05 Mai 2016
O Governo sírio foi acusado pelas Nações Unidas de recusar a entrega de ajuda humanitária a milhares de pessoas em zonas controladas pelas forças rebeldes. Entre elas está a parte leste de Alepo, que corre o risco de se tornar numa cidade sitiada, avisou esta quarta-feira o responsável da ONU pela Ajuda Humanitária, Jan Engeland.
A reportagem é publicada por Público.pt,05-05-2016.
A violência continua a fazer mortos na maior cidade síria, apesar dos esforços diplomáticos para que seja cumprido o cessar-fogo declarado esta semana. Dezenas de pessoas morreram durante a última noite em confrontos entre os grupos rebeldes e o Exército sírio, de acordo com o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH) — um grupo independente com sede em Londres e com uma rede de informadores no terreno.
Durante a noite, elementos de uma coligação de grupos rebeldes designada Fatah Halab (Conquista de Alepo) tentaram entrar na zona controlada pelo Governo sírio, mas foram obrigados a recuar, descreve o OSDH. Esta quarta-feira os confrontos ainda continuavam, segundo a AFP.
Os ataques rebeldes a vários bairros controlados pelo Governo de Bashar Al-Assad fizeram pelo menos vinte mortos, entre os quais quatro crianças e cinco mulheres, de acordo com o observatório. O número de vítimas deve aumentar, uma vez que há cerca de 80 feridos, alguns dos quais em estado grave.
Na terça-feira, os Estados Unidos e a Rússia chegaram a acordo para que o cessar-fogo em vigor em algumas regiões fosse estendido a Alepo. O departamento de Estado dos EUA disse que foi verificada “uma redução geral da violência”, apesar “das informações que dão conta da continuação dos combates”.
Com a situação na cidade a degradar-se de dia para dia, a ONU veio denunciar o bloqueio por parte das forças de Assad do envio de ajuda humanitária. “Parece que estamos perante uma nova possibilidade de termos áreas cercadas, temos centenas de trabalhadores humanitários sem se poderem movimentar em Alepo”, explicou Jan Engeland.
Há muito que se teme que a zona leste de Alepo, controlada pela oposição, fique totalmente cercada pelas forças governamentais.
Depois de vários ganhos territoriais obtidos pelas forças leais a Assad — especialmente a partir do início dos bombardeamentos pela Força Aérea russa —, neste momento a única ligação disponível é uma estrada a norte da cidade.
Os Médicos Sem Fronteiras estimam que 95% dos profissionais clínicos tenham fugido das zonas rebeldes, deixando-as com cerca de 70 médicos disponíveis para uma população de 400 mil pessoas. Um bombardeamento na semana passada atingiu um hospital apoiado pelos MSF, em que morreram 14 funcionários hospitalares, incluindo o único pediatra da cidade. Outro hospital na zona controlada pelo Governo foi alvo de um ataque na terça-feira.
A equipa de defesa civil de Alepo, conhecida como capacetes brancos, diz que o sistema de distribuição de água foi atingido, deixando os bairros rebeldes sem acesso a água tratada.
“É uma desgraça ver que enquanto a população de Alepo continua a sangrar, as suas opções para fugir nunca foram tão difíceis como agora”, lamentou Engeland. Esta quarta-feira, o Conselho de Segurança da ONU vai discutir a situação na cidade.
No site da Al-Jazira, o analista James Denselow antevê a táctica das forças governamentais em relação a Alepo. “Como vimos em locais como Yarmouk ou Darayya, áreas urbanas com presença de combatentes da oposição são ‘suavizadas’ através da fome e das tácticas de cerco. Portanto, o panorama humanitário, já de si aterrador pela sua dimensão e tragédia, irá piorar ainda mais.”
Para além de Alepo, o Governo sírio é acusado de privar milhares de pessoas, que vivem noutras zonas controladas pela oposição, de ajuda humanitária.
Nas últimas duas semanas, o recrudescimento do conflito em Alepo fez cerca de 300 mortos e enterrou definitivamente o acordo de “cessação de hostilidades” alcançado em Fevereiro, ao mesmo tempo que bloqueou as conversações de paz. O emissário da ONU para a Síria, Steffan de Mistura, disse esta semana esperar que o diálogo seja retomado ainda em Maio. A ausência de tréguas, avisou o responsável, pode levar "400 mil pessoas a dirigirem-se para a fronteira com a Turquia"
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Alepo corre o risco de ficar cercada pelas forças de Assad, diz ONU - Instituto Humanitas Unisinos - IHU