11 Novembro 2025
Sessenta e dois anos, filho de pais sicilianos, nascido e criado em Brianza e adotado por Bolonha, Vito Mancuso há anos é um autor de referência para quem busca reflexões teológicas e filosóficas alternativas tanto ao cristianismo oficial quanto ao ateísmo militante. Seu novo livro, com lançamento previsto para 11 de novembro, desenvolve as premissas contidas em muitas de obras anteriores, derruba elaborações consolidadas religiosas e laicas sobre a dupla a quem o título é dedicado Jesus e Cristo (Garzanti), e sugere uma nova leitura, visando criar uma "harmonia em favor de Cristo" entre os dois. O jornal "La Lettura" contatou o autor por telefone — que encerrará a BookCity no Teatro Parenti no domingo, dia 16, com o escritor Javier Cercas — no aeroporto de Istambul, quando ele retornava de uma viagem à Turquia.
A reportagem é de Marco Ventura, publicada por La Lettura, 09-11-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Eis a entrevista.
Então, qual é a relação entre Jesus e Cristo?
Existem duas hipóteses, duas grandes tendências. Na primeira, a dos séculos de cristianismo vitorioso e dominante, Jesus é Cristo. Não há distinção. Tudo o que pertence à figura histórica pertence ao Filho de Deus, e vice-versa. Depois, com o nascimento da consciência histórica, a pesquisa histórica opôs os dois: Jesus ou Cristo.
De que lado o senhor está?
Não aceito a identificação canônica: Jesus é o Cristo. Pelo menos não naquela forma tradicional. E não aceito a oposição, Jesus ou Cristo.
O senhor se preocupa principalmente com a distinção entre os dois.
Na teologia, devemos honrar a consciência histórica. Quer queiramos ou não, todos somos filhos do método experimental e, portanto, temos o dever deontológico de nos confrontar com um fragmento histórico como foi Jesus de Nazaré e respeitá-lo em sua peculiaridade. Ao mesmo tempo, a operação que a tradição cristã realizou no passado para unir Jesus e Cristo, na medida em que se faz teologia e não apenas historiografia, deve ser reproposta. É importante distinguir para depois unir em um nível mais alto.
Que tipo de união propõe?
Se a religião — e, portanto, a teologia, que é uma reflexão sobre a religião e a espiritualidade — tem algum sentido, é precisamente o de superar o horizonte histórico, de compreender que existe uma possibilidade de salvação. Cito a passagem de Ludwig Wittgenstein várias vezes no livro: 'A resolução do enigma da vida no espaço e no tempo' está além do espaço e do tempo. Assim, a tarefa da teologia é pensar sobre esse além, mas pensá-lo respeitando o lado de cá.
Por que o livro fala de uma "harmonia em favor de Cristo"?
Mas é evidente: porque somente Cristo, por ser presença do divino em um fragmento histórico, pode salvar dessa corrente de lutos, desse grande sarcófago devorador de carne, como eu o chamo, que é a história. Daí a prevalência decisiva da Ideia, como diria Hegel, ou do Cristo cósmico, como diria Teilhard de Chardin. Até mesmo Raimon Panikkar afirma mais de uma vez em seus livros que Cristo é decididamente maior que Jesus.
O que isso significa?
Veja bem, Jesus é uma modalidade por meio da qual esse grande paradigma da comunicação de Deus com os homens, que nós chamamos de Cristo e outros chamam por outros nomes, alcançou ao Ocidente. Mas está em jogo justamente a essência do cristianismo — e, ainda mais, de toda a questão da religião e da espiritualidade — que a harmonia pode ser feita e deve ser em favor de Cristo, e não em favor de Jesus. Caso contrário, ficamos limitados ao fenômeno histórico, ao que a história entrega aos seres humanos.
O Cristo que deveria prevalecer, segundo o senhor, não é, contudo, o Cristo Redentor da tradição.
Esta é a questão central: salvação sem redenção. Ou seja, não se trata de um evento histórico que constitui um divisor de águas, antes do qual as coisas eram de um jeito e depois do qual são completamente diferentes, e no qual é preciso participar para ser salvo. Portanto, não se trata de um evento histórico no qual participar por meio dos sacramentos, do batismo e da Eucaristia, como sempre pensou a grande tradição, esse evento histórico sacrificial que mudou o curso da história, que trouxe a salvação como perdão aos seres humanos após o sacrifício da cruz.
Qual salvação, então?
Eu afirmo que o meio de salvação é a ética, é a vida boa, é a vida justa. Essa ética professada nada mais faz do que expressar uma lógica eterna, uma lógica que desde sempre inervou a existência do mundo. A salvação não é algo que acontece contra o mundo, apesar do mundo e, portanto, apesar da criação.
Não é mais, então, uma salvação por meio de Cristo?
Cristo não é aquele que salva porque ofereceu seu corpo na cruz como sacrifício, com seu sangue, com a expiação do pecado original, mas sim aquele que salva na medida em que aderimos a essa lógica eterna que desde sempre acompanha o mundo. É isso que está em jogo no meu livro.
Trata-se de uma crítica fundamental ao cristianismo.
Argumento que o cristianismo como redenção é triplamente infundado. É historicamente implausível, porque, como argumento no livro, Jesus não queria morrer. É teologicamente incompreensível, porque nenhuma teoria sobre a salvação pela cruz resiste à investigação das razões pelas quais Jesus nos teria salvados morrendo na cruz. E, por fim, é eticamente inaceitável, porque torna Deus aquele que usa Jesus para salvar os seres humanos, um instrumento de expiação, como São Paulo continua a reiterar em Romanos 3,25.
Explique melhor.
Jesus está sendo instrumentalizado, e isso é eticamente inaceitável. Desaparecem a liberdade de Jesus, a sua consciência, a sua criatividade, a sua responsabilidade; ele é simplesmente transformado em um cordeiro sacrificado. Eis o Cordeiro de Deus, a vítima sacrificada para nossa redenção. Acabei de ver os ícones da Natividade aqui na Turquia. O Menino Jesus não está em um berço, mas em um sarcófago; não está envolto em panos, mas em faixas mortuárias, precisamente para simbolizar seu destino desde o princípio.
Sua crítica tripla não deveria levar ao abandono do cristianismo? Por que falar em neocristianismo?
Na minha opinião, não há alternativa. Estou muito preocupado com a situação espiritual do Ocidente. Somos a primeira sociedade humana na história a demonstrar estar desprovida de religião, o que nos torna estranhos morais uns aos outros. O que para alguns é um direito supremo, para outros é um crime terrível. Estamos desconectados, desligados, desorientados. O que a religião sempre representou para os seres humanos é precisamente a orientação básica, em nível individual, e também sua capacidade de conectar entre si as diferentes liberdades e formar uma sociedade, um grupo não de estranhos morais, mas de sócios.
Como se chega disso ao seu neocristianismo"?
Acredito que, no Ocidente, o cristianismo tradicional já não tem mais condições de ser a cola das liberdades individuais que nos torna sócios. Ao mesmo tempo, porém, penso que nenhuma outra espiritualidade consegue sê-lo. Não creio que possamos aderir a qualquer outra religião. Penso que o Ocidente esteja sendo chamado a penetrar a fundo na sua própria tradição, a renová-la na linha daqueles teólogos em que me inspiro, como Hans Küng, Raimon Panikkar, Paul Tillich e, antes mesmo o autor de 'Sem Buda eu não poderia ser cristão'... o nome me escapa... minha esposa me ajuda: Paul Knitter. Portanto, precisamente, não por acaso Knitter não escreve: 'Basta de cristianismo', mas sim: 'Sem Buda eu não poderia ser cristão'.
O que é necessário, acima de tudo?
O cristianismo precisa de uma renovação, de um ar diferente, de honestidade — veja bem: honestidade, encarar seriamente essa tradição, sem ter nada a defender, sem querer mentir primeiro para si mesmo e depois para os outros para poder acertar as contas.
E quanto às outras religiões? Pode o cristianismo renovar-se sem que todas as religiões se renovem?
Todos devem fazer a sua parte. Agora me encontro em um país muçulmano. Não posso chegar num muçulmano e dizer: você tem que fazer isso, aquilo e mais aquilo. Isso não cabe a mim. Não posso chegar num fiel judeu e dizer: você tem que colocar de lado o que eu chamo de israelismo e, em vez disso, aceitar a profunda verdade do hebraísmo. Acho que essa é uma tarefa da consciência universal.
O que exatamente entende por consciência universal?
Ainda me lembro do dia em que me comovi ao descobrir o capítulo 125 do Livro dos Mortos do Antigo Egito, exatamente igual ao Evangelho de Mateus, mas escrito 1.500 anos antes. 'Honrei a Deus com o que ele ama. Dei comida ao faminto, bebida ao sedento, roupa ao nu e um barco a quem não o tinha’. É isso, esse é o cerne da espiritualidade universal. Daquela ética universal que faz você se sentir na presença de uma lógica do bem.
Mas assim não se reduz tudo a ética?
De modo algum. É que, partindo da ética e chegando à ética, o verdadeiro teste é a espiritualidade. Você sente justamente essa comunhão com todos os justos de todos os tempos e lugares. Acabei de visitar em Konya o mausoléu de Rumi, esse poeta sufi apaixonado pelo amor de Deus e pelo fato de que esse amor de Deus está no coração de cada ser humano. Acredito profundamente nisso e baseio todo o meu pensamento no enraizamento da espiritualidade no coração do ser humano. Não o coração como psique, mas o coração como espírito.
Seu neocristianismo é pouco histórico, pode-se dizer.
Ou o cristianismo é escatologia e soteriologia ao mesmo tempo, ou é de pouca utilidade. A força do cristianismo reside na sua capacidade de se voltar a se apresentar como teoria da salvação e como uma teoria das coisas últimas, como contato, comunhão com o eterno. Somente sob essa condição existe religião e espiritualidade. Caso contrário, tudo bem, existem muitos sábios históricos, o Jesus histórico fazia e dizia, mas não há aquela capacidade de falar à alma de quem crê. Em suma, não há especificidade da religião.
Como vê o seu papel?
Meu papel é o de 'guia dos perplexos'. É o subtítulo do meu livro publicado pela Garzanti em 2011, Io e Dio. Havia cinquenta pessoas nessa viagem à Turquia: não crentes, crentes perplexos, pessoas em busca. Eles são meus leitores. Eles não se consideram mais totalmente em conformidade com a tradição cristã, com o catecismo, em suma, com o catolicismo estabelecido, e ao mesmo tempo não se sentem dispostos a abraçar o ateísmo. Mas como eu mesmo sou assim, não é como se eu estivesse buscando uma fatia do mercado. (Ri)
O senhor está pensando em fundar uma nova igreja?
Pelo amor dos céus, estou muito longe de querer fundar uma comunidade, não digo um movimento, muito menos uma igreja, mas nem mesmo uma comunidade. Acredito que minha tarefa é oferecer a minha pesquisa honesta, quero deixar isso claro, passível de aperfeiçoamento, mas, em última análise, fazer as pessoas pensarem, meu papel é esse.
Como devemos apresentá-lo?
Eu me defino como teólogo e filósofo. Faço bastante questão da dimensão filosófica, a dimensão da dúvida, da investigação, da pesquisa. Não há instância superior à consciência, à minha consciência, à consciência humana. Acredito que, obedecendo à consciência, obedece-se ao Espírito Santo.
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