05 Dezembro 2025
"O que está em jogo é a alteridade masculina/feminina, que se enxerta, embora não de forma redutiva, na esfera biológica, pois envolve necessariamente fisicalidade e corporeidade", escreve Giuseppe Lorizio, professor de Teologia Fundamental da Pontifícia Universidade Lateranense, em Roma, em artigo publicado por Settimana News, 05-12-2025.
Eis o artigo.
O resumo dos trabalhos da Comissão de Estudos sobre o Diaconato Feminino foi publicado hoje (4 de dezembro de 2025) no Boletim da Sala de Imprensa da Santa Sé, embora esteja datado de 18 de setembro. Além da demora incompreensível, surge a questão: por que publicar uma carta assinada pelo Cardeal Petrocchi e pelo Bispo Dupont-Fauville, dirigida ao Bispo de Roma, senão para suscitar um debate? Caso contrário, não teria sido melhor aguardar que Leão XIV recebesse o conteúdo da carta, juntamente com as considerações que a acompanham sobre a negação do diaconato às mulheres?
Em todo caso, já que temos em mãos um documento que considero importante, senão decisivo, para a questão, será legítimo tomá-lo em consideração e explorá-lo mais a fundo, debatendo-o. Isso porque, como os próprios autores afirmam, não estamos diante de um texto definitivo. E isso, como advertiu Bento XVI, situa-se no horizonte teológico-especulativo (que ele chamava de "doutrinário"), e não no histórico-positivo. É nesse nível que gostaria de iniciar um debate aprofundado. O status quaestionis aqui descrito se mostrará particularmente útil como base para a discussão do contraste entre as duas escolas teológicas, cujas opções e motivações a carta expõe com propriedade.
A primeira observação teológica geral que me vem à mente, não apenas à luz da retrospectiva e das conclusões aqui apresentadas, diz respeito ao significado da pergunta, que me pareceu mal formulada desde o início (e o documento confirma isso). Não se trata, na verdade, de saber se as mulheres podem ter acesso ao diaconato, mas sim da abertura do sacramento da Ordem a pessoas que não sejam homens. De fato, dado o estado atual da doutrina sacramental, seria muito difícil distinguir entre o diaconato como sacramento e um dos possíveis ministérios, cuja expansão a carta defende. Não creio que o povo de Deus seja capaz de compreender uma distinção tão sutil e acadêmica. Precisamos de tudo, menos de confusão em matéria de fé.
Obra "The Woman with the Green Goblet", de He Qi.
E aqui chegamos ao cerne da questão: trata-se da "sacramentalidade" e sua expressão nos sete sinais, incluindo o da Ordem. Os sacramentos, de fato, estão enxertados na sacramentalidade de Cristo e da Igreja, fundada na alteridade esponsal dos dois cônjuges. Este é o horizonte de significado tanto do sacramento da Ordem quanto do matrimônio. A reiteração da expressão "masculinidade de Jesus Cristo" e "masculinidade" das pessoas ordenadas (em apoio ao argumento contra o diaconato feminino) é horrível e completamente inadequada. Esse não é o ponto, mas sim a relação esponsal de Cristo com a Igreja, que encontra expressão nos dois sacramentos citados.
O que está em jogo é a alteridade masculina/feminina, que se enxerta, embora não de forma redutiva, na esfera biológica, pois envolve necessariamente fisicalidade e corporeidade. A menos que — e isso requer uma discussão aprofundada — pretendamos considerar essa alteridade simplesmente como referente a pessoas, mas, nesse caso, excluiríamos a fisicalidade inerente aos sacramentos e ao nosso próprio ser pessoas (sujeitos encarnados).
Surge então a questão: estaria a Igreja Católica Romana disposta e preparada para rever radicalmente seu horizonte sacramental, considerando-o, atualmente, um mero produto da história e da cultura e não, como me parece, contido na própria Revelação? Tampouco devemos nos deixar enganar pela cultura difundida no Ocidente hoje, que tende a rejeitar a alteridade, seja qual for a forma que ela se apresente — penso não apenas em masculino e feminino, mas também, por exemplo, na alteridade migrante — nem pelo fato de a escolha proposta pela Comissão aproximar a Igreja Católica Romana das Igrejas Ortodoxas Orientais do que das Igrejas Evangélicas Reformadas e do Anglicanismo (vide a controvérsia sobre a nomeação do atual Arcebispo de Canterbury).
Retomando a questão inicial, ela encontra seu lugar mais no contexto sociológico do que no estritamente teológico. No segundo caso, aqueles que consideram a questão mais radical têm razão: o sacramento da Ordem (em seus três graus) deve ser administrado às mulheres? E não vejo nenhuma discriminação na resposta negativa a essa pergunta, porque, sem invocar os princípios petrinos e marianos, os dados refletidos e transmitidos não diminuem o feminino, mas afastam a Igreja da dialética oposicional que causa tanto dano à sociedade em que somos chamados a viver.
Pelo contrário, seria pertinente discutir e rever, como está sendo feito o processo iniciado pelo Papa Francisco, a ligação entre o sacramento da Ordem e a autoridade eclesiástica em vários níveis, desde a Cúria Romana até as paróquias, movimentos e associações, incluindo as dioceses. Creio que o rumo que tomamos não permite reconsideração, mas constitui, antes, um ponto de não retorno.
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