Diaconato feminino: as mulheres esperam mais. Artigo de Anne Soupa

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16 Dezembro 2025

A notícia foi divulgada em 4 de dezembro. Pela terceira vez, o Vaticano, por meio de uma comissão, disse “não” ao diaconato para as mulheres

O artigo é de Anne Soupa, teóloga e biblista, autora de Galla Placidia, l’impératrice face aux grandes migrations, publicado por www.temoignagechretien.fr de 11-12-2025. A tradução é de Luisa Rabolini

Eis o artigo. 

Será que os teólogos e o cardeal responsável pela comissão escolheram efetivamente de forma livre como responder? Ficamos surpreendidos com a notícia? Não propriamente; a própria questão parece ultrapassada. E, mais uma vez, o Vaticano demonstra uma grande falta de jeito e uma arrogância muito clericais. Em vez de começar com o abrir das portas, fecha-as e não propõe nada de construtivo. Resultado: as mulheres não se sentem reconhecidas nem escutadas, mas sim enganadas.

Nunca fui a favor do diaconato feminino. Não acredito que o acesso ao sacerdócio — isto é, a um diaconato "com vistas ao sacerdócio" — seja um progresso hoje, porque o ministério sacerdotal está em profunda crise.

A crise afeta a própria estrutura do sacramento da Ordem, visto que o Código de Direito Canônico afirma que ele é "de instituição divina" (§1008). Esse termo, que instrumentaliza a vontade divina, é o primeiro dos abusos. Enquanto não for abandonado, haverá algo distorcido na definição do ministério, envoltos por uma auréola de glória que os recentes abusos sexuais desmentem. Porque a distinção entre a "pessoa do padre" e o "sacramento" é demasiado sutil para ser percebida pelos fiéis, especialmente pelas pessoas expostas aos abusos. Tornar-se padre nesse contexto seria, portanto, um compromisso contraproducente para as mulheres.

A crise também diz respeito ao método de recrutamento de sacerdotes, que é por demais restrito à luz do poder quase absoluto que lhes é concedido em todos os níveis de responsabilidade. Quando nos dirigimos apenas a pessoas do sexo masculino e solteiras, restringe-se a base, os candidatos tornam-se escassos e as possibilidades de esse clero trabalhar em harmonia com a sua comunidade humana diminuem. Se nada mudar, esse corpo clerical anêmico e desacreditado pelos abusos acabará por morrer de morte natural.

Finalmente, e mais profundamente, estaria a existência desse corpo separado do povo em conformidade com o desejo de Jesus? Não nos esqueçamos de que os líderes das comunidades dos primeiros séculos eram "viri probati", homens idosos, casados, prudentes e sábios. Os "sacerdotes", no sentido atual do termo, só surgiram em meados do século III, inspirados nos sacerdotes judeus do Templo... um Templo que Jesus jamais deixou de questionar! Certamente, os sacerdotes do passado prestaram serviços eminentes ao Evangelho, mas o atual fosso entre um clero todo-poderoso e um laicato, muitas vezes melhor formado do que o clero, porém não legitimado e, portanto, quase sempre controlado por um sacerdote, não seria um grave ataque à comunhão da Igreja Católica? Por essas três razões, não me parece algo almejável que as mulheres ingressem no ciclo diaconato-sacerdócio. O diaconato não atenderá às suas expectativas. Elas são chamadas à plena igualdade, não a ocupar posições de segundo escalão.

Então, o que a comissão propõe? Quase nada... Destacando um debate bastante dividido (cinco votos a favor do princípio da igualdade de gênero, cinco a favor da masculinidade daqueles que recebem a ordem), declara que ainda deseja..."aprofundar" a sua reflexão. A única direção proposta é "ampliar o acesso das mulheres aos ministérios instituídos para o serviço da comunidade" (o leitorado para ler na missa, o acolitato para auxiliar quem oficia a celebração). Que melhor maneira de sugerir que as mulheres estarão em seus devidos lugares lendo e lavando os pratos? Definitivamente se afirma que elas "não têm nada na cabeça"? Em vez do lugar de segunda categoria, elas têm o direito ao galinheiro.

Não, as mulheres esperam algo mais porque Jesus lhes ensinou a igualdade. Hoje, a questão da ordenação foca a atenção de todos, mas por trás dela, o que está em jogo é a efetiva possibilidade da proclamação da Boa Nova. Esse objetivo só pode ser alcançado conquistando um poder. E digo claramente que essa é a batalha mais importante. Portanto, para além dessa comissão tão distante da realidade, as mulheres esperam decisões substanciais do Papa. Ele multiplicará o número de mulheres na Cúria? Manterá a decisão de Francisco de conceder às mulheres o direito de voto nas assembleias sinodais? E levará essa escolha às suas lógicas consequências, não tolerando mais que os eleitores do Romano Pontífice sejam, mais uma vez, apenas homens?

Ainda há muito a ser feito... Para convencer os outros, as mulheres precisam acreditar em sua luta, não podem mais se iludir com a ideia de que as coisas mudarão "daqui a um século" e precisam demonstrar solidariedade na mobilização.

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