15 Outubro 2025
Se hoje um apoiador de Trump, com seu ridículo boné enterrado na cabeça, vem nos dizer: e vocês, antes dele, o quem fizeram de concreto pela paz no Oriente Médio e pela paz em geral? É difícil encontrar uma resposta decente. A prepotência de nossos dias é também filha da impotência que a precedeu.
O artigo é de Michele Serra, jornalista, publicado por la Repubblica, 14-10-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Eis o artigo.
Se você tem dinheiro, pode comprar a paz, porque a paz, como tudo o mais, é uma mercadoria. Encontraremos uma maneira de cotá-la na Bolsa. Se, além do dinheiro, você também tem o Deus da Bíblia ao seu lado (quem se importa com os outros), você não é apenas rico, mas também está do lado certo. Esse é o meu resumo do discurso de Trump no Knesset. Um resumo brutal e talvez até tendencioso, eu sei, mas não poderia colocá-lo de outra forma.
Já foi dito: a paz de Trump é bem-vinda, se trouxer um pouco de conforto ao povo de Gaza e do Oriente Médio em geral. É correto dizê-lo, é correto pensá-lo. Nem a arrogância escandalosa com que o valentão atualmente no comando do Ocidente incensa a si mesmo basta para apagar seu inegável momento de triunfo: a interrupção da carnificina traz sua assinatura.
E a memória retorna ao nada, ou quase nada, que precedeu, nas décadas, essa horrível guerra e essa aparência de paz. A memória retorna aos democratas estadunidenses (e europeus: apenas um nome, Blair) no momento em que o jogo estava em suas mãos.
E, com exceção de um maravilhoso discurso de Obama no Cairo em 2009, dirigida ao mundo muçulmano ("Enquanto nossas relações forem definidas por nossas diferenças, daremos mais poder àqueles que buscam o ódio em vez da paz"), digam-me que medidas políticas concretas, que gestos de desarmamento, que mudanças estruturais para um mundo de paz levam a assinatura dos democratas.
Se hoje um apoiador de Trump, com seu ridículo boné enterrado na cabeça, vem nos dizer: e vocês, antes dele, o quem fizeram de concreto pela paz no Oriente Médio e pela paz em geral? É difícil encontrar uma resposta decente. A prepotência de nossos dias é também filha da impotência que a precedeu.
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