12 Setembro 2017
Como já é habitual ao finalizar suas viagens internacionais, o Papa Francisco concedeu uma coletiva de imprensa no voo de volta de Cartagena a Roma, após a sua intensa visita à Colômbia, realizada de 6 a 10 de setembro.
Na entrevista, o Santo Padre aborda diversos temas, como a situação da Venezuela, a crise da Coreia do Norte, a realidade dos jovens imigrantes nos Estados Unidos, os desastres naturais e comenta também como está depois da batida que sofreu no papamóvel em Cartagena.
A seguir, o texto completo, publicado no sítio da Sala de Imprensa da Santa Sé, 11-09-2017. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Greg Burke (diretor da Sala de Imprensa do Vaticano) – Obrigado, Santo Padre, pelo tempo que nos dedica hoje, depois de uma viagem intensa, cansativa, muito cansativa para alguns, mas também uma viagem frutuosa. Várias vezes, o senhor agradeceu as pessoas pelas coisas que lhe ensinaram. Nós também aprendemos tantas coisas nessa cultura do encontro e lhe agradecemos por isso. A Colômbia em particular, com o seu passado recente – nem tão recentemente – nos ofereceu alguns testemunhos muito fortes, testemunhos comoventes de perdão e de reconciliação. Mas também nos ofereceu uma contínua lição de alegria e de esperança, duas palavras que o senhor usou muito nesta viagem. Agora, talvez, o senhor gostaria de dizer alguma coisa e depois passamos às perguntas. Obrigado.
Papa Francisco – Boa noite e muito obrigado pelo trabalho de vocês. Fiquei realmente emocionado com a alegria, a ternura, a juventude, a nobreza do povo colombiano. Na verdade, um povo nobre, que não tem medo de expressar como se sente, não tem medo de sentir e de mostrar o que sente. Foi assim que eu percebi. Esta é a terceira vez, que eu me lembre [que eu vou à Colômbia], mas um bispo disse: “Não, o senhor esteve uma quarta vez”, mas apenas para pequenas reuniões. Uma vez, em La Ceja, e as outras duas ou três, em Bogotá. Mas não conhecia a Colômbia profunda, aquela que se vê pelas ruas. E agradeço o testemunho de alegria, de esperança e de paciência no sofrimento deste povo. Me fez muito bem. Obrigado.
César Moreno (Rádio Caracol) – Obrigado, Vossa Santidade, muito boa noite. Em primeiro lugar, gostaria de lhe agradecer, por parte de todos os meios de comunicação colombianos que nos acompanham aqui nesta viagem, todos os nossos companheiros e amigos, pelo senhor ter ido à nossa pátria, por nos ter dado tantas mensagens tão lindas, tão profundas, por tanto carinho, por tanta proximidade que o senhor demonstrou ao povo colombiano, Vossa Santidade, muito obrigado. Minha pergunta é a seguinte: o senhor chegou, Santo Padre, a um país dividido, por conta de um processo de paz, entre os que aceitam e não aceitam esse processo. O que fazer concretamente, que passos dar para aproximar as partes divididas, aos nossos dirigentes, para que deixem esse ódio, para que deixem esse rancor? Se Vossa Santidade pudesse voltar ao nosso país em alguns anos, como acredita, como gostaria de ver a Colômbia? Obrigado.
