância", disse. Em que pese a negativa dos grevistas, o sistema de saúde do Chile interpôs um recurso de amparo diante da Câmara de Apelaçoes nacional para iniciar a realimentação. Finalmente, a Justiça setenciou a favor dessa medida. Durante o conflito, o governo manifestou que tomaria todas as medidas possíveis para evitar a morte dos mapuches, incluida sua nutrição forçada, desobedecendo as advertências do médico que oportunamente disse dos perigos e dos efeitos negativos que a realimentação poderia acarretar se não fossem realizados exames gerais nos mapuches. Todos foram condenados em março até 25 anos de prisão por tentativa de homicídio de um fiscal e roubo com intimidação.
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Mapuches protestam no Chile - Instituto Humanitas Unisinos - IHU