Virada em Canterbury: Uma arcebispa lidera a Igreja Anglicana

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06 Outubro 2025

Foram necessários 1.428 anos desde que Santo Agostinho, o "Apóstolo dos Ingleses" enviado pelo Papa Gregório Magno para converter os anglo-saxões ao cristianismo, tornou-se o primeiro Arcebispo de Canterbury em 597.

A reportagem é de Antonello Guerrera, publicada por la Repubblica, 04-10-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.

Desde então, seus sucessores, hoje os líderes espirituais da Igreja da Inglaterra após o cisma de Henrique VIII, foram todos homens. Até ontem. Quando Sarah Mullally, 63 anos, ex-membro da Câmara dos Lordes, fez história ao se tornar a primeira mulher Arcebispa de Canterbury.

Com a "bênção" do Rei Charles, líder institucional da Igreja da Inglaterra. Mas, mais cedo ou mais tarde, isso tinha que acontecer. Os anglicanos são muito mais liberais do que os católicos: repudiaram o Papa, podem se casar e ter filhos como Mullally (dois), podem ser abertamente homossexuais e a ordem religiosa coloca em pé de igualdade homens e mulheres. Que, na Igreja da Inglaterra, tiveram a "permissão" de se tornarem sacerdotes em 1994, para depois serem nomeadas bispas vinte anos depois. Agora, após mais uma década e, na 106ª tentativa, as mulheres na Igreja da Inglaterra atingiram o zênite da pirâmide religiosa. O Rei Charles se alegra — "Estou muito satisfeito por ter sido atribuída a ela tal responsabilidade" — e o mesmo acontece com o primeiro ministro Keir Starmer: "Estou ansioso para trabalhar com ela". No entanto, até alguns meses atrás, Mullally jurava que nunca se tornaria Arcebispa de Canterbury.

Nascida em Woking em 1962, Sarah se tornou cristã aos 16 anos. Antes da ordenação, ela trabalhou no sistema público de saúde britânico, "uma oportunidade para refletir sobre o amor de Deus". Especializou-se como enfermeira oncológica e, aos 37 anos (a pessoa mais jovem de todos os tempos), tornou-se Diretora de Enfermagem, ou seja, representante do governo Blair para o setor. Um empenho incansável, pelo qual Mullally recebeu a honraria de "Dama Comandante da Ordem do Império Britânico". Ordenada em 2001, mudou-se para a Diocese de Southwark de Londres, e depois para Salisbury e Exeter. Mas, como Mullally é mulher de recordes, em 12-05-2018 tornou-se a primeira mulher a ser bispa da Catedral de São Paulo. A mesma do lendário casamento entre Lady Diana e o então Príncipe Charles.

A nomeação de Mullally como líder espiritual da Igreja da Inglaterra ocorreu um dia após o trágico ataque antissemita a uma mesquita de Manchester: "Um ato horrendo de violência. O ódio e o racismo não conseguirão nos dividir", declarou ela, acrescentando: "Estou feliz por estar aqui representando as mulheres. Em uma era de tribalismo, o anglicanismo oferece uma solução mais comedida, mas também mais forte”.

Mullally apoia casais homossexuais e os direitos LGBTQIA+. Mas não os casamentos, assim como sempre lutou contra o suicídio assistido, que o Parlamento de Westminster poderá aprovar em breve.

A nomeação de Mullally ocorre após a renúncia, em novembro de 2024, de Justin Welby, acusado de ignorar os escândalos de pedofilia e os abusos sexuais em série de um amigo. Welby sempre afirmou que desconhecia os crimes cometidos por John Smyth, um advogado que dirigia acampamentos para jovens ligados à Igreja da Inglaterra. Mas sua posição logo se tornou insustentável e, finalmente, há um ano, ele renunciou: "Sinto uma profunda vergonha." Agora uma nova direção para a Igreja da Inglaterra, finalmente com uma mulher no comando. Embora algumas vítimas de abuso sexual também acusem Mullally de ter feito pouco contra os escândalos no passado.

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