Papa Francisco – Eu gostaria, ao menos, o lema fosse “Demos o segundo passo”... Eu pensava que fossem mais, calculava pelos 60, mas me disseram que foram 54 anos de guerrilha, mais ou menos. E aí se acumula muito, muito, muito ódio, muito rancor, muita alma doente, e a enfermidade não é culpável. Ela vem, você pegou sarampo, e pegou você... Desculpem, falo italiano. A alma doente... a doença não é culpável, ela vem. E, com esses guerrilheiros que realmente fizeram – tanto os guerrilheiros, quanto os paramilitares, quanto aqueles de lá, e também a corrupção, muitas vezes, no país – cometeram pecados feios, que provocaram essa doença do ódio... Mas há passos à frente que dão esperança, passos na negociação. O último é o cessar-fogo do ELN: eu lhes agradeço muito, agradeço muito por isso. Mas há algo mais, que eu percebi, que é a vontade de seguir em frente nesse processo, que vai além das negociações que estão sendo feitas e que devem ser feitas. É uma vontade espontânea, e lá existe a força do povo. Eu tenho esperança nisso. O povo quer “respirar”, mas devemos ajudá-lo, ajudá-lo com a proximidade, a oração e, sobretudo, a compreensão de quanta dor existe dentro de tantas pessoas.
José Mojica (El Tiempo) – Santo Padre, é uma honra estar aqui com o senhor. Meu nome é José Mojica, sou jornalista do El Tiempo – editora da Colômbia – e eu o saúdo em nome também dos meus colegas colombianos e de todos os meios de comunicação do meu país. A Colômbia sofreu muitas décadas de violência por causa da guerra, por causa do conflito armado e também por causa do narcotráfico. No entanto, os estragos da corrupção na política foram tão prejudiciais quanto a própria guerra, e, embora a corrupção não seja nova, sempre soubemos que ela existe, sabemos que sempre houve corrupção. Agora ela é mais visível, porque já não temos as notícias da guerra, do conflito armado. O que fazer perante esse flagelo, até onde levar os corruptos, como puni-los e, por fim, seria preciso excomungar os corruptos?
Papa Francisco – Você faz uma pergunta que eu me fiz muitas vezes, eu me fiz desta maneira: o corrupto tem perdão? Eu a fiz assim. E eu a fiz quando houve um ato, na província de Catamarca, na Argentina, um ato de maus tratos, abuso, de estupro de uma menina, e havia pessoas envolvidas ali muito ligadas aos poderes políticos e econômicos dessa província. Eu fiquei muito tocado por um artigo de [Rogelio] Frigerio publicado no La Nación naquele tempo. Eu escrevi um pequeno livro que se chama “Pecado e corrupção”. Sempre somos todos pecadores e sabemos que o Senhor está perto de nós, que Ele não se cansa de perdoar. Mas a diferença é: Deus nunca se cansa de perdoar, mas o pecador às vezes encontra a coragem e pede perdão. O problema é que o corrupto se cansa de pedir perdão e se esquece de como se pede perdão: este é o problema grave. É um estado de insensibilidade perante os valores, perante a destruição, a exploração das pessoas. Ele não é capaz de pedir perdão. É como uma condenação, por isso é muito difícil ajudar um corrupto, muito difícil. Mas Deus pode fazê-lo. Eu rezo por isso.
Hernán Reyes (Télam) – Santidade, a pergunta é do grupo de jornalistas de língua espanhola. O senhor falou desse primeiro passo que a Colômbia deu. Hoje, na missa, o senhor disse que não houve diálogo suficiente entre as duas partes, mas foi necessário incorporar mais atores. O senhor acha que é possível replicar esse modelo colombiano em outros conflitos no mundo?
Papa Francisco – Integrar [envolver] outras pessoas [outros sujeitos]... Hoje também, na homilia, eu falei disso, inspirando-me na passagem do Evangelho. Envolver outros sujeitos: não é a primeira vez. Em tantos conflitos, foram envolvidos outros sujeitos. É um modo de seguir em frente, um modo sapiencial, político... Existe a sabedoria de pedir ajuda. Eu acredito que, como hoje eu quis mencionar na homilia – que era uma mensagem, mais do que uma homilia –, esses recursos técnico-políticos ajudam. Eles requerem às vezes a intervenção das Nações Unidas para sair da crise. Mas um processo de paz só seguirá em frente quando o povo o pegar nas mãos. Se o povo não o pega nas mãos, será possível seguir em frente um pouco, se chegará a um compromisso... Foi isto que eu quis fazer com que se ouvisse nesta visita: ou o protagonista da pacificação é o povo, ou só se chegará até certo ponto. Mas, quando um povo toma nas mãos a questão, ele é capaz de fazê-la bem. Esse é o caminho. Obrigado.
