18 Julho 2025
"Certamente, a Igreja progrediu. Após séculos de conformação à crença comum de que as mulheres eram inferiores, inferiores aos homens e necessariamente subordinadas, hoje a Igreja está na vanguarda da defesa da dignidade das mulheres em muitas situações e lugares", escreve Anita Prati, professora de Letras no Instituto Estatal de Educação Superior Francesco Gonzaga, em Castiglione delle Stiviere, na Itália, em artigo publicado por Settimana News, 17-07-2025.
Gostaria, em primeiro lugar, de agradecer a Roberto Mozzi pela serena clareza com que, em seu artigo publicado no Settimana News em 8 de julho, ele destacou algumas questões, ainda indizíveis para muitos, a respeito da presença das mulheres na Igreja. Gostaria de revisitar e refletir sobre algumas passagens do artigo, prosseguindo ponto por ponto.
(1) Mozzi destaca, no início, como um dos temas mais significativos do recente Sínodo, em termos de importância e consequências, é precisamente aquele que coloca no centro a discussão sobre a posição da mulher na Igreja.
Qualquer pessoa que tenha participado de grupos de trabalho sinodais ou esteja familiarizada com conselhos pastorais, paroquiais ou diocesanos sabe como é difícil, nesses contextos, abordar a questão do papel das mulheres na Igreja. O problema não é tanto falar sobre mulheres — mesmo os padres mais misóginos não se esquivam mais de elogiar o gênio feminino —, mas sobre o papel e a posição das mulheres na Igreja. Pode-se falar sobre jovens, a transmissão da fé, migrantes, marginalizados, liturgia. Pode-se falar sobre qualquer coisa, até mesmo sobre mulheres e sua responsabilidade compartilhada, desde que não se toque no tema de "papéis e posições".
Este é um tema que toca o nível estrutural mais profundo da Igreja; tentar discuti-lo corre o risco da impaciência de um julgamento cortante (... a feminista de sempre!) ou, no máximo, da comiseração benevolente daqueles que pacientemente tentam explicar que "papel" e "posição" não são as palavras corretas para falar sobre as mulheres na Igreja. E assim, como por milagre, no resumo final do trabalho em grupo, todas as palavras que vocês possam ter proferido sobre a questão do "papel das mulheres" desaparecem (vocês são as únicas a falar sobre isso, não é uma questão compartilhada, é prematuro falar sobre isso, estes não são os tempos...).
Que o silenciamento é uma tática a ser incluída na estratégia mais ampla de 'evitação' — silenciar um problema para evitar trazê-lo à tona e ser capaz de dizer a si mesmo que ele não existe — foi claramente demonstrado, por outro lado, pelo próprio Sínodo, que gastou energia considerável enterrando a questão das mulheres diaconais, varrendo o elefante para debaixo do tapete e fingindo que não há necessidade de a Igreja abordar uma questão estrutural das mulheres.
2) Mozzi destaca a singularidade social da Igreja italiana: a Igreja está presente de forma proativa e proativa nas instituições públicas e na sociedade civil quando se trata de promover a igualdade de oportunidades, apoiar a representação igualitária e combater a violência masculina, mas, internamente, a própria Igreja está estruturada de forma rigidamente masculina, teorizando e implementando o princípio segundo o qual às mulheres não é reservado um papel gerencial, mas apenas consultivo. Essa singularidade é muito evidente para quem observa a Igreja de fora, mas não tão clara para quem a vivencia de dentro.
Certamente, a Igreja progrediu. Após séculos de conformação à crença comum de que as mulheres eram inferiores, inferiores aos homens e necessariamente subordinadas, hoje a Igreja está na vanguarda da defesa da dignidade das mulheres em muitas situações e lugares. O importante é que esses lugares e situações não questionem sua própria estrutura e exijam que a Igreja repense a si mesma e os argumentos da construção teológico-dogmática que, durante séculos, lhe permitiu justificar a supremacia masculina que a sustenta.
Que o culto, a pregação e a liderança comunitária — isto é, os fatores que moldam a identidade eclesial — sejam prerrogativas exclusivas dos homens é, por outro lado, uma história secular que tem a ver com o problema da representação do corpo feminino. Este corpo vivificante, escandaloso em seu poder gerador, este corpo tão diferente e, portanto, tão sedutor, este corpo desejável e perigoso, este corpo sempre foi um problema para os homens. Homens nascidos de mulheres, que sempre usaram a violência — mais ou menos brutal, mais ou menos sutil — contra as mulheres — sobre os corpos das mulheres — para afirmar seu poder.
Mas a Igreja Católica fez alguns progressos, dizia-se. Convertida pelas revoluções de pensamento desencadeadas pelo feminismo, a Igreja Católica agora aceitou que as mulheres têm plenos direitos, como os homens. Que podem votar e ser votadas, que podem trabalhar fora de casa, que podem estudar (até teologia!), formar-se, tornar-se professoras, médicas, advogadas, juízas, teólogas, parlamentares, senadoras, primeiras-ministras, presidentes de empresas e de Estados — como os homens. Que, no mundo e para o mundo, elas podem fazer tudo, como os homens.
Lá dentro, a música não mudou. Em seu interior, a Igreja Católica continua a negar às mulheres o direito de presidir o culto, pregar publicamente e receber o sacramento da Ordem. Trata-se de uma discriminação flagrante baseada no gênero, disfarçada de vontade divina e motivada por supostas razões jurídico-teológicas. Essa discriminação coloca a Igreja Católica no mesmo nível de muitas outras religiões e culturas, cristãs e não cristãs, que, mesmo hoje, no terceiro milênio, à luz de um problema não resolvido com o corpo feminino, continuam a violar a liberdade, os desejos e os sonhos das mulheres em todo o mundo.
Sem mencionar que a singularidade de que Mozzi fala corre constantemente o risco de beirar o ridículo, já que a defesa das prerrogativas masculinas exclusivas dentro da Igreja é confiada a um clero vestido com vestes elegantemente femininas, e de mergulhar no folclore, com padres presidindo espaços proibidos às mulheres, como monges empoleirados no Monte Athos.
(3) A questão das "mulheres" representa, hoje, um desafio decisivo para a Igreja. Como a Igreja pretende apreender os sinais que o Espírito propõe na história? – pergunta Mozzi. Anunciar o Evangelho no presente não significa caminhar olhando para trás, pedir permissão a uma autoridade enterrada no passado, mas deixar-nos interrogar pelo presente das nossas comunidades para nos abrirmos a um impulso profético vital.
Creio ser essencial, neste sentido, assumir a consciência histórica que nos permite distinguir entre tradições e Tradição.
Tradições. Tomemos o exemplo do canto litúrgico. Uma tradição secular proibiu as mulheres – exceto as freiras em seus conventos – de cantar durante as celebrações litúrgicas; essa mesma proibição esteve na origem da triste história dos cantores castrados do Coro Pontifício. Ainda no início do século XX, Pio X, no capítulo V de seu Motu Proprio Tra le sollecitudini – Sulla musica sacra, depois de ter sublinhado como na igreja os cantores cumprem um verdadeiro ofício litúrgico, escreveu:
"As mulheres, sendo incapazes deste ofício, não podem ser admitidas no coro ou na capela musical. Portanto, se as vozes agudas de sopranos e contraltos forem utilizadas, elas devem ser acompanhadas por meninos, de acordo com o antigo costume da Igreja".
Este documento papal de 120 anos falava, sem rodeios e sem sentir necessidade de maiores justificativas, da incapacidade das mulheres de desempenhar deveres litúrgicos. Essa incapacidade não era considerada um dado adquirido, mas um a priori indiscutível. O que diria hoje o santo Papa Sarto se, caminhando por nossas comunidades paroquiais nas manhãs de domingo, visse que nossas liturgias eram animadas por coros de vozes mistas (mais vozes femininas do que masculinas...), liderados, cada vez mais, por diretores em vez de maestros homens? O que diria ele ao fato de que a antiga tradição que proibia as mulheres de elevar a voz ao cantar desapareceu sem drama diante da realidade? Quem sabe se, concordando com o Papa Francisco, ele também se veria forçado a admitir que a realidade é sempre maior do que as ideias...
Tradição. A herança da fé recebida do Novo Testamento é o bem mais precioso que a Igreja preserva, escreve Mozzi, mas exige ser colocada em relação com a história, não enterrada por medo de perdê-la. Não é o Evangelho que muda, mas nós que nos tornamos capazes de compreendê-lo melhor, graças a esse exercício contínuo de leitura à luz da história e da realidade.
Jesus não fez distinção entre discipulado masculino e feminino; de fato, foi a uma mulher que ele confiou o primeiro anúncio — o primeiro anúncio — da Ressurreição. No entanto, o olhar da Igreja sobre Maria Madalena durante séculos foi obscurecido pelo condicionamento de uma mentalidade sexista e patriarcal. Um olhar incapaz de captar o significado disruptivo de seu apostolado, ou, talvez melhor, um olhar contaminado pelo desejo de cortar rapidamente os fios, enraizados nos Evangelhos, de uma tradição de apostolado feminino que, por si só, legitimaria o direito de toda mulher de ser apóstola.
O tempo que vivemos hoje é, sob esta perspectiva, um kairos extraordinário: ao oferecer-nos, como potencial e riqueza, a novidade disruptiva da presença de mulheres em posições de responsabilidade e de liderança a todos os níveis, o nosso presente pode ajudar-nos a libertar-nos de preconceitos seculares e reducionistas sobre a figura de Maria Madalena, para nos restituir em pleno significado a poderosa imagem evangélica da Apóstola dos Apóstolos.
(4) O que falta às mulheres para aceder aos cargos eclesiásticos reservados aos homens?
Esta é a questão crucial do artigo. De fato, o que falta às mulheres? Inteligência? Liberdade de espírito e vontade? Sensibilidade? Força? Resistência? Perseverança? Capacidade de pensar? Capacidade de amar e ter esperança? Capacidade de servir?
Nenhum teólogo hoje (eu acho...) começaria a discutir, como se faz há séculos, a imbecillitas mentis e a infirmitas sexus das mulheres, ninguém mais se permitiria falar de incapacidade.
Todos sabemos que as razões tradicionais apresentadas no passado para justificar a exclusão de mulheres do ministério ordenado não são mais válidas hoje. A própria Pontifícia Comissão Bíblica declarou que a reserva da ordenação aos homens não pode ser fundamentada biblicamente.
Então, por que as mulheres são, a priori, consideradas inaptas para receber qualquer um dos sete sacramentos? O que falta?
A resposta é simples: nada.
A menos que você opte por uma afirmação que corra o risco de soar vulgar.
(5) À pergunta do ponto 4, formulada por Mozzi de forma clara e direta, o autor prossegue com a seguinte observação: Quando se coloca esta questão, responde-se que a Igreja não é lugar para reivindicações e que na Igreja há lugar para todos. Mozzi propõe então algumas observações decisivas a respeito da palavra reivindicações, relacionando-a com o fermento evangélico que faz brotar no coração dos homens uma necessidade irreprimível de dignidade.
A palavra reivindicação é e continua sendo, na Igreja, uma palavra que perturba e incomoda, principalmente quando reivindicar é uma ação que coloca em risco o status quo, propondo embaralhar as cartas do "sempre foi assim".
No entanto, vindicação é uma palavra com raízes muito nobres. Ela nos remete à época, no mundo romano, em que existia a figura jurídica do vindex, ou seja, o fiador e defensor de um acusado. Cícero fala dos vindices libertatis, campeões da liberdade; Sêneca, dos vindices veritatis, defensores da verdade. O vindicador se levanta, mantém a cabeça erguida e levanta a voz para afirmar e reafirmar princípios; busca redenção; luta por direitos negados; expõe-se e se dedica não para si mesmo e seu ganho pessoal, mas por uma causa comum e para o bem de todos (homens e mulheres).
Vindicare é uma ação enraizada na lei; significa reivindicar por meios legais, pela força da lei. Rei vindicare, de onde vem o verbo vindicare, indica a ação legal que permite obter algo que nos é devido, a ação que nos permite recuperar algo que nos pertence e que, por vários motivos, foi perdido.
A palavra "vindicação" contém toda a nobreza de um gesto que não é autorreferencial, mas sim realizado para todos, diante de todos, segundo a justiça. O gesto corajoso de alguém que ousa se manifestar contra a violência e os abusos sofridos. Portanto, como enfatiza Mozzi, a afirmação de um direito não pode ser julgada como arrogância invasiva, mas, ao contrário, é uma ação devida para coibir a violência.
Sonho com uma Igreja que defenda e garanta a dignidade de todos e cada um de nós, uma Igreja que não se perca nas armadilhas do pensamento retrógrado, mas que saiba acompanhar o ritmo de Cristo para libertar a verdade que habita em cada um de nós. Uma Igreja que reconheça o tempo presente como um tempo de graça, deixando-se subverter e converter sem medo pelo novo tempo que já existe.