23 Outubro 2025
A viagem e a oração compartilhada estavam planejadas para abril passado, mas a morte de Francisco interrompeu todos os planos. Aliás, Charles e Camilla estavam entre os últimos líderes a se encontrar com Bergoglio. Agora, o encontro é retomado seis meses após a morte do pontífice argentino, e com diversas notícias no horizonte.
A reportagem é de Jesus Bastante, publicada por Religión Digital, 23-10-2025.
Nesta quinta-feira, às 12h10, a Capela Sistina sediará um culto ecumênico muito especial. Pela primeira vez desde pelo menos 1534, os líderes da Igreja Católica e da Comunhão Anglicana, Leão XIV e o Rei Charles III da Inglaterra, rezarão juntos. E o farão em um momento tremendamente especial: em meio ao Jubileu da Esperança, com um claro componente ecumênico.
A viagem e a oração compartilhada estavam planejadas para abril passado, mas a morte de Francisco interrompeu todos os planos. De fato, Charles e Camilla estavam entre os últimos líderes a se encontrarem com Bergoglio. Agora, o encontro é retomado seis meses após a morte do pontífice argentino, e com diversas notícias no horizonte. Juntamente com a reivindicação da jornada ecumênica empreendida nos últimos anos e o décimo aniversário da Laudato Si' (a oração ecumênica será oficialmente oferecida "pelo cuidado da Criação"), duas circunstâncias acrescentam significado ao encontro.
Primeiro, a proclamação, em 1º de novembro, de John Henry Newmann, um anglicano convertido ao catolicismo e promotor da unidade entre as duas denominações cristãs, como Doutor da Igreja. Por outro lado, a nomeação, pela primeira vez na história, de uma mulher, Sarah Mullllally, como Arcebispa de Canterbury, a mais alta autoridade religiosa (o título de Defensor da Fé, detido pelo rei da Inglaterra, é mais cerimonial do que real), o que escandalizou boa parte da Comunhão Anglicana (majoritariamente africana), o que ameaçou um novo cisma que dividiria em duas a Igreja fundada por Henrique VIII.
Nesse sentido, o encontro também é interpretado como um apoio velado do Papa ao líder da Igreja da Inglaterra, em meio ao que pode ser a maior cisão entre os anglicanos em meio milênio. A liturgia será presidida pelo Papa Leão XIV e pelo Arcebispo de York, Stephen Cottrell, na Capela Sistina, com o tema "cuidar da nossa casa comum".
Este acontecimento é inédito desde a Reforma Anglicana, quando em 1534 o então rei britânico Henrique VIII rompeu com Roma após uma tentativa frustrada de anular seu casamento com Catarina de Aragão, algo com que o Papa Clemente VII não concordou, levando-o a se autoproclamar chefe supremo da Igreja da Inglaterra, lembra a Efe.
Desde então, não há registro de um monarca britânico que tenha compartilhado um momento de oração em um dos locais cristãos mais importantes, onde o Papa Leão XIV foi eleito sucessor de Pedro em 8 de maio.
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