Elena Pinardi (EBU-UER) – Boa noite, Santidade. Acima de tudo, gostaríamos de lhe perguntar como está. Todos vimos que o senhor bateu a cabeça: como está? Machucou-se? Acima de tudo, queremos perguntar como está. Machucou-se?
Papa Francisco – Eu me inclinei um pouco para cumprimentar as crianças. Não vi o vidro e... “pum”.
Elena Pinardi – Então, a pergunta é essa. Enquanto estamos no voo, passamos perto do furacão Irma, que causou dezenas de mortes e danos enormes nas ilhas do Caribe e em Cuba, e teme-se que vastas áreas da Flórida possam acabar debaixo d’água. Seis milhões de pessoas tiveram que sair das suas casas. Depois do furacão Harvey, três furacões estiveram quase ao mesmo tempo sobre a área. Os cientistas acreditam que o aquecimento dos oceanos é um fator que contribui para tornar as tempestades e os furacões sazonais mais intensos. Existe uma responsabilidade moral dos líderes políticos que se recusam a colaborar com as outras nações para controlar as emissões dos gases de efeito estufa, porque negam que as mudanças climáticas também são obra do homem?
Papa Francisco – Obrigado. Parto da última parte, para não a esquecer: quem nega isso deve ir ao encontro dos cientistas e perguntar a eles. Eles falam muito claramente. Os cientistas são precisos. No outro dia, quando saiu a notícia daquele navio russo – acho – que foi da Noruega ao Japão ou a Taipei, passando pelo Polo Norte, sem o quebra-gelo, e as fotografias mostravam pedaços de gelo... Através do Polo Norte, agora , é possível passar. É muito claro, é muito claro. Quando saiu essa notícia, de uma universidade – não lembro onde – saiu outra que dizia: “Só temos três anos para voltar atrás, senão as consequências serão terríveis”. Eu não sei se é verdade, “três anos”, ou não; mas que, se não voltarmos atrás, “caímos”, isso é verdade. Veem-se os efeitos das mudanças climáticas, e os cientistas dizem claramente o caminho a seguir. E todos nós temos uma responsabilidade, todos. Cada um tem uma responsabilidade moral pequeninha ou maior: ao aceitar, ao dar opinião ou ao tomar decisões. E devemos levar isso a sério. Eu acho que é algo sobre o qual não se brinca, é muito sério. Você me pergunta: qual é a responsabilidade moral? Cada um tem a sua. Os políticos também têm a deles. Cada um tem a própria. De acordo com a resposta que dá.
Elena Pinardi – Há quem perceba que estamos indo ao encontro do apocalipse com todos esses eventos atmosféricos...
Papa Francisco – Eu não sei. Eu digo: cada um tem a sua própria responsabilidade moral, primeiro. Segundo: se alguém está um pouco duvidoso de que isso não é tão verdadeiro, que pergunte aos cientistas. Eles são muito claros. Não são opinião que caem do céu. Eles são muito claros. E que depois decida. E a história julgará as decisões. Obrigado.
Enzo Romeo (RAI) – Boa noite, Santo Padre. Eu me conecto à pergunta que a colega fez antes, porque o senhor, muitas vezes, nos discursos que fez na Colômbia, referiu-se à necessidade de fazer as pazes com a criação, respeitar o ambiente como condição necessária para que se possa criar uma paz social estável. E vemos os efeitos das mudanças climáticas também na Itália: não sei se está informado, mas houve muitas mortes em Livorno...
Papa Francisco – Sim, depois de três meses e meio de seca...
