18 Outubro 2025
"Sabemos que estamos no caminho certo na vida se a alegria de viver e seu poder correspondente florescem dentro de nós, não no sentido de imposição, mas do despertar de todas as nossas potencialidades. Se, no entanto, percebemos nossa situação atual como impotente, significa que estamos no caminho errado e precisamos mudar."
O artigo é de Vito Mancuso, ex-professor da Universidade San Raffaele, de Milão, e da Universidade de Pádua, publicado por La Stampa, 15-10-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Eis o artigo.
O primeiro horizonte instintivo dentro do qual a mente começa a pensar não é o cognitivo com as categorias de verdadeiro e falso; nem mesmo o ético-jurídico com as categorias de certo e errado; trata-se, antes, do horizonte natural com as categorias de bom e ruim, o mesmo que aplicamos diante de uma comida ou de um cheiro. Antes de sermos uma mente que pensa e raciocina, nós somos um corpo que quer viver, somos vida que deseja subsistir e que, portanto, encontra sua lógica primária no instinto de autopreservação.
Nessa perspectiva, trata-se de perguntar se o conceito de vazio é bom ou ruim; não certo ou errado, não verdadeiro ou falso, mas bom ou ruim para a vida de cada um de nós. Em outras palavras, o que devo fazer comigo mesmo: devo me preencher ou devo me esvaziar? Devo tornar minha vida cada vez mais cheia de encontros, leituras, participações, compromissos, relacionamentos ou, ao contrário, devo esvaziá-la de tudo, perseguindo o ideal do monge zen que olha fixo para a parede e não pensa em nada exceto em sua própria respiração?
Minha resposta tende para o caminho do meio, o critério mais sábio que conheço para navegar no mar da existência. Defendido por Buda, Confúcio e Aristóteles, o caminho do meio consiste em compreender os dois extremos, com sua positividade e negatividade, e encontrar o ponto de equilíbrio entre eles. E, dessa perspectiva, defendo que não se trata de esvaziar-se completamente nem de se encher completamente, mas de ora esvaziar-se, ora encher-se, exatamente como nossos pulmões, que se enchem de ar e logo se esvaziam, para depois repetir as duas operações opostas. Fazem isso de vinte a vinte e cinco mil vezes por dia, dependendo do ritmo vital de cada indivíduo. Começaram quando nascemos, ou melhor, antes mesmo disso, no ventre materno, e cessarão no momento final de nossas vidas, com nosso último e fatídico suspiro. Não existe apenas o vazio, não existe apenas o cheio: existe o vazio que se preenche e o cheio que se esvazia. E o que vale para os pulmões também é verdade para o coração que bombeia o sangue, para o estômago e os intestinos que metabolizam os alimentos, e não pode deixar de valer também para a mente.
Aqui tocamos o cerne da questão espiritual, porque a espiritualidade tem a ver precisamente com o ar, como indica o termo latino spiritus que, antes de se referir à espiritualidade, refere-se à respiração, assim como o grego pneuma, o hebraico ruah, o sânscrito atman — todas palavras que, antes de significarem espírito no sentido de inteligência imaterial e livre, significam vento. E o vento, por um lado, enche, por outro, esvazia, como acontece com as veredas nesta estação outonal, ora cheias de folhas secas pelas rajadas de vento, ora varridas. Depende. O vento traz, o vento leva. Ele se comporta exatamente como o tempo, que "tudo tira e tudo dá", para lembrar Giordano Bruno.
Portanto, defendo que não somos feitos nem para o vazio nem para o enchimento absoluto daqueles que, segurando a Bíblia ou qualquer outro livro sagrado em suas mãos, acreditam ter encontrado a verdade. Não, nem o vazio do niilismo, nem o enchimento do dogmatismo. Somos feitos para buscar. E para buscar é preciso estar vazio, caso contrário nem sequer se começa a se mexer; mas, no entanto, é preciso também aspirar a encontrar e a se preencher, caso contrário nem sequer se começa a buscar.
O que significa que haverá momentos na vida em que precisaremos nos esvaziar, libertando-nos de todas as ideias que os outros inseriram em nós e permanecer transparentes como um vidro: vazios, precisamente, para gerar algo realmente nosso, como ensina Descartes no Discurso do Método, quando escreve que, em determinado momento da vida, para poder construir sobre uma base nossa, é preciso duvidar de tudo. Descartes não está mais na moda hoje por causa de sua visão dualista da relação mente/corpo, mas por causa desse seu desejo de autodeterminação continua sendo o pai do pensamento moderno, e nunca deixarei de lhe reservar um lugar de honra no anfiteatro da minha mente.
Voltando à questão, haverá momentos na vida em que precisaremos nos esvaziar e outras nas quais devemos nos encher, porque não fomos feitos nem para o vazio nem para o cheio, mas para a relação: para o dinamismo, o fluxo, a passagem do calor, a termodinâmica instável que constitui a vida (na mesma linha, Schrödinger define a morte como "equilíbrio termodinâmico"). Nessa perspectiva, uma relação é verdadeira e vital se faz com que nos mexamos e não nos imobiliza, preenchendo-nos completamente. Ao mesmo tempo, porém, somos feitos para absorver conteúdos (na forma de pessoas, rostos, música, histórias) com que preencher a nossa interioridade. Portanto, a tarefa fundamental em nível espiritual consiste em compreender se é hora de nos esvaziarmos e do quê, ou se é hora de nos enchermos e do quê para neutralizar o vazio e o deserto dos nossos dias.
O critério para entender se devemos nos esvaziar ou nos encher é a alegria. Espinosa ensina: "Quanto maior a alegria que experimentamos, maior a perfeição que alcançamos." Sabemos que estamos no caminho certo na vida se a alegria de viver e seu poder correspondente florescem dentro de nós, não no sentido de imposição, mas do despertar de todas as nossas potencialidades. Se, no entanto, percebemos nossa situação atual como impotente, significa que estamos no caminho errado e precisamos mudar. O critério continua sendo sempre a alegria ativa. O valor de um ser humano depende do método pelo qual ele procede na vida, e o critério pelo qual compreender que o método que está seguindo é o correto é a alegria e o poder de viver.
Concluo com uma frase de que gosto muito, que devo a Karl Jaspers, que a cita no início e no final de seu livro de 1962, "La fede filosofica a confronto con la rivelazione cristiana", atribuindo-a a um autor medieval anônimo. Na realidade, o autor não é anônimo nem medieval, mas um intelectual do final do século XV, Martinus von Biberach, cujos ossos estão sepultados na Catedral de Heilbronn. E é justamente em sua lápide que está gravada a frase citada por Jaspers: "Venho, não sei de onde. Sou, não sei quem. Morro, não sei quando. Vou, não sei para onde. Estou surpreso por ser feliz". Essa frase captura perfeitamente o resultado do caminho espiritual de um ser humano às voltas com o vazio e o cheio do ser, pois Martinus conseguiu ter a mente completamente vazia de respostas ("não sei"), mas cheia de perguntas cuja importância e natureza ele conhecia (a origem, a identidade, o fim, o destino). E essa busca, que o levara a eliminar as respostas alheias, mas a manter a inquietação das perguntas, acabou por levá-lo a ser feliz, com aquela alegria combinada com o deslumbramento que é a marca da vida autêntica.
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