04 Novembro 2025
Estes são dias de alegria para a direita clerical, especialmente estadunidense e trumpiana. O que primeiro provocou a exaltação dos conservadores e tradicionalistas foi o retorno da Missa em latim à Basílica de São Pedro. O evento, decididamente clamoroso — após a morte de Francisco —, foi celebrado no sábado, 25 de outubro, e o antigo rito foi presidido pelo Cardeal Raymond Leo Burke, estadunidense. Ou seja, o opositor mais ferrenho de Bergoglio dentro da Igreja nos últimos quinze anos (seu ex-gêmeo, Dom Carlo Maria Viganò, foi excomungado e expulso).
A reportagem é de Fabrizio D'Esposito, publicada por il Fatto Quotidiano, 03-11-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Já escrevemos sobre Burke diversas vezes, e convém lembrar que ele chegou a definir Francisco como o Anticristo do Apocalipse. Teórico da conspiração, apoiador de Trump e ferrenho antivacina, o cardeal, ex-patrono da riquíssima Ordem de Malta, depois adoeceu gravemente de Covid-19: desde então, não mencionou mais a farsa das vacinas com microchips. Residente em Roma, Francisco acabou por tirar dele o luxuoso apartamento de mais de quatrocentos metros quadrados, em comodato gratuito, na zona de São Pedro.
Gostemos ou não, o clima no Vaticano hoje, sob o papa estadunidense Leão XIV, mudou: Prevost é um papa que quer unir, não dividir, e por isso também recebeu Burke antes do retorno da Missa em latim à Basílica de São Pedro.
O que também agradou a direita clerical foi o aspecto religioso da visita de J.D. Vance a Israel na segunda quinzena de outubro. O vice-presidente foi aclamado como um "verdadeiro católico" pela rede tradicionalista por se recusar a beijar o Muro das Lamentações em Jerusalém, uma tradição geralmente repetida com papas, reis e chefes de Estado. Em contrapartida, Vance visitou a Igreja do Santo Sepulcro, ajoelhando-se tanto diante do buraco onde a cruz de Jesus foi fincada quanto diante da lápide de mármore que cobre o local onde o Messias foi sepultado.
Considerado o menos pró-Israel do governo de Donald Trump, a recusa de Vance de beijar o Muro das Lamentações evidencia a ruptura no chamado universo "MAGA" (Make America Great Again) entre pró-sionistas e antissionistas, uma divisão que emergiu com o genocídio em Gaza. Para os católicos tradicionalistas, o pano de fundo é obviamente o secular preconceito contra o povo judeu, considerado culpado de deicídio. Uma acusação que o Vaticano, sob Paulo VI, arquivou exatamente 60 anos atrás, em 28-10-1965, com a Nostra Aetate, a Declaração sobre as Relações da Igreja com as Religiões não cristãs, onde, além de elaborar "Pela primeira vez na história da Igreja, temos um texto doutrinal com uma base teológica explícita que ilustra as raízes judaicas do cristianismo a partir de uma boa fundamentação bíblica" (comunicado da Santa Sé de 28 de outubro), esclarece que "ainda que as autoridades dos judeus e os seus sequazes urgiram a condenação de Cristo à morte não se pode, todavia, imputar indistintamente a todos os judeus que então viviam, nem aos judeus do nosso tempo, o que na Sua paixão se perpetrou".
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