Os familiares dos reféns: "Netanyahu trai a memória do 7 de outubro". Artigo de Davide Lerner

Benjamin Netanyahu | Foto: Anadolu Ajansi

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09 Outubro 2025

"Assim como Kalderon e todos os outros familiares, para Machikawa o segundo aniversário do 7 de outubro é um momento de cerimônias. Na noite de segunda-feira, ela foi ao cemitério de Nir Oz, no vilarejo ainda destruído e desabitado", escreve Davide Lerner, jornalista italiano que cobre Israel, os territórios palestinos e a Turquia, em artigo publicado por Domani, 08-10-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.

Eis o artigo.

Nissan Kalderon e Efrat Machikawa, cujos parentes foram sequestrados pelo Hamas, conversam com o Domani. "O primeiro-ministro nunca abriu um canal com as famílias. Mas os caças israelenses continuam a bombardear a Faixa." A mensagem de Mattarella: "A condenação de Israel não diminui o horror da brutal ação do Hamas."

"Dois anos, é inacreditável. Dois anos de guerra. O governo israelense nos traiu", diz Nissan Kalderon, 57, morador do Kibutz Sufa, a poucos passos da cidade destruída de Rafah, no sul da Faixa de Gaza. Seu irmão, Ofer Kalderon, foi sequestrado do Kibutz Nir Oz em 7 de outubro, junto com seus dois filhos, Saar e Erez. Nos túneis, encontrou duas vezes Yahya Sinwar, o arquiteto do ataque de 7 de outubro: "Olha, eu não sou uma má pessoa", teria lhe dito o líder do Hamas, segundo o que relatou aos parentes. "Eu só quero terras para o meu povo".

As duas crianças retornaram durante a primeira troca, em novembro de 2023, após 52 dias, enquanto Ofer retornou no início de 2025, após 484. "Eles mentiram para nós: disseram: 'Não se preocupem, o Hamas não quer guerra. Não se preocupem, vocês podem dormir tranquilos. E nós acreditamos", diz Kalderon, que escapou de um ataque dos milicianos à sua casa naquela manhã.

Ele fala ao telefone antes de entrar no carro em direção a Tel Aviv, onde ontem à noite, no Parque Hayarkon, foi realizada uma grande cerimônia para marcar o segundo aniversário do 7 de outubro, organizada pelo movimento pela libertação dos reféns.

A gafe de Netanyahu

"Dois anos depois, 48 ainda estão lá, 48 e não 46", diz ele, referindo-se à gafe de Netanyahu, que em uma entrevista, declarou incorretamente o número dos reféns ainda mantidos em Gaza. Kalderon, agricultor de profissão, conta que ainda vive como deslocado porque o barulho da guerra em Sufa é ensurdecedor. E ele afirma que justamente aquele barulho demonstra como Bibi não tem a atitude correta para garantir o sucesso das negociações com o Hamas no Egito.

"Mesmo que agora digam que querem chegar a um acordo, desde a manhã estou ouvindo aviões e helicópteros israelenses bombardeando a Faixa de Gaza", conta ele, criticando Netanyahu. "Mesmo que digam que querem um cessar-fogo, isso não está acontecendo. Hoje é um dia realmente difícil."

Como quase todos no movimento pela libertação dos reféns, Kalderon se ressente de Netanyahu por não ter aberto um verdadeiro canal de diálogo com as famílias durante a guerra.

Kalderon conta que se encontrou com Emmanuel Macron quatro vezes, graças à cidadania francesa de seu irmão. "Netanyahu, ao contrário, nunca nos procurou", diz ele. "Ele nos abandonou em 7 de outubro, enviando as tropas para a Cisjordânia para proteger os colonos e deixando Gaza desguarnecida. E depois sacrificando os reféns para sua própria conveniência política. Se algo está acontecendo hoje, é apenas graças a Trump", conclui.

Também, Efrat Machikawa, da sua mesma idade, que ainda aguarda os amigos sequestrados do Kibutz Nir Oz, diz que se sente traída por Netanyahu. "Até vermos os reféns novamente, não acredito nem em Bibi nem no outro lado, só acredito no presidente Trump", diz a professora universitária, especialista em negociações internacionais e coexistência e ex-adida cultural israelense no Japão. Seis de seus parentes foram sequestrados: uma foi morta, quatro retornaram em novembro e o último, Gadi Moses, o refém sobrevivente mais idoso, retornou no último acordo, em fevereiro passado, após 482 dias.

Machikawa faz questão de ressaltar que está preocupada com a transformação na opinião pública italiana e como a violência de Netanyahu em Gaza, em sua opinião, corre o risco de fazer a Itália esquecer o sofrimento sofrido por seu povo em Israel. "O grupo de pessoas ao qual pertenço, familiares dos reféns e outros israelenses preocupados, faz apelo pela paz e pela humanidade desde o início; já nos primeiros meses, tentamos levar medicamentos para Gaza", afirma. "Vemos, sentimos a dor; os italianos podem estar contra Netanyahu, mas não devem estar contra nós", afirma.

As palavras do presidente

Na terça-feira, o que a reconfortou foi a mensagem do Presidente da República, Sergio Mattarella. "O 7 de outubro de 2023 permanece e permanecerá em nossas consciências como uma página torpe da história: um vil ataque terrorista que ocorreu contra cidadãos israelenses indefesos, causando graves danos à causa da paz e da segurança mútua na Palestina", disse ele. O que acontece em Gaza, continuou ele, não "atenua o horror e a condenação pela violência horrível e brutal cometida naquele dia pelo Hamas", uma violência que "nos convoca ao dever de uma condenação eterna, rejeitando um complacente e cínico modo de pensar que remove a infâmia daquele dia".

Assim como Kalderon e todos os outros familiares, para Machikawa o segundo aniversário do 7 de outubro é um momento de cerimônias. Na noite de segunda-feira, ela foi ao cemitério de Nir Oz, no vilarejo ainda destruído e desabitado. Na noite passada, ela foi a Kyriat Gat, onde toda a comunidade está deslocada, para outra reunião comemorativa. Segundo Machikawa, Bibi poderia ter salvado 42 israelenses que morreram em cativeiro em Gaza se tivesse chegado a um acordo com o Hamas mais rapidamente. "Netanyahu também é responsável pelo fato de ninguém ter intervindo em Nir Oz", diz ele. "O vilarejo foi completamente conquistado por terroristas durante dez horas. E quando o exército chegou, não havia mais ninguém. Levaram tudo. Queimaram tudo. Destruíram tudo. Nir Oz, não sei se você já esteve lá, parece um inferno."

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