Trump ressuscita o intervencionismo dos Estados Unidos na América Latina

Donald Trump (Fonte: Reprodução | Youtube)

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30 Outubro 2025

“Em seu segundo mandato, Donald Trump está tratando a América Latina como o quintal dos EUA”, comenta Daniel R. Caruncho, jornalista, em artigo publicado por La Vanguardia, 28-10-2025. A tradução é do Cepat.

Eis o artigo.

Para Donald Trump, a vitória de Javier Milei nas eleições legislativas argentinas não pode ser explicada sem a intervenção dos EUA.

“Ele teve muita ajuda nossa”, disse ontem no Air Force One, enquanto se dirigia para o Japão. “Eu lhe dei um apoio muito forte”, acrescentou. Não foi exagero. Às portas das eleições, o presidente estadunidense prometeu ao presidente argentino um resgate de 20 bilhões de dólares. Uma medida inédita, muito questionada nos EUA, com o objetivo indisfarçável de influenciar no resultado das urnas.

O interesse de Trump em apoiar Milei no poder não se deve apenas às afinidades ideológicas entre os dois líderes. Corresponde também a uma questão geopolítica.

Em seu segundo mandato, o republicano está tratando a América Latina como o quintal dos EUA. Um lugar que pode reordenar à vontade e que deve estar a salvo das garras de outras potências, basicamente, da China, o principal parceiro comercial de muitos países da região. Trata-se, em definitivo, da ressurreição da Doutrina Monroe, aquela relíquia do século XIX que, sob o lema “América para os americanos”, serviu em seu momento para justificar o intervencionismo de Washington no continente.

O próprio Trump reconheceu isto ontem: “Estamos com um foco grande na América do Sul”, disse, colocando palavras à evidência: a política externa estadunidense se tornou, hoje, uma sucessão de ingerências descaradas nos assuntos latino-americanos.

Basta lembrar que uma das primeiras coisas que o magnata fez ao retornar à Casa Branca foi pressionar o Panamá a cortar relações com a China. Trump chegou a ameaçar usar a força para anexar o canal, uma infraestrutura essencial para os interesses comerciais e militares dos EUA. A estratégia do republicano se mostrou eficaz: o conglomerado C.K. Hutchison, de Hong Kong, teve que se retirar dos portos que operava no país, e o Governo panamenho acabou abandonando a Iniciativa Cinturão e Rota, o programa de cooperação por meio do qual Pequim estende sua influência ao redor do mundo.

Ações hostis

Se com o Panamá as ameaças não passaram do plano retórico, com a Venezuela - aliada incondicional da China - ultrapassaram-se linhas mais preocupantes. Com a desculpa de que o regime de Nicolás Maduro facilita o tráfico de drogas, desde agosto, os EUA vêm colocando militares no Caribe e realizando bombardeios periódicos contra supostos barcos de drogas. Além disso, Trump admitiu ter autorizado ações secretas da CIA em território venezuelano para forçar a queda do Governo.

Essa estratégia tão hostil, típica dos anos da Guerra Fria, também está sendo empregada na Colômbia, que nos últimos dias viu o exército estadunidense abrir fogo em suas costas e seu presidente, Gustavo Petro, ficar sujeito a sanções da Casa Branca.

O Brasil de Lula da Silva foi mais uma vítima do intervencionismo de Trump, mas, neste caso, a pressão foi exercida pela via econômica: em julho, o presidente estadunidense anunciou tarifas de 50% como punição pelo julgamento de Jair Bolsonaro. No entanto, agora que o ex-presidente já foi condenado, tudo indica que a medida será suspensa. Não se deve esquecer que o território brasileiro concentra reservas importantes de terras raras.

Até mesmo os países mais alinhados às políticas da Casa Branca estão recebendo tratamento de quintal. El Salvador, de Nayib Bukele, tornou-se o destino dos migrantes que os EUA não querem em suas prisões, e o Equador de Daniel Noboa está considerando ceder suas bases militares ao exército estadunidense.

Não faltarão oportunidades para Trump seguir aplicando sua renovada Doutrina Monroe. A recente vitória do conservador Rodrigo Paz, na Bolívia, abrirá novas oportunidades para Washington neste antigo bastião da esquerda e, em novembro, acontecerão as eleições presidenciais do Chile, onde uma vitória da direita pode facilitar o acesso estadunidense a recursos estratégicos como o lítio.

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