Cuidados intensivos para o planeta na COP30

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23 Outubro 2025

Quando alguém que amamos está entre a vida e a morte, nos preocupamos, agimos e nos importamos. Não poupamos esforços nem nos dedicamos. Mas e a Terra? Estamos deixando-a morrer ou estamos fazendo algo para sua rápida recuperação?

A informação é de Alejandra López Carbajal, María del Pilar Bueno e Natalie Unterstell, publicada por El País, 21-10-2025.

"Se o planeta fosse um paciente, estaria em tratamento intensivo", foram as declarações da Organização Mundial da Saúde no ano passado em resposta ao agravamento contínuo das perturbações nos ecossistemas. Quando alguém que amamos está entre a vida e a morte, nos preocupamos, agimos e nos importamos. Não poupamos esforços nem nos dedicamos. Mas e a Terra? Estamos deixando-a morrer ou estamos fazendo algo para sua rápida recuperação?

Os sintomas são claros: 2024 foi o ano mais quente da história recente, causando ondas de calor sem precedentes na Europa, secas prolongadas no México e no Chile e mortes de populações vulneráveis, como idosos, mulheres e crianças, colocando em risco sistemas de saúde em diferentes latitudes. Em nível global, é como se o planeta tivesse atingido uma temperatura corporal de 40 graus. Isso é sério e precisamos agir rapidamente.

Mas se fosse apenas uma febre, poderíamos nos tratar em casa. Infelizmente, o corpo da Terra está falhando em vários sistemas. O nível do mar está subindo, a ponto de Tuvalu, um estado do Pacífico Sul, já estar negociando a realocação de toda a sua população, pois seu território desaparecerá sob o mar antes do final do século. Esse sintoma afeta e continuará afetando a infraestrutura marinha e terrestre em todo o mundo devido à elevação do nível do mar, que pode subir 0,5 metro e levar à inundação de 3 milhões de edifícios no Sul Global até o final do século.

Quando uma pessoa está doente, é extremamente importante manter uma dieta equilibrada para fortalecer o sistema imunológico, mas nossos sistemas alimentares, incluindo alimentos básicos da nossa cultura culinária, como arroz, milho, trigo, cevada e café, exigem um clima estável para sua produção. Secas prolongadas e ondas de calor, além de inundações causadas por furacões e tempestades cada vez mais fortes e frequentes, ameaçam diretamente a existência desses produtos tão importantes e próximos de nós. Você consegue imaginar ir ao mercado e não conseguir comprar café, tomate, milho ou batata? Nosso sistema imunológico global está ameaçado.

A unidade de terapia intensiva simbólica onde o planeta doente será tratado será a COP30. A cúpula do clima no Brasil, que ocorrerá em poucas semanas, deve prescrever o remédio para a mudança radical e sistêmica necessária para nos adaptarmos e construirmos resiliência a esses impactos, bem como fortalecer uma nova geração de compromissos climáticos (NDCs), que ainda estão longe de ser a cura para a febre planetária.

Como seria essa receita para adaptação e resiliência?

Preparação. Devemos encarar a adaptação como uma oportunidade de nos prepararmos para o novo mundo que já estamos vivenciando e cujas mudanças ainda mais substanciais as gerações presentes e futuras vivenciarão. Para tanto, a COP30 deve adotar indicadores para mensurar e monitorar o progresso na implementação do Objetivo Global de Adaptação – ou seja, a resposta coletiva aos impactos e riscos ao acesso à água potável, às crescentes ameaças à saúde e à exposição dos sistemas alimentares, entre outros.

Financiamento. Devemos financiar a resiliência com a mesma seriedade com que financiamos outras áreas de desenvolvimento. Isso implica aprovar uma meta financeira de cerca de US$ 120 bilhões anuais em Belém, exclusivamente para adaptação no Sul Global, já que as mudanças climáticas têm o maior impacto no mundo em desenvolvimento.

Desenvolvimento. Devemos garantir que o planejamento do desenvolvimento futuro, incluindo a forma como os fluxos de financiamento público e privado, nacional e internacional, coletivo e individual são concebidos e investidos, seja concebido para um mundo que exige resiliência. Isso inclui deixar de investir em infraestrutura que não seja resiliente e que corra o risco de se tornar um ativo encalhado no futuro, expondo-se a novos impactos e exacerbando sua própria vulnerabilidade com base em como for projetada e construída.

A adaptação, no entanto, pode se tornar ineficaz se não for apoiada por medidas sistêmicas que abordem as causas da crise climática. Em outras palavras, o problema subjacente são os modelos de consumo e produção, o vício em combustíveis fósseis e a incapacidade de fortalecer a relação entre meio ambiente e desenvolvimento, que hoje também é a relação entre adaptação e desenvolvimento. Para isso, precisamos chegar ao Brasil este ano com a entrega dos compromissos climáticos de todos os países do mundo. No momento em que escrevo esta coluna, 69 governos anunciaram seus compromissos, mas a soma deles não é suficiente para controlar o aquecimento global a 1,5°C até 2030. É essencial que nesta COP a receita para a recuperação do planeta inclua como atacamos a doença e como todos os governos redobrem seus esforços para baixar a febre do nosso planeta.

A COP30, que será realizada na América Latina, precisa unificar vozes e elevar a justiça climática. Ainda temos tempo, mas a janela está se fechando. Não deixemos a Terra morrer.

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