Enzo Romeo – Exato. Muitos danos em Roma... Portanto, estamos todos envolvidos nessa situação. Mas por que tarda uma tomada de consciência? Especialmente por parte dos governos, que, ao contrário, parecem tão solícitos, talvez, em outros setores – sempre o discurso dos armamentos: estamos vendo, por exemplo, a crise na Coreia. Também sobre isso eu gostaria de ter uma opinião sua.
Papa Francisco – O porquê? Vem à minha mente uma frase do Antigo Testamento: o homem é um estúpido, é um teimoso que não vê. O único animal da criação que coloca a perna no mesmo buraco é o homem. O cavalo e os outros não, não fazem isso. Existe a soberba, a presunção de dizer: “Não, mas não será assim...”. E, depois, existe o deus Bolso, não? Não só sobre a criação: tantas coisas, tantas decisões, tantas contradições, e algumas delas dependem do dinheiro. Hoje, em Cartagena: eu comecei por uma parte, chamemo-la de pobre, de Cartagena. Pobre. A outra parte, a parte turística, luxo e luxo sem medidas morais, digamos. Mas aqueles que vão lá não percebem isso? Ou os analistas sociopolíticos, não se dão conta?
O homem é um estúpido, dizia a Bíblia. E assim, quando não se quer ver, não se vê. Olha-se apenas para um lado. Eu não sei. E, sobre a Coreia do Norte, digo a verdade a você, eu não entendo, realmente. Porque, realmente, não entendo esse mundo da geopolítica, é muito difícil para mim. Mas acredito que, pelo que eu vejo, lá existe uma luta de interesses que me escapam, não posso explicar, realmente. Mas o outro aspecto é importante: não se toma consciência. Pense em Cartagena, hoje. Isso é injusto, e pode-se tomar consciência? É isso que vem à minha mente. Obrigado.
Valentina Alazraki (Televisa) – Santo Padre, como está?
Papa Francisco – Não dói. Colocaram meu olho em compota [risos].
Valentina Alazraki – Sentimos muito, mesmo assim. Mesmo que não doa, sentimos muito. Santidade, todas as vezes que o senhor se encontra com os jovens, em qualquer parte do mundo, sempre lhes diz: “Não deixem que lhes roubem a esperança, não deixem que lhes roubem a alegria e o futuro”. Infelizmente, nos Estados Unidos, foi abolida a lei dos “dreamers”, dos sonhadores: estamos falando de 800 mil jovens, muitíssimos mexicanos, colombianos, de tantos países. O senhor não acredita que, com essa lei, com essa abolição, esses jovens perderão a alegria, a esperança, o futuro? E, depois, abusando da sua gentileza e da dos colegas, se o senhor pudesse fazer uma pequena oração, um pequeno pensamento por todas as vítimas do terremoto no México e do furacão Irma. Obrigado.
Papa Francisco – Realmente, sim. Eu perguntava sobre qual lei você se referia. Eu ouvi falar dessa lei. Não pude ler os artigos e como a decisão foi tomada. Eu não a conheço bem, mas, primeiro, separar os jovens da família não é algo que dê bom fruto, nem para os jovens, nem para a família. Eu penso que essa lei, que eu acho que não vem do Parlamento, mas do Executivo – se assim for, mas não tenho certeza, espero que ela seja repensada um pouco. Porque eu ouvi o presidente dos Estados Unidos falar: ele se apresenta um homem pró-vida. E, se é é um bom pró-vida, ele entende que a família é o berço da vida e que se deve defender a sua unidade. Por isso, eu tenho interesse em estudar bem essa lei. Mas, na verdade, em geral, seja esse caso ou outros casos, quando os jovens se sentem explorados, como em muitos casos, no fim, eles se sentem sem esperança. E quem as rouba? A droga, as outras dependências, o suicídio... O suicídio juvenil é muito forte e acontece quando eles são separados das raízes. É muito importante a relação de um jovem com as suas raízes. Os jovens desenraizados, hoje, pedem ajuda: querem reencontrar as raízes. Por isso, eu insisto muito no diálogo entre jovens e idosos, um pouco passando por cima dos pais. Que dialoguem com os pais, mas os idosos [são importantes], porque lá estão as raízes. E estão um pouco mais longe, para evitar os conflitos que podem ter com as raízes mais próximas, como as dos pais. Mas os jovens, hoje, precisam reencontrar as raízes. Qualquer coisa que vá contra as raízes rouba-lhes a esperança. Não sei se respondi...
Valentina Alazraki – Eles podem ser deportados dos Estados Unidos...
Papa Francisco – Sim, sim, perdem uma raiz... Esse é um problema. Mas, na verdade, sobre essa lei, eu não quero me expressar, porque não a li e eu não gosto de falar sobre o que não estudei antes. E, depois, Valentina é mexicana, e o México sofreu muito, e por esta última coisa eu peço a todos solidariedade com a “decana” [referindo-se à jornalista]. Há outro “decano” lá... [aponta para o fundo do avião]. Uma oração pela sua pátria. Obrigado.
Fausto Gasparroni (Ansa) – Santidade, em nome do grupo italiano, quero fazer uma pergunta sobre a questão dos migrantes, particularmente sobre o fato de que, recentemente, a Igreja italiana expressou, digamos assim, uma espécie de compreensão em relação à nova política do novo de restringir sobre a questão das partidas da Líbia e, portanto, dos desembarques. Também se escreveu que, sobre isso, houve um encontro do senhor com o presidente do Conselho, Gentiloni. Gostaríamos de saber se efetivamente, nesse encontro, falou-se desse tema, se houve esse encontro e se se tratou desse tema, e, sobretudo, o que o senhor pensa, justamente, dessa política de fechamento das partidas, considerando também o fato de que os migrantes que permanecem na Líbia, como também foi documentado por investigações, vivem em condições desumanas, em condições muito, mas muito precárias. Obrigado.
Papa Francisco – Em primeiro lugar, o encontro com o primeiro-ministro [italiano], Gentiloni, foi um encontro pessoal e não sobre esse assunto. Foi antes desse problema, que veio à tona algumas semanas depois, quase um mês depois. Foi antes do problema. Segundo: eu sinto o dever de gratidão em relação à Itália e à Grécia, porque abriram o coração aos migrantes. Mas não basta abrir o coração. O problema dos migrantes é, primeiro, coração aberto, sempre. É também um mandamento de Deus, de acolhê-los: “Porque tu foste escravo, migrante no Egito” (cf. Lv 19, 33-34): isto é o que a Bíblia diz. Mas um governo deve gerir esse problema com a virtude própria do governante, isto é, a prudência. O que significa? Primeiro: quantos lugares eu tenho?
Segundo: não só recebê-los, mas também integrá-los. Integrá-los. Eu vi exemplos, aqui, na Itália, de integração muito bonitas. Quando fui à Universidade Roma Tre, quatro estudantes me fizeram perguntas. Uma, a última que fez a pergunta, eu a olhava [e pensava]: “Mas eu conheço esse rosto...”. Era uma que, há menos de um ano, tinha vindo de Lesbos comigo no avião. Ela aprendeu a língua e, como estudava biologia na sua pátria, fez a equiparação e continuou. Aprendeu a língua. Isso se chama integrar. Em outro voo – quando voltávamos da Suécia, acho – eu falei da política de integração da Suécia como um modelo, mas a Suécia também disse, com prudência: “O número é este. Eu não posso mais”, porque existe o perigo da não integração.
Terceiro: há um problema humanitário, aquilo que você dizia. A humanidade toma consciência desses campos de concentração lá? Das condições de que você falava, no deserto? Eu vi fotografias... Há exploradores... Você falava do governo italiano: me dá a impressão de que está fazendo de tudo pelos trabalhos humanitários, para resolver também o problema que não pode assumir... Mas [resumindo]: coração sempre aberto, prudência, integração e proximidade humanitária.
