11 Janeiro 2017
O apelo que Francisco fez há três anos, durante uma visita em Roma ao Centro Astalli – o serviço dos jesuítas para os refugiados na Itália –, para que mosteiros e institutos religiosos abram as portas para os refugiados não caiu no vazio. De acordo com o que o La Repubblica apurou, são 101 as pessoas acompanhadas pelo Centro acolhidas hoje por 28 casas religiosas e 20 congregações da capital italiana, enquanto outras 33 pessoas terminaram o percurso de acolhida e se inseriram na vida normal da Itália. Números nada pequenos, especialmente se levarmos em consideração que a prioridade da Igreja de Bergoglio é uma só: favorecer a hospitalidade em pequenos centros, institutos, casas, a fim de poder acompanhar de perto o percurso de cada um, favorecendo a sua integração.
A reportagem é de Paolo Rodari, publicada no jornal La Repubblica, 08-01-2017. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O projeto liderado pelo Centro Astalli é inovador. O presidente, Pe. Camillo Ripamonti, conta: “O encontro entre o desejo das congregações de se abrirem aos refugiados e a leitura das necessidades dos migrantes que é feita cotidianamente nos vários serviços do Centro deu origem a um percurso de semiautonomia, as chamadas comunidades de hospitalidade”. Substancialmente, apoiam-se os refugiados no delicado momento de passagem entre a acolhida e o completo descolamento dos circuitos assistenciais, “uma fase em que o fato de estabelecer relações e retomar uma dimensão de cotidianidade pode ser decisivo para o sucesso do percurso de integração”, explica Ripamonti.
O Centro Astalli propõe aos institutos religiosos que hospedem refugiados presentes por um longo tempo no território italiano e que usufruíram de um primeiro acolhimento, durante o qual se dedicaram à aprendizagem da língua e à realização do processo burocrático para a obtenção dos documentos. São pessoas que dão os primeiros passos no mundo do trabalho e que, portanto, ainda precisam de um apoio para alcançar a plena autonomia.
Às congregações, diversos entre si por carisma e espaços à sua disposição, é proposto que trabalhem juntas no planejamento, compartilhando objetivos e tempos de acolhimento. Embora mantendo uma substancial autonomia em relação às comunidades religiosas, os refugiados, sozinhos ou com as suas famílias, graças também ao trabalho de mediação realizado pelos voluntários que servem de conexão com a comunidade anfitriã, têm uma oportunidade concreta de se inserirem plenamente no tecido social da cidade.
Ao mesmo tempo, as congregações que acolhem têm a oportunidade de se deixarem interpelar pelos próprios refugiados e de se interrogarem sobre como o seu carisma específico pode contribuir para responder a esse desafio do nosso tempo.
Entre os 101 refugiados presentes hoje em Roma está Sabiri Felix, engenheiro do Burkina Faso, casado e com filhos. Preso pelos militares sem um motivo real, ele conseguiu fugir, fingindo uma doença. Depois, chegou em Roma. Graças ao Centro Astalli, obteve o reencontro com os seus familiares e encontrou hospitalidade junto às Irmãs de Santa Anna, na Via Aldobrandeschi.
Ele conta: “Hoje, eu tento reencontrar serenidade para mim e a minha família. Quem eu fui no Burkina Faso não importa nada aqui. Eu não posso ser engenheiro e não tenho certeza se posso garantir um futuro sereno para os meus filhos. Espero que a situação no Burkina Faso mude rápido. Eu sonho, mais do que com qualquer outra coisa, em voltar para o meu país”.
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Cem refugiados em mosteiros e conventos: “Assim vamos integrá-los” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU