28 Novembro 2025
A interferência do narcotráfico na política é um dos temas centrais das eleições do próximo domingo (30) em Honduras. O pleito ocorrerá em um clima de tensão, já que os três candidatos favoritos à presidência - os direitistas Salvador Nasralla (Partido Liberal) e Nasry Asfura (Partido Nacional), e a esquerdista Rixi Moncada (Partido Libre, no poder) - trocam acusações de planejar uma fraude. Além do presidente, os hondurenhos também elegerão deputados e prefeitos para os próximos quatro anos.
A reportagem é de Carlos Herranz, publicada por Rfi, 27-11-2025.
Há anos os cartéis locais Los Cachiros e Valle Valle influenciam a política hondurenha, tornando o financiamento de campanhas políticas por meio do narcotráfico e do crime organizado uma constante em Honduras. Há casos dentro de cada um dos três maiores partidos: Liberal, Nacional e Libre.
Acusado de transformar o país em um "narcoestado", o ex-presidente Juan Orlando Hernández, figura máxima do PN, foi entregue aos Estados Unidos, dentro do tratado de extradição entre os dois países, e condenado em 2024 a 45 anos de prisão. No PL, o poderoso Yani Rosenthal, candidato à presidência em 2021, também cumpriu pena em solo americano por lavagem de dinheiro do narcotráfico.
Para o diretor da Faculdade Latinoamericana de Ciências Sociais (Flacso) de Honduras, Rolando Sierra, o problema é o alto custo das campanhas eleitorais. "Há muito investimento em publicidade, investimento para percorrer o país. Há candidatos a deputado que gastam muito mais do que vão receber como salário em quatro anos", diz.
Segundo Sierra, esses altos custos abrem a porta para o narcotráfico, levando barões da droga a financiar "muitos candidatos a prefeito, a deputados e, às vezes, à presidência”. "Busca-se o dinheiro onde for possível encontrá-lo”, ressalta.
Falta de transparência
Em Honduras, o limite de gastos das campanhas para os candidatos a presidente é de quase US$ 20 milhões. Embora possa parecer pouco em comparação com outros países, especialistas concordam que o valor é alto para a realidade do país.
Outro problema é a falta de transparência sobre os gastos nas campanhas, aponta Cristian Nolasco, da ONG Conselho Nacional Anticorrupção. “A responsabilidade de coletar esses dados cabe ao órgão que fiscaliza os financiamentos das campanhas políticas. No entanto, como esse órgão está enfraquecido, ele não apresenta dados”, afirma.
"O resultado é que o narcotráfico financia o político e o político fica a seu serviço", resume Rolando Sierra. Segundo ele, com a perpetuação deste sistema, o Estado acaba "capturado", com o Congresso e o poder judiciário reféns deste tipo de prática.
Para o diretor da Flacso, este é um dos maiores desafios que o país enfrenta. Segundo ele, a ausência de processos judiciais e a impunidade criaram uma relação simbiótica entre políticos e narcotraficantes.
Política anti-imigração de Trump
Outros temas que dominaram a campanha para as eleições em Honduras é a cruzada anti-imigrantes do presidente americano, Donald Trump. Ao contrário de quatro anos atrás, quando a esquerda chegou ao poder, desta vez Honduras sofre os impactos da atual administração americana.
Os Estados Unidos revogaram o status de proteção temporária de 51 mil hondurenhos e deportaram 27 mil migrantes de volta ao país em 2025. Não é à toa que cada candidato fez, segundo sua ideologia, algum aceno a Trump.
Rixi Moncada diz que respeitará o tratado de extradição com Washington. Salvador Nasralla prometeu romper com a Venezuela e, assim como Nasry Asfura, quer promover um diálogo melhor com o governo americano. Eles expressaram disposição de se aproximar de Taiwan, depois que Honduras restabeleceu relações com a China em 2023.
Já a presidente hondurenha, Xiomara Castro, esteve perto de cancelar o tratado de extradição com os Estados Unidos, após Washington criticar uma reunião da cúpula militar do país com um general venezuelano acusado de narcotráfico. A esquerdista, aliada de Nicolás Maduro, suspeita que a Casa Branca esteja buscando a extradição de militares leais ao governo para incitar outro golpe de Estado.
Proximidade com as Forças Armadas
Outra questão que preocupa parte dos eleitores é a proximidade das Forças Armadas com o governo. Executores do golpe de Estado de direita que derrubou Manuel Zelaya, marido de Xiomara Castro, há 16 anos, os militares agora têm uma estreita relação com a família presidencial de esquerda.
Há algumas semanas, as Forças Armadas chegaram a solicitar ao Conselho Nacional Eleitoral (CNE) o acesso às atas para verificar a contagem de votos. No entanto, a Constituição do país concede aos militares apenas a função de proteger o material das eleições.
"É preocupante porque [as Forças Armadas] atualmente respondem à presidente" e essa "extrapolação de funções" colocaria as eleições "em um cenário muito adverso", disse à AFP a diretora para a América Central do Escritório em Washington para a América Latina, Ana María Méndez.
Apesar de rejeitada pelo CNE, a solicitação gerou temores de uma intromissão dos militares a favor do partido Libre. Washington advertiu que, caso haja perturbações ao processo eleitoral, responderá "com firmeza".
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