Por: Jonas | 06 Mai 2016
Multiplicaram-se, ontem, os apelos para uma trégua imediata em Alepo e em toda Síria. E também fez isto o Serviço Jesuíta aos Refugiados (JRS, na sigla em inglês), com a colaboração de sua sede italiana, o Centro Astalli, que difundiu um comunicado em tons dramáticos. Em particular, apontou-se que, nos últimos dias, o JRS se viu obrigado a interromper a própria ação de assistência aos refugiados, devido a escalada militar que se torna cada vez mais forte e que provocou mortes e feridos, principalmente entre a população civil. “Devido a esta excepcional onda de violência – lê-se no texto do comunicado –, como medida de precaução, a partir de hoje, 03 de maio, o JRS na Síria suspendeu, com grande tristeza e com efeito imediato, todas as suas atividades (centros de distribuição de ajuda, ambulatórios, refeitórios) em Alepo até nova ordem”. Por isso, o apelo do Centro Astalli: “No interesse e pela segurança da população civil de Alepo, pedimos a todas as facções combatentes que suspendam imediatamente toda hostilidade. Queremos expressar nossa solidariedade com todas as vítimas e rezamos para que a paz volte a Alepo e a toda Síria, o mais rápido possível”.
A reportagem é de Francesco Peloso, publicada por Vatican Insider, 04-05-2016. A tradução é do Cepat.
O presidente do Centro Astalli de Roma, o padre Camillo Ripamonti, pediu também uma série de intervenções específicas: “Convidamos – explicou – as instituições nacionais e supranacionais, as organizações internacionais, as diplomacias ativas na região para que faça tudo o que for necessário para estabelecer uma trégua em Alepo e em toda Síria”. “A população civil está extenuada – acrescentou. É preciso iniciar imediatamente um caminho de paz”. Por isso, pede-se que a Europa abra “imediatamente canais humanitários para que a população síria chegue e peça asilo com segurança. Precisa-se de vistos temporais e medidas de acolhida e proteção para homens e mulheres vítimas, sem culpa, de um conflito que deve terminar imediatamente”. As notícias reunidas pelo JRS são dramáticas: granadas que caem nas cidades e arredores, atingindo principalmente a população e tornando impossível qualquer atividade de apoio e ajuda aos civis.
No domingo passado, o Papa Francisco falou novamente sobre a crise síria, durante o Regina Coeli: “Recebo com profunda dor as notícias dramáticas provenientes da Síria, que se referem à espiral de violência que continua agravando a já desesperada situação humanitária do país, em particular na cidade de Alepo, cobrando vítimas inocentes, inclusive entre as crianças, os doentes e os que com grande sacrifício estão comprometidos em prestar ajuda ao próximo. Exorto a todas as partes envolvidas no conflito a respeitar o cessar das hostilidades e a fortalecer o diálogo em curso, único caminho que conduz à paz”.
Também o porta-voz da UNICEF-Itália, Andrea Iacomini, disse à Rádio Vaticana que existe um cenário inquietante: “É inútil, naturalmente, continuar dizendo o mais reiterado, ou seja, ter esperanças em um acordo de paz. De imediato, é necessário oferecer respostas, e a resposta mais urgente é a de conseguir criar corredores humanitários nas 18 cidades sob assédio, que nos permitam, em Alepo e também no restante da Síria, chegar onde infelizmente estas populações, estas crianças, sobretudo, estão presas”. A UNICEF pede uma intervenção humanitária nas áreas de maior crise, começando por Alepo, e isto significa deixar “que a Cruz Vermelha, as organizações humanitárias das Nações Unidas, a Meia-Lua e as demais consigam entrar”.
Por outro lado, apontou o representante da UNICEF, todas as partes do conflito estão violando cotidianamente a Carta que tutela os direitos da adolescência e da infância, colocando em jogo a responsabilidade direta da comunidade internacional. É justamente a diplomacia que está procurando fazer com volte a entrar em vigor o cessar-fogo, que ficou esquecido no passado. O Conselho de Segurança da ONU, seguindo as petições da França e Grã-Bretanha, trabalhou para, em breve, chegar a este alento possível objetivo e, por fim, o Secretário de Estado dos Estados Unidos, John Kerry, e o ministro do exterior russo, Serghéi Lavrov, conseguiram um acordo para uma trégua, ainda frágil, que entrou em vigor nesta quinta-feira e que durará ao menos 48 horas, também na cidade de Alepo.
Ao mesmo tempo, o Conselho de Segurança das Nações Unidas aprovou por unanimidade uma resolução na qual pede que todas as forças combatentes não ataquem os hospitais e o mesmo vale para o pessoal humanitário que oferece assistência médica. Pede-se, além disso, que aqueles que cometem estes atos sejam perseguidos e colocados sob investigação.
O Secretário Geral da ONU, Ban Ki-moon, ressaltou que aqueles que golpeiam um hospital cometem um crime de guerra. Há poucos dias, na Síria, na cidade de Alepo, foram atacados dois hospitais, tanto pelas forças do regime, como por parte das facções rebeldes jihadistas. Também é preciso recordar que, para além dos últimos atos sangrentos, as estruturas de saúde do país, durante os últimos cinco anos de guerra, foram destruídas. Este dado constitui um fator de sofrimento particularmente agudo para uma população que conta com dezenas de milhares de feridos. Muitos hospitais e centros médicos foram atacados recentemente em diferentes conflitos espalhados por todo o mundo: desde Síria até Sudão do Sul, passando por Afeganistão, Iraque e Iêmen.
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Serviço Jesuíta aos Refugiados (JSR-Itália) - Centro Astalli e a trégua na Síria. “A população está extenuada” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU