28 Agosto 2010
O pensador Raimon Panikkar (assim ele decidiu que se chamava) faleceu nesta quinta-feira em Barcelona, aos 91 anos. Havia nascido nessa mesma cidade em 1918, filho de um engenheiro hindu que ali se estabeleceu. Há um personagem de "La Regenta" de [Leopoldo Alas] Clarín que, quando chega ao cassino, sempre diz: "Do que se fala que me oponho?". Raimon Panikkar era assim: um pensamento em constante oposição.
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Também se poderia dizer que ele se opunha ao próprio fato de se opor, porque o que buscava de verdade era o diálogo, ao acordo, ao entendimento. Entre os homens, sem dúvida, mas também deles com os deuses, se acaso existirem.
A reportagem é de Francesc Arroyo, publicada no jornal El País, 27-08-2010. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Muito jovem, ele conheceu um sacerdote que então se chamava José María Escrivá: o fundador da Opus Dei. Alistou-se na ordem, e seu irmão Salvador Pániker (a diferença de sobrenomes é vontade deles) afirma que foi ele quem implantou o grupo em Barcelona, captando figuras como Valls Taverner ou López Rodó.
Fronteira do conhecimento
Panikkar estudou Química e Filosofia (esta última, provavelmente, por influência de um sacerdote chamado Ramón Roquer) e se doutorou em ambas, além de Teologia. Tanto seus estudos científicos quanto os filosóficos tentam estabelecer as fronteiras do conhecimento, para diluí-las.
Nos anos 40 e início dos 50, antes de instalar-se em Roma, primeiro, e na Índia, mais tarde, fundou a revista Arbor, vinculada ao Conselho Superior de Investigações Científicas, mas controlada por membros da Opus Dei. Era uma tentativa de abrir a filosofia espanhola a algo mais do que a religião, embora o predomínio dos pensadores católicos que tendiam a ver a filosofia como "escrava da filosofia" representou um forte obstáculo para alguns empreendimentos. Depois de Panikkar, o secretário de redação da revista seria Rafael Calvo Serer, então também membro da Opus Dei.
A atividade livre de Panikkar na índia, já ordenado sacerdote, foi muito incômoda para a Opus Dei, que acabou tirando-o de cima com maus modos, contam seus achegados, e "deixando-o jogado". O que não deixa de ser uma forma de falar para um homem de seus recursos que, após primeiros movimentos indecisos, acabaria como professor de história da religião em Harvard e em Santa Bárbara.
Nos últimos anos, havia se instalado na Catalunha, onde realizava uma tarefa de difusão de suas ideias, baseadas em um certo panteísmo e, principalmente, na vontade de diálogo intercultural e inter-religioso. Rezava missa com regularidade e era visitado por estudiosos do pensamento em seu estilo dissidente de todas as dissidências. Participava de colóquios, no rádio ou na televisão, e dirigia teses doutorais.
Se anos atrás decidiu adaptar a grafia de seu sobrenome paterno (o materno era Alemany), já aposentado na Catalunha, decidiu catalanizar o Raimundo original e convertê-lo em Raimon, como mais uma demonstração de sua vontade de integração com o entorno imediato, com a história pessoas e, por meio da individualidade, com o universo inteiro.
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Raimon Panikkar, teólogo da dissidência - Instituto Humanitas Unisinos - IHU