E há uma última coisa que eu quero dizer e que vale sobretudo verdade para a África. Há, no nosso inconsciente coletivo, um lema, um princípio: “A África deve ser explorada”. Hoje, em Cartagena, vimos um exemplo de exploração humana, naquele caso [o dos escravos]. E um chefe de governo, sobre isso, disse uma bela verdade: “Aqueles que fogem da guerra são outro problema; mas para muitos que fogem da fome, fazemos investimentos lá, para que cresçam”. Mas, no inconsciente coletivo, toda vez que muitos países desenvolvidos vão à África, é para explorar. Devemos inverte isso: a África é amiga e deve ser ajudada a crescer. Depois, os outros problemas, de guerras, vão para um lado. Eu não sei se esclareci com isso...
Xavier Le Normand (I.Media) – Boa noite, Santo Padre. Santidade, hoje o senhor falou da Venezuela depois do Ângelus. O senhor pediu que se rejeite todo tipo de violência na vida política. Na quinta-feira, depois da missa em Bogotá, o senhor cumprimentou cinco prelados venezuelanos. Todos sabemos: a Santa Sé esteve e ainda está muito comprometida com um diálogo naquele país. Há meses já que o senhor pede o fim de todas as violências. Mas o presidente Maduro, por um lado, tem palavras muito violentas contra os bispos; por outro lado, diz que está com o Papa Francisco. Não seria possível ter palavras mais fortes e talvez mais claras? Obrigado, Santidade.
Papa Francisco – Eu acredito que a Santa Sé falou forte e claramente. O que o presidente Maduro diz, que ele explique: eu não sei o que ele tem na sua mente. Mas a Santa Sé fez muito: enviou para lá, para aquele grupo de trabalho dos quatro ex-presidentes, um núncio de primeiro nível. Depois falou, conversou com pessoas, falou publicamente. Eu, muitas vezes, no Ângelus, falei da situação, buscando sempre uma saída, ajudando, oferecendo ajuda para sair. Não sei... Mas parece que a questão é muito difícil, e o mais doloroso é o problema humanitário: tantas pessoas que fogem ou sofrem... Um problema humanitário que devemos ajudar a resolver de todos os sentidos. Eu acredito que as Nações Unidas devem se fazer ouvir também lá, para ajudar. Obrigado.
Greg Burke – Obrigado, Santidade. Acho que devemos ir.
Papa Francisco – Por causa das turbulências?
Greg Burke – Sim...
Papa Francisco – Dizem que há algumas turbulências, que devemos ir. Mas eu lhes agradeço muito, agradeço muito pelo trabalho de vocês. E, mais uma vez, gostaria de agradecer o exemplo do povo colombiano. E gostaria de acabar com uma imagem, aquilo que mais me tocou dos colombianos: nas quatro cidades, havia a multidão nas ruas, saudando... O que mais me impressionou foi que os pais, as mães levantavam os seus filhinhos para mostrá-los ao papa e para que o papa lhes desse a benção. Como que dizendo: “Este é o meu tesouro, esta é a minha esperança, este é o meu futuro. Eu acredito nisso”. Isso me tocou. A ternura. Os olhos daqueles pais e daquelas mães. Belíssimo, belíssimo! Esse é um símbolo, símbolo de esperança de futuro. Um povo que é capaz de fazer filhos e, depois, mostrá-los assim, como que dizendo: “Este é o meu tesouro”, é um povo que tem esperança e tem um futuro. Muito obrigado. Obrigado.
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Mudanças climáticas: “O homem é um estúpido, diz a Bíblia. E assim, quando não se quer ver, não se vê”. Entrevista com o Papa Francisco no voo de volta da Colômbia - Instituto Humanitas Unisinos - IHU