09 Dezembro 2025
Encorajo muitas mulheres a continuarem lutando para conquistar na Igreja o lugar que nos pertence como seres humanos.
O artigo é de Isabel Gómez Acebo, teóloga, publicado por Religión Digital, 05-12-2025.
Eis o artigo.
Quem sou eu para chamar de erro a decisão de uma comissão oriunda do sínodo de que, embora a revisão histórica mostre que as mulheres exerceram o diaconato, falta o estudo teológico da matéria, visto que este é considerado um primeiro passo rumo ao sacerdócio, cuja negação às mulheres já é definitiva?
Eu não sou ninguém, uma leiga que lutou a vida inteira para tentar alcançar a igualdade entre mulheres e homens, tanto na sociedade quanto na Igreja. E me dói ver que nossa instituição não está na vanguarda dessa luta. Pelo contrário, ao longo dos anos, ela tem alimentado o fogo com comentários depreciativos: éramos inferiores em inteligência, perpetuamente imaturas, frívolas, fofoqueiras, imorais, tentadoras de Adão… Todas essas supostas virtudes levaram ao desejo de Deus por uma suposta subordinação feminina para evitar males maiores.
Reconheço que a sociedade civil também seguiu esse caminho, mas em algumas partes do mundo, ela tem corrigido o rumo e dado às mulheres um papel de liderança. Basta observar o número crescente de presidentes e primeiras-ministras em diferentes países. É por isso que me surpreende e entristece que a instituição que alega seguir os ensinamentos de Jesus Cristo não o faça. Seus primeiros seguidores estabeleceram, entre outras coisas, que em suas comunidades não poderia haver diferenças entre senhores e escravos, judeus e gentios, homens e mulheres. Tais diferenças existiam e ainda existem, sem o menor remorso, porque vêm adiando o problema e falhando em tomar decisões igualitárias por tempo demais.
Fomos informados de que o grupo que tomou a decisão era composto por 10 membros, sendo que sete votaram contra e um a favor. Onde estavam os outros dois? Alegam também que receberam apenas 22 documentos representando alguns países e, portanto, não podem ser considerados a voz do Povo de Deus. Concordo com este último ponto, pois se houvesse um referendo na Igreja, o voto "não" ao diaconato feminino venceria de forma esmagadora. Tantos anos de subordinação feminina cobraram seu preço das mulheres!
Achei curioso que a masculinidade de Jesus tenha sido usada como argumento contra nós. Somos uma sociedade visual, e os galileus eram brancos. Como homens negros ou chineses refletem Jesus Cristo em sua imagem? Jesus chama Deus de Pai, e estamos acostumados a ver imagens de um Deus com barba branca, que são as que chegaram às massas. Podemos afirmar a masculinidade de Deus hoje? Não foi necessário transformar Maria de Nazaré em uma deusa para compensar a falta de feminilidade do Criador?
Jesus Cristo lutou contra a sociedade judaica e a hierarquia de sua época. Isso lhe custou a vida, mas creio que ele não se arrependeu do que fez. Ele aceitou as leis de sua sociedade, como a escravidão, que a Igreja manteve como natural até meados do século XIX, quando muitas vozes já se levantaram contra ela. Mesmo assim, ele tinha muitas mulheres entre seus seguidores, algumas tão importantes quanto Maria Madalena, que foi a primeira pessoa a quem ele apareceu e a quem pediu que propagasse a boa nova. Algumas comunidades cristãs primitivas a chamavam de Apóstola dos Apóstolos.
As primeiras feministas também lutaram pelo sufrágio feminino, o que ia contra as normas sociais. Algumas foram presas, mas perseveraram. Encorajo muitas mulheres a continuarem lutando pelo lugar na Igreja que nos pertence como seres humanos. Nestes tempos de enormes mudanças sociais, ainda temos tempo para construir uma comunidade de iguais. Sem dúvida, as cerimônias do Vaticano com tantos cardeais, bispos e padres não promovem essa igualdade e contribuem para o esvaziamento das igrejas. Neste tempo do Advento, não podemos perder a esperança. O nascimento de uma Criança em uma manjedoura — ninguém imaginaria então que se tornaria uma força capaz de mudar a sociedade.
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