06 Novembro 2016
Carlos Marentes, ativista mexicano, denunciou no Vaticano a “ofensiva” contra os migrantes nos Estados Unidos e descreveu como os hispânicos nesse país podem se organizar para lutar contra a exploração.
A reportagem é publicada por Informador.mx, 04-11-2016. A tradução é de André Langer.
O diretor do Centro dos Trabalhadores Agrícolas Fronteiriços, associação com sede em El Paso (Texas), fez uma exposição no terceiro dia do Encontro Mundial de Movimentos Populares, que acontece no Pontifício Colégio Mater Ecclesiae, convocado pelo Papa Francisco.
Perante uma assembleia formada por 200 delegados de 92 organizações procedentes de 65 países, Marentes contou sua experiência de apoio aos camponeses migrantes para que melhorem seus salários, coíbam a exploração nos campos e as violações aos seus direitos básicos.
“Nós vemos que o Papa é, agora, a pessoa com mais autoridade moral em nível mundial e viemos para expor essa ofensiva contra os migrantes. Embora proporcionem uma grande contribuição econômica nos Estados Unidos, seguem sendo os mais marginalizados, os descartados do sistema”, explicou.
“Os trabalhadores agrícolas e migrantes não são apenas vítimas, os ‘pobrezinhos’ do sistema; eles também se organizam e lutam, não estão esperando que alguém resolva os seus problemas, mas todos os dias lutam pela dignidade do seu trabalho e por suas famílias”, acrescentou.
Ativista social desde 1983, e graças à sua organização, Marentes ajuda boa parte dos entre cinco mil e 12 mil diaristas hispânicos que trabalham no sul do Texas, número que flutua conforme a época do ano.
Lamentou o fato de que os abusos nos campos estadunidenses ainda sejam justificados e aumentem as deportações, sintomas dessa “ofensiva”.
Advertiu que os migrantes, nos países do “Primeiro Mundo”, têm sido mão de obra barata, mas também os “bodes expiatórios perfeitos” para os males sociais das sociedades.
Sem mencionar explicitamente o nome de Donald Trump afirmou que um candidato presidencial “muito racista” nos Estados Unidos disse que os mexicanos são responsáveis por levar o narcotráfico ao seu país, mas nunca fala do consumo de drogas.
Considerou que seu discurso fortemente xenófobo demonstra que os hispânicos têm a possibilidade real de converter-se em uma grande força política no país, e essa mensagem pretende manter um “sistema de sujeição”.
“Os hispânicos, fundamentalmente os mexicanos, são mais de 50% da força de trabalho nos Estados Unidos. Boa porcentagem da economia descansa sobre a nossa mão de obra. Imaginamos o dia em que possamos nos organizar para exercer essa força. Que impacto teria!”, disse.
Marentes defendeu que é necessário ver os migrantes de modo diferente, porque não são uns pobres coitados que cruzam o deserto e para os quais é preciso implementar programas de ajuda assistencial.
“Nós temos outra visão. Pensamos que a migração é também uma forma de luta, uma forma de resistência. Ninguém deixa sua família ou sua comunidade, senão porque isso é uma forma de sobrevivência, para não desaparecer diante de um sistema que os marginalizou e excluiu”, enfatizou.
“Pela primeira vez temos um Papa que nos deu a voz e por isso estamos aqui no Vaticano para falar sobre a problemática dos migrantes, sobretudo quando nos Estados Unidos, no calor do debate eleitoral, há um discurso anti-imigrante muito forte”, insistiu.
O 3º Encontro Mundial dos Movimentos Populares termina neste sábado, 05 de novembro, com uma mensagem do Papa Francisco aos participantes reunidos na Aula Paulo VI do Vaticano.
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Denunciam no Vaticano ‘ofensiva’ contra migrantes nos Estados Unidos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU